História

Guerra do Peloponeso

A Guerra do Peloponeso foi um conflito que aconteceu de 431 a.C. a 404 a.C., sendo motivado pela rivalidade entre Atenas e Esparta, as duas maiores pólis da Grécia Antiga. Nesse conflito estava em jogo a hegemonia dessas cidades sobre toda a Grécia, sendo os espartanos os grandes interessados nele porque os atenienses estavam prosperando rapidamente com a Liga de Delos.

O conflito teve como estopim o imperialismo ateniense e suas interferências em assuntos de interesse de Corinto, cidade aliada de Esparta. Ao longo dos 27 anos de guerra, os espartanos conseguiram aproveitar-se das divisões internas de Atenas e, contando com o apoio da Pérsia, derrotaram os gregos.

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Contexto geral da Guerra do Peloponeso

Litoral de Pilos, local atacado pelos atenienses em 425 a.C. Os espartanos foram derrotados nessa batalha.[1]

A Guerra do Peloponeso foi um dos principais conflitos da Grécia Antiga. Ela foi o resultado da rivalidade entre Atenas e Esparta e foi causada diretamente pelos interesses econômicos, políticos e militares das duas cidades no século V a.C. Por trás desses interesses, estava a questão das diferenças entre os modelos das duas cidades.

O começo do século V a.C. foi marcado pela união de atenienses e espartanos para conter os persas, que buscavam conquistar as cidades gregas durante as Guerras Médicas. Essa união deu-se por meio da Liga Helênica, criada para que as cidades gregas pudessem cooperar entre si a fim de expulsar os persas. Entretanto, os espartanos, pensando nos seus interesses após o conflito, procuraram criar a Liga do Peloponeso.

Essa liga era chamada pelos espartanos de “lacedemônios e seus aliados” e consistia numa união das cidades do Peloponeso, península onde ficava Esparta. Essa liga era usada pelos espartanos como forma de obter apoio militar caso fosse necessário lutar contra as populações de hilotas e periecos. Além disso, a liga foi usada para manter contatos de Esparta com reinos, como o do Egito.

Depois que os persas foram derrotados definitivamente, os atenienses seguiram o mesmo caminho de Esparta e fundaram uma liga que uniria diferentes cidades gregas. Na Liga de Delos, todas as cidades que faziam parte deveriam pagar um imposto que seria administrado pelos atenienses para construir-se uma grande frota naval que defenderia os interesses de todas elas.

Esse cenário levou a Grécia a uma progressiva polarização que resultou na guerra entre atenienses e espartanos. As tensões que se acumularam ao longo do século V a.C. fizeram com que Atenas e Esparta entrassem em guerra, mas, ainda antes disso, uma série de pequenos conflitos aconteceram.

Fases da Guerra do Peloponeso

Tradicionalmente, a Guerra do Peloponeso é entendida como um conflito que aconteceu entre 431 a.C. e 404 a.C. Ao longo desse período, os historiadores dividiram-na em fases, uma vez que a luta entre as duas cidades não foi contínua porque existiram curtos momentos de paz. O conflito em si teve muitos altos e baixos, com momentos em que os atenienses estavam em vantagem, e, em outros, os espartanos ocupavam uma posição mais confortável.

No que se refere à periodização, alguns historiadores tendem a entender a Guerra do Peloponeso como uma junção de conflitos que aconteceram em duas fases. A primeira fase é comumente conhecida como Primeira Guerra do Peloponeso, de 460 a.C. a 446 a.C. A segunda fase foi a Guerra do Peloponeso propriamente dita e estendeu-se pelo período citado (431-404 a.C.).

Esse entendimento não é compartilhado por outros historiadores, que entendem a Primeira Guerra do Peloponeso (460-446 a.C.) como um prelúdio, um acontecimento que demonstrava os choques de interesses entre atenienses e espartanos e que resultou em um conflito muito maior anos depois.

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Causas da Guerra do Peloponeso

Modelo de um soldado grego que lutou na Guerra do Peloponeso.

Considera-se que a principal razão para o início da Guerra do Peloponeso foi a rivalidade entre Atenas e Esparta. No início desse conflito, a guerra foi mais desejada pelos espartanos, pois eles temiam o fortalecimento de Atenas por meio da Liga de Delos, achavam que isso poderia prejudicar os interesses dos esparciatas, a elite espartana.

A grande questão dizia respeito aos diferentes modelos que as duas cidades adotavam. Os espartanos possuíam uma pólis aristocrática, também conhecida como oligárquica. Nesse modelo, uma pequena elite controlava a política. Os atenienses, por sua vez, tinham um modelo democrático, que ampliava essa participação na política para outros grupos da sociedade. A elite espartana temia que o fortalecimento ateniense resultasse na importação de seu modelo democrático para Esparta.

A disputa pela hegemonia da Grécia fez com que as duas cidades realizassem uma série de ações diplomáticas, políticas e militares que tinham como objetivo defender os seus próprios interesses. Atenas, por exemplo, buscou resguardar-se territorialmente garantindo-se apoio que impedisse uma eventual ação militar espartana na Ática (onde fica Atenas).

Os atenienses, por exemplo, decidiram aliar-se com Argos, a grande rival dos espartanos na península do Peloponeso (onde fica Esparta). Outra ação de Atenas nesse sentido foi aliar-se com Mégara quando esta entrou em guerra contra Corinto por questões territoriais. Com isso, Atenas contribuía para enfraquecer Corinto, uma das grandes aliadas de Esparta, e ainda garantia a proteção do istmo de Corinto, local que ligava a Ática com a Lacônia (onde fica Esparta).

