Os jesuítas são sacerdotes católicos pertencentes à Companhia de Jesus. Durante a colonização, eles catequizaram povos indígenas e fundaram diversas cidades no Brasil.
Jesuítas é a forma pela qual os membros da Companhia de Jesus, uma ordem da Igreja Católica, passaram a ser conhecidos. A ordem foi criada na época da Reforma Protestante e foi responsável por levar a fé católica para os lugares recém-descobertos, como América, África e Ásia.
Os jesuítas chegaram ao Brasil 49 anos após a expedição de Cabral e passaram a atuar em diversas cidades. No nosso país, eles eram responsáveis pela catequese e educação dos indígenas e dos filhos dos colonos. Eles construíram diversas missões no Brasil e nelas desenvolveram as mais variadas atividades econômicas, como a pecuária, agricultura, produção de açúcar, entre outras.
Após atritos com os colonos brasileiros e com a Coroa portuguesa, os jesuítas foram expulsos do Brasil, retornando para cá quase um século depois. Hoje a Companhia de Jesus é mantenedora de diversos colégios e universidades no Brasil.
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Os jesuítas eram os membros da Companhia de Jesus, uma ordem pertencente à Igreja Católica, fundada em 1534 por Inácio de Loyola. Em 1549 os primeiros jesuítas chegaram ao Brasil com o objetivo de levar a fé católica para as populações nativas do território lusitano.
Para catequizar os indígenas, os padres jesuítas construíam aldeias jesuíticas, chamadas por eles de missões. Nessas missões, além da fé, os indígenas desenvolviam diversas atividades econômicas, e o lucro ficava com a missão e com a Companhia de Jesus.
Com o passar do tempo, iniciou-se um conflito entre os jesuítas, que queriam manter os indígenas nas missões para que se tornassem católicos; e os colonos, que queriam utilizar os indígenas como mão de obra escravizada. Por quase um século, os jesuítas se ausentaram do Brasil por determinação real, retornando ao nosso país no século XIX e se mantendo até hoje.
Atualmente os jesuítas possuem diversos colégios, hospitais, orfanatos e outras instituições assistencialistas no Brasil e em diversos países. Em março de 2013, um conclave da Igreja Católica escolheu o cardeal Jorge Mario Bergoglio para ser o novo papa. Ele escolheu ser chamado de Francisco I e se tornou o primeiro papa pertencente à ordem dos jesuítas.
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Os jesuítas surgiram no contexto da Reforma Protestante. Em 1517, o monge católico Martinho Lutero pregou na porta da Igreja de Wittenberg 95 teses que criticavam a Igreja Católica, sobretudo a venda de indulgências. O fato é considerado o marco de início da Reforma Protestante, que ganhou força inicialmente no Norte da Alemanha e, depois, no Norte da Europa e na Grã-Bretanha.
A Reforma Protestante se alastrou rapidamente, com a Igreja Católica perdendo cada vez mais fiéis para as novas igrejas reformadoras. Como resposta à Reforma Protestante, a Igreja Católica fez sua própria reforma, chamada de Reforma Católica ou, ainda, de Contrarreforma. Nesta, a igreja buscou meios de evitar perder novos fiéis e de expandir a fé católica para outras regiões, fora da Europa.
Também foi no contexto inicial da Expansão Marítima que a ordem dos jesuítas foi criada. Nesse momento, Portugal e Espanha estavam descobrindo boa parte das terras emersas do mundo. O expansionismo ibérico foi motivado por questões econômicas, a busca pelas especiarias do Oriente, mas também por questões religiosas: a luta contra os infiéis muçulmanos, numa espécie de cruzada moderna, e contra os reformistas.
Foi nesse contexto de Reforma Protestante, Reforma Católica e Expansão Marítima que a Companhia de Jesus foi fundada, em 1534, por Inácio de Loyola.
O nome “companhia” remete a uma organização militar, e é mais ou menos dessa forma que a ordem se organizava hierarquicamente. Todos os membros da ordem deveriam fazer voto de pobreza, de castidade e de obediência. Atualmente existe o voto de total obediência ao papa.
Apesar da hierarquia, os jesuítas contavam com bastante autonomia no período colonial para criar e administrar as missões, isso se dava principalmente pela dificuldade em manter a comunicação com regiões distantes e isoladas. Essa autonomia permitiu que os jesuítas agissem de formas diferentes em cada região do globo, adaptando a catequese aos costumes locais.
