O realismo no Brasil foi inaugurado, em 1881 (quase 30 anos depois de surgir na Europa), com a publicação do livro Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis (1839-1908). Se na Europa, o surgimento desse movimento literário estava associado às consequências da Revolução Industrial, no Brasil, ele estava vinculado à decadência da economia baseada em práticas escravocratas, ao descontentamento com a monarquia e à dependência econômica em relação aos países ricos.
O realismo é um estilo de época antirromântico que privilegia a objetividade, a análise dos comportamentos coletivos, a crítica à realidade e, também, à burguesia do século XIX. Assim, seus autores estão atentos aos acontecimentos de seu momento presente e às motivações psicológicas de suas personagens, envolvidas em adultério, opressão e corrupção.
No século XIX, a adesão dos escritores brasileiros à estética realista está relacionada com:
a decadência da economia com a proibição do tráfico negreiro, em 1850;
o aumento da influência dos políticos progressistas em oposição aos conservadores e escravocratas;
o fortalecimento do movimento republicano, que ameaçava o velho regime monárquico;
a Guerra do Paraguai (1864-1870), que, devido aos altos gastos financeiros, gerou o aumento da dívida externa e da dependência brasileira em relação aos países ricos.
A estética romântica, por conseguinte, entrou em decadência, pois sua origem estava atrelada ao nacionalismo ufanista (patriotismo exagerado), inspirado pela independência do Brasil, ocorrida em 1822. Ao recorrer à idealização, o romantismo brasileiro buscava despertar um sentimento de nacionalismo incondicional na população, o que impedia uma visão mais crítica da realidade brasileira. A exceção foi a terceira geração romântica, que ocupava um lugar de transição entre a estética romântica e a realista.
Tudo isso levou alguns escritores brasileiros a realizarem um distanciamento do estilo romântico, como é o caso do escritor Machado de Assis, cuja produção literária, em sua primeira fase, era marcadamente ligada ao romantismo. Assim, em 1881, ele inaugurou o realismo no Brasil com sua obra Memórias póstumas de Brás Cubas.
O realismo é um estilo de época que, declaradamente, opõe-se ao estilo anterior, isto é, o romantismo, portanto, é antirromântico, pois:
valoriza a objetividade (racionalidade) e não a subjetividade (emotividade);
tem particular interesse nos comportamentos coletivos, em oposição ao individualismo romântico;
retrata a vida cotidiana e monótona da classe burguesa, em vez de enaltecer suas qualidades heroicas;
critica a realidade e opõe-se ao escapismo (fuga da realidade) romântico;
ataca o estilo de vida burguês, sua hipocrisia e futilidade;
interessa-se pelo funcionamento e organização da sociedade e não por anseios individuais;
focaliza o momento presente, sem a idealização do passado realizada pelo estilo anterior;
analisa as motivações psicológicas dos personagens, que passam a ser construídos com maior complexidade, em vez de repetir estereótipos do romantismo, como a figura do vilão em oposição a do mocinho;
trabalha estas principais temáticas: adultério, opressão e corrupção.
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O único autor brasileiro de fato realista é o escritor Machado de Assis. Durante o período em que o realismo aconteceu no Brasil, os outros escritores antirromânticos aderiram à outra vertente de realismo, o naturalismo. Portanto, Machado de Assis, em sua segunda fase, é um escritor puramente realista, pois rejeita as características cientificistas do naturalismo.
Machado de Assis, em sua segunda fase, escreveu os seguintes romances:
Memórias póstumas de Brás Cubas (1881)
Dom Casmurro (1899)
Quincas Borba (1891)
Esaú e Jacó (1904)
Memorial de Aires (1908)
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O naturalismo na Europa foi inaugurado com o livro de ensaios O romance experimental (1880), do escritor francês Émile Zola (1840-1902), em que ele explicita as bases do movimento. Já no Brasil, o romance O mulato, de Aluísio Azevedo, de 1881, foi a primeira obra naturalista publicada.
O estilo de época naturalismo é considerado uma evolução da estética realista, assim, ele é também realista. Entretanto o realismo não possui a principal característica definidora do naturalismo, que é o uso de teorias científicas para explicar o comportamento dos personagens.
Nessa perspectiva, Hippolyte Taine (1828-1893), crítico literário francês, divulgou o conceito de “determinismo”, que passou a direcionar a escrita dos autores naturalistas. Segundo ele, o indivíduo era socialmente condicionado:
1. pela raça da qual fazia parte;
2. pelo meio no qual se encontrava; e
3. pelo momento histórico em que vivia.
Portanto, os personagens eram criados (e devem ser analisados) com base nessa perspectiva, ou seja, esses fatores (a raça, o meio e o tempo) influenciavam o comportamento e, consequentemente, definiam o destino dos personagens. Entretanto, é preciso ressaltar que teorias científicas de cunho racista, que prevaleceram em finais do século XIX, eram equivocadas e estão ultrapassadas.
Desse modo, podemos afirmar que Machado de Assis não era um escritor naturalista, uma vez que não utilizou essas teorias em suas obras. Ao contrário, elas eram alvo de sua ironia, como é possível verificar em sua obra O alienista (1882), em que os excessos da ciência são claramente criticados.
Já em romances de Aluísio Azevedo e de Adolfo Caminha, a teoria determinista está bastante evidente. Por exemplo: quando os personagens negros Bertoleza (de O cortiço) e Amaro (de Bom-crioulo) são descritos como pertencentes a uma “raça inferior”, ou quando o cortiço (em O Cortiço) e o ambiente da Marinha (em Bom-Crioulo) são apontados como meios corruptores. Assim, essas obras devem ser lidas baseadas em seu contexto histórico.
O descontentamento com a monarquia e o aumento da dívida externa propiciaram o surgimento do realismo no Brasil.
O realismo é antirromântico e faz crítica à burguesia do século XIX.
Principais temáticas do realismo: adultério, opressão e corrupção.
Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, inaugurou o realismo no Brasil.
O naturalismo usa teorias científicas na composição dos personagens, o que não ocorre no realismo.
O crítico francês Hippolyte Taine foi responsável pela divulgação do conceito de “determinismo”, que direcionou a escrita dos autores naturalistas.
O determinismo defende que o indivíduo é socialmente condicionado pela raça, meio e momento histórico dos quais faz parte.
Os principais autores realistas e naturalistas brasileiros são: Aluísio Azevedo, Adolfo Caminha, Raul Pompeia e Júlio Ribeiro.
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[1] Ediouro (Reprodução)