A anáfora é uma figura de linguagem usada para fazer referência a algo já dito. Essa referência pode ser feita pelo uso de sinônimos, de pronomes ou de uma parte do termo.
A anáfora é uma figura de linguagem usada para retomar algo já dito. Geralmente, ela se vale de pronomes ou sinônimos para evitar a repetição excessiva. O seu “contrário” é a catáfora, que faz referência a algo que ainda será dito. A anáfora é muito presente nos textos literários e não literários, e entender seu funcionamento é muito importante para a interpretação de qualquer discurso.
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A anáfora é uma figura de linguagem usada para fazer referência a algo já dito, como um termo, uma oração ou um pensamento expresso no texto. Ela categoriza uma retomada. Assim, serve para evitar repetições completas, pois o leitor já sabe ao que o autor está se referindo. Por ser uma figura de linguagem que afeta a estruturação do enunciado, especificamente é uma figura de sintaxe (ou de construção).
Rose mora no bairro Assunção. Ela caminha todos os dias com sua amiga, Clara. A companheira a chama de “querida”.
Nesse exemplo, temos muitas ocorrências de anáfora: “Ela”, “sua” e “a” referem-se à Rose, enquanto “A companheira” referencia “Clara”.
A Primeira Guerra Mundial ocorreu no século XX e o conflito durou quatro anos.
Nesse caso, a anáfora ocorreu no mesmo período, e “o conflito” referencia “A Primeira Guerra Mundial”.
A anáfora pode ser usada de formas diferentes. Ela pode fazer uma referência explícita aos termos usados, repetindo alguma parte deles, usar sinônimos no lugar deles ou trocá-los por pronomes. A anáfora deve ser usada quando o autor de um texto não quer repetir o mesmo termo muitas vezes, uma vez que ele pode se tornar cansativo à leitura.
O homem acorda da anestesia e olha em volta. Ainda está na sala de recuperação. Há uma enfermeira do seu lado. Ele pergunta se foi tudo bem.
— Tudo perfeito — diz a enfermeira, sorrindo.
— Eu estava com medo desta operação…
— Por quê? Não havia risco nenhum.
— Comigo, sempre há risco. Minha vida tem sido uma série de enganos…
E conta que os enganos começaram com seu nascimento. Houve uma troca de bebês no berçário e ele foi criado até os dez anos por um casal de orientais, que nunca entenderam o fato de terem um filho claro com olhos redondos. Descoberto o erro, ele fora viver com seus verdadeiros pais. Ou com sua verdadeira mãe, pois o pai abandonara a mulher depois que esta não soubera explicar o nascimento de um bebê chinês.|1|
Nesse trecho, temos uma ocorrência expressiva de anáforas. Os termos em destaque mostram uma recorrência de referências ao “homem”, além do uso de anáforas sobre sua mãe biológica no fim.
Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei no trem da Central um rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e de chapéu. (...) e acabou recitando-me versos. A viagem era curta, e os versos pode ser que não fossem inteiramente maus. Sucedeu, porém, que, como eu estava cansado, fechei os olhos três ou quatro vezes; tanto bastou para que ele interrompesse a leitura e metesse os versos no bolso.|2|
Nesse caso, “ele” é um pronome anafórico que retoma “um rapaz”, e “os versos” são repetidamente retomados.
Como jamais conhecer o menino? (...) O que conheço dele é a sua situação: o menino é aquele em quem acabaram de nascer os primeiros dentes e é o mesmo que será médico ou carpinteiro. Enquanto isso — lá está ele sentado no chão (...).|3|
Nesse trecho, são utilizadas muitas anáforas para referir-se ao “menino”.
A anáfora e a catáfora são duas figuras de linguagem que formam a antitaxe. A antitaxe é uma propriedade que diz que um elemento pode ser retomado ou antecipado dentro de um texto:
As figuras de linguagem são maneiras de expressão que, de alguma forma, manipulam a linguagem de modo diferente do tradicional. Como subdivisões, há as figuras de linguagem de palavras, de pensamento, de sintaxe e sonoras. A anáfora e a catáfora fazem parte do grupo das figuras de sintaxe.
Alguns exemplos de figuras de linguagem são:
Veja também: Onomatopeia — a figura de linguagem usada para representar um som ou um ruído de maneira escrita
Questão 1
Leia o trecho abaixo da divulgação da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) e responda à pergunta.
Há 20 anos, a Flip é uma experiência única: os encontros promovidos nos cinco dias de Festa são apenas parte de uma manifestação cultural muito mais ampla. São, na verdade, fruto de uma relação que atravessa as ruas da cidade de Paraty, durante todos os meses do ano, promovendo uma profunda transformação nas vidas e perspectivas de seus cidadãos.|4|
Disponível em: https://www.flip.org.br/
Qual é o referencial anafórico de “Festa”?