No Brasil, os primeiros estudos e dicionários de línguas indígenas foram produzidos pelos jesuítas. Estudos como esses eram feitos para facilitar a catequização.
Logo após ser reconhecida pela Igreja Católica, em 1540, a Companhia de Jesus chegou a diversos lugares da Europa, como Espanha, Portugal e Alemanha. Nesses locais, a ordem construiu colégios e hospitais. Na Alemanha, os jesuítas conseguiram frear o avanço da reforma no sul, mantendo os reinos dessa região com considerável número de católicos. Em Portugal e Espanha, a companhia recebeu incentivo estatal, o que fez com que a ordem crescesse rapidamente nesses países.
Em 1547, os jesuítas construíram os primeiros colégios no Congo; em 1548, jesuítas foram enviados para Molucas, Marrocos e para a Índia; em 1549, foram enviados ao Brasil e ao Japão; e, em 1552, eles chegaram à China.
Os primeiros jesuítas chegaram no Brasil em 1549, com a expedição do primeiro governador-geral do Brasil, Tomé de Sousa. Inicialmente os jesuítas foram liderados em terras brasileiras pelo padre Manoel da Nóbrega.
Por aqui os jesuítas criaram diversas missões, nas quais os indígenas aprendiam o catolicismo, português, latim e diversas atividades profissionais e artísticas. No final do primeiro século de colonização, os jesuítas haviam criado diversas missões no litoral brasileiro, de Santa Catarina até o Ceará.
Diversas missões também foram construídas na Amazônia, tendo o Rio Amazonas como rota de penetração para o interior. A ocupação da região amazônica pelos jesuítas foi de suma importância para que a região passasse para Portugal em 1750, com a assinatura do Tratado de Madri.
Em São Paulo, Manoel da Nóbrega e Padre Anchieta criaram uma dúzia de missões, entre elas as de São Paulo do Piratininga, Carapicuíba, Barueri e Pinheiros. Muitas das missões criadas no Brasil formaram povoados que deram origem a diversas cidades. São Paulo, por exemplo, foi construída ao redor da missão jesuítica fundada em 25 de janeiro de 1554.
Ainda hoje na região próximo à Praça da Sé, existe o Pátio do Colégio, onde os jesuítas fundaram o primeiro colégio no planalto. Além de São Paulo, os jesuítas tiveram participação na fundação de cidades como São Borja; Santo Ângelo; Viçosa, no Ceará, entre outras.
As aldeias jesuíticas eram geralmente divididas em três partes. A primeira era destinada à igreja, maior construção do local, geralmente com um pátio na sua frente, onde aconteciam diferentes cerimônias e festas. A segunda parte era o local das casas, onde os indígenas viviam. A terceira era composta por oficinas e outras áreas de trabalho, onde os indígenas realizavam diferentes tarefas.
No Brasil, os jesuítas foram grandes proprietários rurais e desenvolveram diversas atividades econômicas. A Companhia de Jesus possuiu diversos engenhos de açúcar no período colonial.
A relação entre jesuítas e colonos foi, muitas vezes, conflituosa. Em São Paulo, em 1640, a população invadiu o colégio jesuíta e expulsou os padres, escoltando-os até Santos, onde a Câmara apoiou os colonos e obrigou os jesuítas a deixarem a província de São Vicente. Os padres rumaram para o Rio de Janeiro.
O motivo da expulsão foi a divulgação de uma bula papal que proibia a escravidão dos indígenas. Boa parte dos colonos de São Vicente possuía escravos indígenas ou vivia da comercialização deles. Os jesuítas só voltaram para São Paulo em 1653, mas, antes, se comprometeram a não interferirem na escravidão indígena na região. Em 1661, os jesuítas também foram expulsos do Grão-Pará e do Maranhão por motivos semelhantes aos da expulsão de São Paulo.
No século XVIII, Portugal passou por um processo de centralização política durante o governo de Dom José I. Durante seu reinado, Sebastião José de Carvalho e Melo, futuramente conhecido como Marquês de Pombal, teve grande influência sobre o rei. Pombal acusou os jesuítas de criarem um Estado paralelo em Portugal e em suas colônias, de desobedecer a ordens reais e de entrar em conflito contra Portugal nas Guerras Guaraníticas.
