Conto é um gênero narrativo caracterizado por ser curto e breve. Apresenta introdução, desenvolvimento, clímax e conclusão. O tipo de conto é definido pelo seu enredo.
O conto é um gênero caracterizado por ser uma narrativa literária curta, tendo começo, meio e fim da história narrados de maneira breve, porém o suficiente para contar a história completa.
O conto possui elementos e estrutura bem marcados, sendo que o tipo de história pode indicar o tipo de conto que estamos lendo. Vamos aprender um pouco mais sobre esse gênero narrativo.
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Para que uma narrativa seja considerada um conto, alguns elementos são muito importantes: personagens, narrador, tempo, espaço, enredo e conflito.
As narrativas (reais ou fictícias) precisam ter um ou mais seres vivenciando sua história. Esses seres podem ser pessoas ou, até mesmo, animais, objetos e seres imaginários que ganham vida e consciência para viver aquela história — são as personagens da narrativa.
Embora seja comum que o conto tenha poucas personagens, existem contos com muitas delas (habitantes de um bairro, por exemplo). Mesmo assim, a narrativa continua sendo breve.
É a voz que conta a história dentro da narrativa. O narrador pode contar a história de três maneiras:
Narrador-personagem: quando uma das personagens que vivencia a história faz, também, o papel de narrador, ou seja, uma das personagens narra a história. Por isso, muitas vezes, os verbos são conjugados em primeira pessoa, mas podem também ser conjugados em terceira quando o narrador-personagem conta o que acontece com os outros personagens.
Narrador-observador: esse tipo de narrador não participa da história. Ao invés disso, ele é apenas uma “voz” contando o que acontece, narrando a história. Entretanto, assim como o leitor, esse narrador não sabe o que se passa na consciência das personagens, não sabe o que aconteceu no passado (anterior à narrativa) nem o que acontecerá no futuro.
Narrador-onisciente: assim como o observador, ele não participa da história. Entretanto, essa “voz” é onisciente, ou seja, sabe de tudo no universo daquela narrativa: ela sabe (e pode contar) o que as personagens estão pensando e sentindo. Também conhece (e pode contar) o passado anterior à narrativa e o futuro.
As narrativas passam-se em um período determinado: trata-se do tempo de duração entre o início e o final da narrativa e da época em que a narrativa ocorre. É mais comum que as histórias dos contos aconteçam em pouco tempo (podendo ser minutos ou até alguns dias), mas é possível que elas se passem durante muitos anos (em qualquer um desses casos, a narrativa será breve por tratar-se de um conto).
Alguns contos são sobre histórias que se passam nos dias de hoje, e outros podem passar-se em algum lugar do passado ou, até mesmo, em um futuro imaginado pelo autor (e descrito pelo narrador da história).
Assim como o tempo, as narrativas precisam ocorrer em um espaço, descrito explicita ou implicitamente, onde as personagens situam-se.
Novamente, por tratar-se de narrativa breve e curta, é mais comum que o conto ocorra em apenas um ou poucos espaços, mas ainda é possível que muitos cenários sejam percorridos durante a história (podendo ser apenas um pequeno cômodo de uma moradia, um país inteiro ou outra galáxia distante e imaginária). Em todo caso, a narrativa continuará sendo curta.
É o que acontece na história, ou seja, a sequência de ações que faz com que a narrativa exista e tenha uma estrutura: um começo, um meio e um fim. Vamos falar mais sobre o enredo adiante.
Por fim, os contos têm um conflito, que é uma situação gerada por uma das ações iniciais (ou em uma das ações iniciais) e que faz com que outras ações sejam tomadas pelas personagens para solucionar o problema. Essa sequência de ações forma o enredo e, geralmente, deixa o começo da narrativa diferente do final.
O conto costuma ser estruturado em quatro partes: introdução, desenvolvimento, clímax e conclusão. Vamos a elas:
Introdução (ou apresentação/equilíbrio inicial): é o início da narrativa. Nela, podemos descobrir o contexto da narrativa: quem são as personagens, qual é o espaço e o tempo nos quais a história vai ser narrada e quais são os primeiros acontecimentos dela.
Desenvolvimento (ou complicação/surgimento do conflito): apresenta as ações que modificam o estado inicial da narrativa. Vemos o conflito (situação-problema) que fará as personagens agirem para resolvê-lo.
Clímax: é o momento de maior tensão, quando o problema está no auge e as ações tomadas definirão o rumo da história.