A) “20 anos”
B) “a Flip”
C) “única”
D) “manifestação cultural”
Resolução:
Alternativa B
“a Festa” refere-se à Flip de uma forma anafórica, ou seja, troca a sigla mencionada anteriormente por outro termo que traz o mesmo significado.
Questão 2
(Uece)
Fita métrica do amor
Como se mede uma pessoa? Os tamanhos variam conforme o grau de envolvimento. Ela é enorme pra você quando fala do que leu e viveu, quando trata você com carinho e respeito, quando olha nos olhos e sorri destravado. É pequena pra você quando só pensa em si mesma, quando se comporta de uma maneira pouco gentil, quando fracassa justamente no momento em que teria que demonstrar o que há de mais importante entre duas pessoas: a amizade.
Uma pessoa é gigante pra você quando se interessa pela sua vida, quando busca alternativas para o seu crescimento, quando sonha junto. É pequena quando desvia do assunto.
Uma pessoa é grande quando perdoa, quando compreende, quando se coloca no lugar do outro, quando age não de acordo com o que esperam dela, mas de acordo com o que espera de si mesma. Uma pessoa é pequena quando se deixa reger por comportamentos clichês.
Uma mesma pessoa pode aparentar grandeza ou miudeza dentro de um relacionamento, pode crescer ou decrescer num espaço de poucas semanas: será ela que mudou ou será que o amor é traiçoeiro nas suas medições? Uma decepção pode diminuir o tamanho de um amor que parecia ser grande. Uma ausência pode aumentar o tamanho de um amor que parecia ser ínfimo.
É difícil conviver com esta elasticidade: as pessoas se agigantam e se encolhem aos nossos olhos. Nosso julgamento é feito não através de centímetros e metros, mas de ações e reações, de expectativas e frustrações. Uma pessoa é única ao estender a mão, e ao recolhê-la inesperadamente, se orna mais uma. O egoísmo unifica os insignificantes.
Não é a altura, nem o peso, nem os músculos que tornam uma pessoa grande. É a sua sensibilidade sem tamanho.
MEDEIROS, Martha. Non-stop: crônicas do cotidiano. Rio de Janeiro: L&PM Editores. 2001.
Como figura de linguagem, a anáfora é caracterizada pela repetição de uma ou mais palavras no início de versos, orações ou períodos. Na crônica, a autora recorre à anáfora, nos três primeiros parágrafos do texto, pela repetição da conjunção “quando”, com o objetivo de
A) ampliar a expressividade do conteúdo da mensagem, enfatizando o sentido do termo repetido consecutivamente.
B) empregar a anáfora como um recurso estilístico indispensável a qualquer texto de cunho literário.
C) respeitar as características da crônica, já que a anáfora é um recurso linguístico próprio deste tipo de gênero textual.
D) fazer referência a uma informação previamente mencionada.
Resolução:
Alternativa A
A repetição anafórica de “quando” reforça a variação do amor e da pessoa amada dependendo das atitudes.
Notas
|1| VERISSIMO, L. F. Comédias para se ler na escola. Lisboa: Objetiva, 2001.
|2| ASSIS, M. Dom Casmurro. [s.l.] Google, Inc., 2013.
|3| LISPECTOR, C. Conto: “Menino a bico de pena” | Clarice Lispector – Instituto de Psicologia – USP. Disponível em: https://www.ip.usp.br/site/noticia/conto-qmenino-a-bico-de-penaq-clarice-lispector-18101969/.
|4| FLIP. Flip - Festa Literária Internacional de Paraty. Disponível em: https://www.flip.org.br/.
Fontes
ASSIS, M. Dom Casmurro. [s.l.] Google, Inc., 2013.
BECHARA, E. Moderna Gramática Portuguesa. 37. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.
FLIP. Flip - Festa Literária Internacional de Paraty. Disponível em: https://www.flip.org.br/.
ILARI, R. Alguns problemas no estudo da anáfora textual. Revista Letras, n. 56, p. 195–215, 2001. Disponível em: https://revistas.ufpr.br/letras/article/view/18414.
LISPECTOR, C. Conto: “Menino a bico de pena” | Clarice Lispector – Instituto de Psicologia – USP. Disponível em: https://www.ip.usp.br/site/noticia/conto-qmenino-a-bico-de-penaq-clarice-lispector-18101969/.
ROCHA LIMA. Gramática normativa da língua portuguesa: edição revista segundo o novo Acordo Ortográfico. 49. ed. Rio De Janeiro: José Olympio Editora, 2011.
VERISSIMO, L. F. Comédias para se Ler na Escola. Lisboa: Objetiva, 2001.