Em setembro de 1759, Dom José I decretou a expulsão da Companhia de Jesus de Portugal e de todas as suas possessões, inclusive do Brasil. A expulsão dos jesuítas, além da questão política, também envolveu questões econômicas — o decreto real de expulsão dos padres determinou que todas as terras, os imóveis e os bens da Companhia de Jesus fossem expropriados e passassem para o Estado português.
Em 1773, sofrendo pressões do rei Espanhol, o papa Clemente XIV decretou a supressão da Companhia de Jesus. Nessa época, a ordem tinha aproximadamente 23 mil membros. Os jesuítas continuaram a existir em regiões protestantes da Europa e na Rússia, onde os czares ignoraram o decreto de supressão da ordem. Em 1814, o papa Pio VII anulou o decreto de 1773, e os jesuítas voltaram a ser reconhecidos pela Igreja Católica.
Desde o primeiro século de colonização, padres jesuítas espanhóis e portugueses construíram missões na zona de fronteira entre os dois reinos na América segundo o Tratado de Tordesilhas. Dessa forma, eles mantinham os indígenas longe da colonização e da escravidão.
No século XVIII, bandeirantes portugueses chegaram à região fronteiriça no sul do nosso atual território, conhecida como Sete Povos das Missões, e os conflitos entre jesuítas e espanhóis se iniciaram. Os jesuítas almejavam manter os indígenas nas missões, enquanto os bandeirantes buscavam capturá-los e vendê-los como escravos.
Em 1750, Portugal e Espanha assinaram o Tratado de Madri, que redefiniu as fronteiras entre os dois reinos europeus na América. Pelo tratado, parte da região das Sete Povos das Missões passaria para as mãos dos portugueses, e os indígenas e jesuítas que viviam nas missões dessa região deveriam migrar para as terras espanholas.
Muitos indígenas se recusaram a deixar suas missões, e, em 1753, uma guerra se iniciou entre os guarani e as tropas portuguesas e espanholas. Após forte resistência, os indígenas foram derrotados, em 1756. Três anos depois, os jesuítas foram expulsos do Brasil, acusados, entre outras coisas, de apoiar os guaranis no conflito.
Nasceu em Portugal, em 1517, filho de um desembargador e sobrinho do chanceler-mor do reino. Sofria de disfemia, popularmente chamada de gagueira, o que o impediu de se tornar professor na Universidade de Coimbra, onde estudou. Em 1544, foi ordenado na Companhia de Jesus, cinco anos depois, foi escolhido pelo rei português para chefiar o primeiro grupo de jesuítas enviados ao Brasil.
Manuel da Nóbrega permaneceu no Brasil até a sua morte, em 1570. Ele participou da fundação de três importantes cidades do Brasil: Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo.
Nasceu na Ilha de Tenerife, em 1534, sendo batizado em 7 de abril de 1534. Sua certidão de batismo ainda se encontra no arquivo da igreja em Tenerife. Com 14 anos, Anchieta se mudou para Coimbra, em Portugal, onde estudou. Em 1551, ele ingressou na Companhia de Jesus e, em 1553, chegou ao Brasil.
Anchieta viajou por diversas cidades do Brasil e foi um dos fundadores de São Paulo e do Rio de Janeiro. Foi o primeiro a escrever uma gramática do tupi, e escreveu diversos poemas e peças teatrais. Faleceu em 1597, na atual cidade de Anchieta, no Espírito Santo. Em 1980 ele foi beatificado pelo papa João Paulo II, e, em 2014, o papa Francisco I assinou o decreto de canonização de Anchieta, considerado então um santo da Igreja Católica.
Nasceu em Lisboa, em 1608. Chegou ainda bebê ao Brasil quando o pai veio trabalhar na então capital, Salvador, como escrivão no tribunal da cidade. Ingressou na Companhia de Jesus em 1623, destacando-se pela oratória e por seus escritos. Em 1634, foi ordenado sacerdote da ordem dos jesuítas.
No Brasil ele se tornou defensor dos povos indígenas e foi uma das primeiras pessoas públicas a defenderem o fim da escravidão no Brasil.
Nascido como Jorge Mário Bergoglio em 1936, em Buenos Aires, na Argentina. Era filho de imigrantes italianos, sua mãe foi dona de casa e seu pai trabalhou em uma empresa ferroviária. Com 22 anos, ele ingressou na Companhia de Jesus como noviço.