Conclusão (ou desfecho/solução do conflito): como o nome já diz, é o final da história, que será provavelmente diferente de como ela começou. Pode mostrar que o problema foi solucionado ou não, dependendo muito mais do tipo de conto que estamos lendo. Vamos conhecer esses tipos a seguir.
O conto é classificado como um gênero narrativo, ou seja, um tipo de narração. No entanto, existem vários tipos de contos dependendo dos elementos que compõem a história e de como ela pode terminar, dando subgêneros a eles. Vejamos alguns mais famosos:
São narrativas curtas que possuem um elemento “maravilhoso” em sua composição, ou seja, algo mágico ou sobrenatural. Não existem explicações para as intervenções sobrenaturais que ocorrem na narrativa; tanto personagens, quanto narrador e mesmo o leitor não se impressionam com o que ocorre.
As personagens, lugares e tempos não são determinados historicamente, o que fica claro pelo início genérico do “Era uma vez”. Apesar disso, sabemos que sua origem é medieval, período aproximado em que se passa a maioria de suas histórias. Nesse tipo de conto, o leitor espera um final feliz e uma moral da história, o que costuma acontecer.
Subgênero mais moderno do que o conto de fadas. Nos contos de terror, as histórias incluem os elementos sobrenaturais sem aquele ar de naturalidade: trata-se dos contos de terror com personagens lendários, como vampiros, lobisomens, mortos-vivos etc.
Aqui, já se vê uma diferença na percepção dos personagens diante dos fatos sobrenaturais e até o leitor fica assustado com a história. Nem sempre a narrativa acaba com final feliz.
Narrativas curtas que levam o elemento “absurdo” a cenários e personagens do próprio cotidiano. São personagens comuns levando uma vida comum até que algo absurdo acontece, algo que não poderia acontecer na realidade.
É justamente a proximidade com a realidade do leitor que causa um maior estranhamento na história. O leitor busca uma explicação para o que ocorre (será um sonho?), mas não fica com medo como acontece nos contos de terror.
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Vamos ler alguns contos para ver o que aprendemos. Tente, após a leitura, responder quem são as personagens; que tipo de narrador tem esse conto; onde e quando se passa a história; qual é o enredo e o clímax; qual foi o desfecho; ou que tipo de conto se trata. Boa leitura!
(Conto tradicional do Brasil)
Entre todas as aves, espalhou-se a notícia de uma festa no céu. Todas as aves compareceriam e começaram a fazer inveja aos animais e outros bichos da terra incapazes de voo.
Imaginem quem foi dizer que ia também à festa... O Sapo! Logo ele, pesadão e nem sabendo dar uma carreira, seria capaz de aparecer naquelas alturas. Pois o Sapo disse que tinha sido convidado e que ia sem dúvida nenhuma. Os bichos só faltaram morrer de rir. Os pássaros, então, nem se fala!
O Sapo tinha seu plano. Na véspera, procurou o Urubu e deu uma prosa boa, divertindo muito o dono da casa. Depois disse:
— Bem, camarada Urubu, quem é coxo parte cedo e eu vou indo, porque o caminho é comprido.
O Urubu respondeu:
— Você vai mesmo?
— Se vou? Até lá, sem falta!
Em vez de sair, o Sapo deu uma volta, entrou na camarinha do Urubu e, vendo a viola em cima da cama, meteu-se dentro, encolhendo-se todo.
O Urubu, mais tarde, pegou na viola, amarrou-a a tiracolo e bateu asas para o céu, rru-rru-rru...
Chegando ao céu, o Urubu arriou a viola num canto e foi procurar as outras aves. O Sapo botou um olho de fora e, vendo que estava sozinho, deu um pulo e ganhou a rua, todo satisfeito.
Nem queiram saber o espanto que as aves tiveram, vendo o Sapo pulando no céu! Perguntaram, perguntaram, mas o Sapo só fazia conversa mole. A festa começou e o Sapo tomou parte de grande. Pela madrugada, sabendo que só podia voltar do mesmo jeito da vinda, mestre Sapo foi-se esgueirando e correu para onde o Urubu se havia hospedado. Procurou a viola e acomodou-se, como da outra feita.
O sol saindo, acabou-se a festa e os convidados foram voando, cada um no seu destino. O Urubu agarrou a viola e tocou-se para a Terra, rru-rru-rru...
Ia pelo meio do caminho, quando, numa curva, o Sapo mexeu-se e o Urubu, espiando para dentro do instrumento, viu o bicho lá no escuro, todo curvado, feito uma bola.
— Ah! camarada Sapo! É assim que você vai à festa no céu? Deixe de ser confiado...!
