Entenda o mecanismo coesivo conhecido como catáfora e aprenda a usá-lo para estabelecer as relações entre frases e parágrafos do seu texto.
Observe as frases abaixo:
A mãe olhou-o e disse: Meu filho, não desista da vida.
Você pode perceber que o pronome oblíquo átono “o” fez referência a um outro termo apresentado posteriormente na frase, não é mesmo? Esse fenômeno é conhecido com catáfora e é utilizado para construir a relação de sentido entre frases e parágrafos. Por tratar-se de um fenômeno “transfrásico”, ou seja, um fenômeno que só é possível de ser realizado no plano do “discurso” ou do “texto”, é importante observar suas possibilidades de realização dentro da língua viva, daquela que é feita no discurso. Para tanto, vamos analisar dois parágrafos de uma crônica de Lya Luft e identificar as construções das relações de sentido por meio da catáfora.
Para que a existência valha a pena…
(...)
Para reinventar-se é preciso pensar: isso aprendi muito cedo.
Apalpar, no nevoeiro de quem somos, algo que pareça uma essência: isso, mais ou menos, sou eu. Isso é o que eu queria ser, acredito ser, quero me tornar ou já fui. Muita inquietação por baixo das águas do cotidiano. Mais cômodo seria ficar com o travesseiro sobre a cabeça e adotar o lema reconfortante: “Parar pra pensar, nem pensar!”
O problema é que quando menos se espera ele chega, o sorrateiro pensamento que nos faz parar. Pode ser no meio do shopping, no trânsito, na frente da tevê ou do computador. Simplesmente escovando os dentes. (...)
(LUFT,L. Para que a existência valha a pena. Disponível em:http://www.viva50.com.br/para-que-a-existencia-valha-a-pena-texto-de-lya-luft/>. Acesso em>09/11/2017)
Veja que a autora utiliza-se da catáfora ao referenciar conceitos que só posteriormente serão explicitados no texto:
“o lema reconfortante” = “parar para pensar, nem pensar”
ele = “o sorrateiro pensamento que nos faz parar.”
É possível notar que esse tipo de referência é feita por meio de uma substituição por sucessão, ou seja, substitui algum componente apresentado mais tarde no texto. Além disso, a catáfora enfática criada em “o lema reconfortante” cria uma expectativa no leitor a respeito do que seja esse lema.
Assim, dizemos que há catáfora quando o item de referência antecipa um componente que ainda não foi expresso no texto.
Veja mais alguns exemplos da realização da catáfora:
Só desejo isto: que você seja muito feliz.
Antecipo-lhes uma coisa: todos receberão o aumento.
Eram dois os motivos da briga: a mensagem no celular e o atraso do dia anterior.