As causas imediatas para o início da Guerra do Peloponeso estão relacionadas com eventos que aconteceram na década de 430 a.C. Primeiro, houve a questão envolvendo Córcira e Epidamno. Essas duas cidades entraram em guerra, e Epidamno buscou o apoio de Corinto — aliada de Esparta —, enquanto Córcira buscou o apoio de Atenas.

Atenas enviou uma pequena frota para proteger Córcira de um ataque de Corinto. A frota de Corinto fugiu, e suas autoridades foram em busca de apoio dos peloponésios para lutar contra Atenas. Corinto contou com o apoio de Mégara, e Atenas respondeu impondo um embargo econômico sobre Mégara. Atenas ainda interveio em Potideia, exigindo que ela derrubasse suas muralhas e expulsasse os representantes coríntios que moravam lá.

Essas ações atenienses fizeram com que Corinto e Mégara chamassem a atenção de Esparta, que convocou a assembleia entre os membros da Liga do Peloponeso, e, nessa assembleia, decidiu-se pela guerra. Esparta, como vimos, queria a guerra, e foram os espartanos que a declararam primeiro, mas foram as intervenções atenienses que levaram a situação a esse ponto e deram a justificativa para eles.

Principais acontecimentos da Guerra do Peloponeso

O trirreme era a principal embarcação usada pelos gregos na Guerra do Peloponeso.

A Guerra do Peloponeso, ao longo dos seus 27 anos de duração, teve momentos de predomínio ateniense ou espartano, mas, no final, a estratégia espartana sobressaiu-se a dos atenienses. No primeiro momento, os espartanos procuraram realizar sua tática tradicional, levando milhares de soldados por terra a invadir a Ática e ocupar as terras produtivas de Atenas.

Atenas, por sua vez, sabia que as tropas terrestres dos espartanos eram superiores e, por isso, procurou garantir seu poder pelo mar. Assim, a população da Ática foi convocada a instalar-se no interior das muralhas atenienses, os governantes de Atenas ampliaram a cobrança de impostos na Liga de Delos e procuraram garantir o fornecimento de alimentos da cidade trazendo grãos por mar. Militarmente, os atenienses usaram sua força marítima para atacar a costa das regiões dominadas por Esparta e decidiram não atacar as tropas espartanas por terra.

Essa estratégia foi severamente prejudicada por conta da peste de Atenas, uma epidemia que atacou a cidade em 430 a.C., fazendo com que os homens que não tinham morrido na guerra morressem pela doença. Um dos mortos foi Péricles, o governante ateniense e formulador dessa estratégia.

Depois da morte de Péricles, a estratégia de Atenas foi inconsistente porque as elites atenienses tinham posições mais conservadoras em relação à ação de suas tropas, enquanto a população em geral defendia a expansão da guerra e o confronto aberto. Isso causou alguns problemas políticos na cidade. De toda forma, Atenas teve vitórias expressivas tanto em terra quanto em mar.

Os espartanos, por sua vez, procuraram o apoio dos persas para derrotar os atenienses. Eles souberam aproveitar-se das tensões que aconteciam nos bastidores de Atenas, e, apesar de algumas derrotas, Esparta soube resistir, dominando o conflito a partir de 413 a.C., quando tomou as minas de prata de Atenas.

A sucessão de derrotas de Atenas depois que ela perdeu o acesso as suas minas de prata fez com que algumas cidades aliadas se rebelassem contra os atenienses. Logo os espartanos começaram a contar com apoio de oligarcas em Atenas que queriam que sua cidade fosse derrotada para que a democracia fosse abolida.

Por meio do apoio persa, os espartanos conseguiram montar uma enorme frota marítima que conseguiu, pouco a pouco, fechar as rotas que traziam alimentos para Atenas. Em 405 a.C., os espartanos conseguiram derrotar os atenienses no Helesponto, estreito que dava acesso às colônias atenienses pelo mar Negro.

Com isso, os espartanos conseguiram fechar a última rota de alimentos de Atenas. Com poucos recursos e alimentos, Atenas ficou isolada, e os espartanos promoveram um cerco que durou seis meses. Depois desse tempo, já em 404 a.C., Atenas rendeu-se. Os espartanos destruíram as muralhas atenienses, e todo império de Atenas foi desfeito.

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Consequências da Guerra do Peloponeso

A Guerra do Peloponeso mudou os rumos da história grega. Com a vitória espartana, a Grécia ficou sob o domínio dos lacedemônios e regimes oligárquicos foram implantados em todo seu território, inclusive em Atenas. No entanto, o rigor do domínio espartano não agradou muitas cidades gregas.

Além disso, a grande riqueza que começou a fluir para Esparta causou divisões internas nessa pólis. Com o tempo, a democracia ateniense recuperou-se, conseguindo rever parte de seus aliados. Entretanto foi a cidade de Tebas que se tornou o novo centro do modelo democrático, sendo inclusive refúgio de muitos atenienses depois da derrota.

A Guerra do Peloponeso enfraqueceu a Grécia e não colocou fim nas tensões entre as pólis gregas. Logo novos conflitos entre Esparta e Tebas aconteceram, e isso tornou a Grécia vulnerável para ameaças estrangeiras, abrindo espaço para os macedônicos conquistarem-na, décadas depois, sob a liderança de Filipe II.

Créditos da imagem

[1] De Visu e Shutterstock

Por Daniel Neves Silva

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