E, naquelas lonjuras, emborcou a viola. O Sapo despencou-se para baixo que vinha zunindo. E dizia, na queda:
— Béu-Béu! Se desta eu escapar, nunca mais bodas no céu!
E vendo as serras lá embaixo:
— Arreda pedra, senão eu te rebento!
Bateu em cima das pedras como um jenipapo, espapaçando-se todo. Ficou em pedaços. Nossa Senhora, com pena do Sapo, juntou todos os pedaços e o Sapo voltou à vida de novo.
Por isso o Sapo tem o couro todo cheio de remendos.
(Luís Câmara Cascudo)
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O fazendeiro Geraldo tem um problema. Suas Vacas gostam de escrever à máquina. Ele ouve o dia inteiro:
TEQUE, TEQUE MUU!
TEQUE, TEQUE MUU!
TEREQUI TEQUI, TEQUI MUU!
A princípio, ele não confia em seus ouvidos:
— Vacas que escrevem à máquina? Impossível!
TEQUE, TEQUE MUU!
TEQUE, TEQUE MUU!
TEREQUI TEQUI, TEQUI MUU!
Depois, ele não acredita em seus olhos:
“Prezado Fazendeiro Geraldo, o galpão é muito frio à noite. Queremos cobertores elétricos. Atenciosamente, as Vacas.”
— Já não basta as Vacas terem encontrado a velha máquina de escrever no galpão, agora elas querem cobertores elétricos? Nem pensar! — disse o fazendeiro Geraldo. Cobertores elétricos coisa nenhuma!
Então, as Vacas entram em greve. Deixam um bilhete na porta do galpão: “Desculpe o galpão está fechado. Não haverá leite hoje!”
— Não haverá leite hoje? — berrou o fazendeiro Geraldo.
Ao fundo ele podia ouvir as Vacas:
TEQUE, TEQUE MUU!
TEQUE, TEQUE MUU!
TEREQUI TEQUI, TEQUI MUU!
No dia seguinte, recebe outro bilhete:
“Prezado fazendeiro Geraldo, as Galinhas também estão com frio. Elas querem cobertores elétricos. Atenciosamente, as Vacas.”
As Vacas estão cada vez mais impacientes com o fazendeiro. Elas deixam um outro bilhete na porta do galpão: “Fechado, não haverá leite. Não haverá ovos.”
— Não haverá ovos? — berrou o fazendeiro Geraldo.
Ao fundo ele podia ouvir as Vacas:
TEQUE, TEQUE MUU!
TEQUE, TEQUE MUU!
TEREQUI TEQUI, TEQUI MUU!
Vacas que escrevem? Galinhas em greve? Quem já ouviu uma coisa dessas? Como posso tocar a fazenda sem leite e sem ovos? — o fazendeiro Geraldo estava furioso.
O fazendeiro pega a sua própria máquina de escrever: “Prezadas Vacas e Galinhas: Não haverá cobertores elétricos. Vocês são apenas Vacas e Galinhas. Eu exijo leite e ovos. Atenciosamente, fazendeiro Geraldo.”
O Pato, que não tinha tomado partido, leva o ultimato para as Vacas.
As Vacas convocam uma reunião de emergência. Todos os animais reúnem-se em volta do galpão para bisbilhotar, mas nenhum deles conseguem entender um “MUU” sequer.
O fazendeiro Geraldo espera pela resposta a noite inteira.
Na manhã seguinte, bem cedinho, o Pato bate na porta e entrega um bilhete ao fazendeiro Geraldo: “Prezado fazendeiro Geraldo, nós aceitamos trocar a máquina de escrever por cobertores elétricos. Deixe-os na porta do galpão, do lado de fora, e nós enviaremos a máquina pelo Pato. Atenciosamente, as Vacas.”
O fazendeiro Geraldo acha a troca um bom negócio. Ele deixa os cobertores próximo à porta do galpão e aguarda a chegada do Pato com a máquina de escrever.
Na manhã seguinte, ele recebe um bilhete: “Prezado fazendeiro Geraldo, o lago está muito chato. Queremos um trampolim. Atenciosamente, os Patos.”
TEQUE, TEQUE QUACK!
TEQUE, TEQUE QUACK!
(Doreen Cronin)
Notas
|1| SANTOS, Yolanda dos (Seleção e tradução). Lendas, fábulas e apólogos. In: Antologia da literatura mundial. São Paulo: Gráfica Carioca, 1958.
|2| CRONIN, D. Teque, teque um, vacas que escrevem à máquina. Tradução Ana Bergin. Rio de Janeiro: Rocco, 2003.