Em 1992, foi nomeado bispo auxiliar de Buenos Aires pelo papa João Paulo II. Em 2001, o mesmo papa tornou Jorge Mário cardeal de Buenos Aires. Em 2013, em um conclave após a abdicação de Bento XVI, foi escolhido como novo papa da Igreja Católica Apostólica Romana.
Segundo dados da Cúria dos Jesuítas de Roma, a ordem tinha, em janeiro de 2022, 14.439 membros, sendo 10.432 deles sacerdotes. Pouco mais de dois mil sacerdotes jesuítas estavam na América em 2022.|1|
No Brasil, os jesuítas se destacam atualmente na educação, mantendo diversas universidades e colégios pelo país, como a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, o Colégio Santo Inácio, a Universidade Vale dos Sinos, a Universidade Católica de Pernambuco, entre tantas outras.
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A Companhia de Jesus é uma ordem católica, dessa forma, todos os membros seguem a doutrina da Igreja Católica e têm o papa como o sumo pontífice. Em alguns momentos da sua história, parte dos jesuítas entrou em atrito com a Sé de Roma, sobretudo no século XVIII, quando os jesuítas foram atacados pela Coroas portuguesa e espanhola por causa da proteção dada aos indígenas.
1 - (ESPM) Em 1759 os jesuítas foram expulsos de Portugal e do Brasil pelo marquês de Pombal. Nas reformas pombalinas, a expulsão dos jesuítas foi capítulo dos mais dramáticos, ousados e radicais, demonstrando até que ponto se reafirmava a soberania do Estado português na colônia.
(Carlos Guilherme Mota e Adriana Lopez. História do Brasil: Uma interpretação)
Os problemas em questão têm por origem o seguinte:
a) Pombal acusava a Companhia de Jesus de formar um verdadeiro Estado dentro do Estado e resistir ao poder do rei.
b) Pombal condenava o monopólio do comércio de escravos africanos pela Companhia de Jesus.
c) Pombal se ressentiu da recusa por parte da Companhia de Jesus de participar da colonização do Estado do Grão-Pará e Maranhão.
d) Pombal rompeu com os jesuítas após a Companhia de Jesus apresentar uma decidida condenação ao tráfico negreiro praticado pelo governo português.
e) Os jesuítas apoiavam as pretensões espanholas nas negociações dos tratados de limites ocorridos no século XVIII.
Gabarito: A
Pombal acusava a Ordem de Jesuítas de criar um Estado paralelo no Brasil, com grande poder político e econômico na colônia. Também acusava os membros da ordem de não cumprirem as determinações da Coroa portuguesa.
2 - (PUC-MG) No processo de colonização do Brasil (sécs. XVI-XVIII), os jesuítas tiveram papel de destaque na difusão do catolicismo. Sobre eles é correto afirmar, exceto:
a) Detinham o monopólio da educação e, na segunda metade do século XVI, fundaram colégios na cidade de Salvador e na Vila de São Vicente.
b) Sua tarefa missionária era a catequização dos índios, convertendo-os à verdadeira fé e à recuperação de fiéis.
c) Construíram as missões para impedir a escravidão dos indígenas pelos coloniais e manter o universo de valores culturais dos índios.
d) Foram expulsos de Portugal e das possessões coloniais pelo Marquês de Pombal, após 1750, devido ao seu poder econômico e político.
Gabarito: C
Embora muitos jesuítas protegessem os indígenas, não era objetivo da ordem manter o universo de valores culturais dos indígenas, pelo contrário, o objetivo era que os indígenas adotassem os valores culturais católicos.
Nota
|1|JESUITS Global. Cúria dos Jesuítas de Roma. Companhia de Jesus em números – 2022. Disponível em: https://www.jesuits.global/2022/03/23/the-society-of-jesus-in-numbers-2022-edition/
Créditos das imagens
[2]FGV/ Atlas
Fontes
ASSUNÇÃO, Paulo de. Jesuítas no Brasil colonial. Editora Atual, São Paulo, 2016.
CORDEIRO, Tiago. A grande aventura dos jesuítas no Brasil. Editora Planeta, São Paulo, 2016.
JESUITS Global. Cúria dos Jesuítas de Roma. Companhia de Jesus em números – 2022. Disponível em: https://www.jesuits.global/2022/03/23/the-society-of-jesus-in-numbers-2022-edition/
PEDRO, Lívia. História da Companhia de Jesus no Brasil – uma biografia. UFBA, Salvador, 2008.