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Guerra de Canudos

A Guerra de Canudos foi uma guerra civil travada no Nordeste do Brasil, entre os habitantes do Arraial de Canudos e as tropas do Exército Brasileiro.

Canudos, o vilarejo liderado por Antônio Conselheiro, foi destruído no final da Guerra de Canudos. Canudos, o vilarejo liderado por Antônio Conselheiro, foi destruído no final da Guerra de Canudos.

A Guerra de Canudos foi um dos piores conflitos do Brasil, durou quase um ano e provocou a morte de milhares de pessoas. Antônio Conselheiro, um pregador religioso que peregrinava pelo sertão nordestino, ganhou muitos seguidores. Na década de 1890, ele e seus seguidores passaram a viver em um vilarejo o qual chamavam de Belo Monte e que ficou conhecido como Canudos.

Em 1896, após os seguidores de Conselheiro incomodarem a elite da região e os governantes da capital do Brasil, iniciou-se a Guerra de Canudos. Três expedições militares foram enviadas para combater Canudos e foram derrotadas. A quarta expedição conseguiu a vitória, destruindo o arraial. Antônio Conselheiro morreu dias antes da derrota de Canudos.

Onde existiu Canudos foi criado um açude, que cobriu o antigo arraial com suas águas. Antônio Conselheiro se tornou uma lenda no sertão nordestino e é considerado por muitas pessoas um santo.

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Resumo sobre a Guerra de Canudos

  • A Guerra de Canudos foi um conflito travado entre os habitantes do arraial de Canudos e as tropas da república e da província da Bahia.
  • O conflito durou quase um ano e ocorreu na região da Caatinga nordestina, entre novembro de 1896 e outubro de 1897.
  • Canudos é o nome do arraial, que se tornou uma cidade, onde os seguidores de Antônio Conselheiro viviam.
  • Canudos foi o primeiro conflito brasileiro com extensa cobertura da imprensa nacional.
  • Euclides da Cunha testemunhou o fim de Canudos e foi correspondente de guerra do jornal O Estado de São Paulo.
  • Euclides da Cunha escreveu Os Sertões, obra sobre a Guerra de Canudos. É considerada uma das obras mais importantes da literatura brasileira.
  • Canudos é um tema muito presente na cultura brasileira, em filmes, peças teatrais, literatura de cordel, cinema, Carnaval, entre diversas outras manifestações artísticas.

Videoaula sobre a Guerra de Canudos

O que foi a Guerra de Canudos?

A Guerra de Canudos foi um conflito que ocorreu no sertão da Bahia, entre novembro de 1896 e outubro de 1897. Nela se enfrentaram tropas dos habitantes do arraial de Canudos e tropas da jovem república brasileira e da província da Bahia.

Como em qualquer conflito, o número de mortos na guerra varia muito, mas a maioria dos historiadores estabelece um número entre 10 e 20 mil mortos. Ela foi travada na Caatinga, em um período de seca, o que dificultou a movimentação das tropas do governo.

Durante parte da guerra, as tropas de Canudos utilizaram uma estratégia de guerrilha, atacando as tropas do governo no caminho para o arraial. Escondidos na Caatinga, eles atiravam nas tropas e fugiam, muitas vezes sem serem avistados pelos invasores. A ação era repetida em diversos pontos do caminho.

Contexto histórico da Guerra de Canudos

Na época da Guerra de Canudos, o Brasil era uma jovem república governada pelo primeiro presidente civil do Brasil, Prudente de Morais. Ele assumiu o cargo em 15 de novembro de 1894, dia do quinto aniversário da proclamação da república.

Nesse período, grandes proprietários de terra, conhecidos como coronéis, tinham grande poder político no interior do Brasil, obrigando as pessoas da região a votarem neles ou em pessoas indicadas por eles. Eles contavam com diversos jagunços, homens armados que faziam a proteção do coronel, além de impor a vontade dele na região. Esse fenômeno ficou conhecido no Brasil como coronelismo.

Na década de 1870 e 1880, diversos anos de seca ocorreram na região. A seca provocou grande fome, migrações e grande aumento da violência. Essas condições favoreciam a origem de movimentos messiânicos, como o de Canudos.

Veja também: República Velha — período marcado por voto de cabresto, troca de favores e revoltas pelo Brasil

Quem foi Antônio Conselheiro?

Antônio Vicente Mendes Maciel nasceu no sertão do Ceará, em 1830, em uma região extremamente pobre e marcada pelas frequentes secas. Com apenas quatro anos de idade, sua mãe faleceu, sendo criado pelo pai, um pequeno comerciante. Quando tinha 25 anos, seu pai faleceu, e Antônio passou a cuidar do comércio herdado.

Com 27 anos, ele se casou, vendeu o comércio e passou a migrar para diversas cidades, trabalhando como professor e como advogado. Em 1861, após se separar da esposa, Antônio começou a peregrinar pelo sertão nordestino. Extremamente religioso, ele parava nas vilas e cidades, pregava o cristianismo, realizava orações e falava ao povo. Foi nessa época que ganhou o apelido de Conselheiro.

Com o passar dos anos, algumas pessoas passaram a seguir Antônio Conselheiro em suas peregrinações, o número de seguidores aumentou para dezenas e depois para centenas. Em 1874, um jornal de Sergipe descreveu Antônio Conselheiro como um homem com cabelos longos, barba comprida, vestindo uma túnica azul, parecida com a dos padres, e com os pés descalços.

Antônio Conselheiro se tornou um líder espiritual e político para a população.

Em muitas localidades onde Conselheiro e seu povo acampavam, eles realizavam melhorias, como a construção de igrejas, manutenção de cemitérios, melhorias nas estradas, entre outras. Em 1893, Conselheiro encerrou sua peregrinação e passou a viver com seu povo em um arraial que ele batizou como Belo Monte, mas que ficou conhecido na história como Canudos. O arraial ficava na margem do rio Vaza Barris, o que permitia a agricultura e a pecuária no local.

Muitas pessoas passaram a migrar para Canudos, como jagunços, pequenos agricultores, ex-escravizados e mais uma infinidade de pessoas das camadas populares. Conselheiro governava Canudos, comandava a guarda criada para policiar e defender o arraial, e realizava missas quase diariamente.

Dentro de Canudos, as pessoas seguiam regras rígidas, a bebida alcoólica era proibida e faltar às rezas era punido com cadeia. Nas vésperas da Guerra de Canudos, viviam no local entre 20 mil e 25 mil pessoas, sendo a segunda maior cidade da Bahia, ficando atrás apenas de Salvador.

Qual foi a causa da Guerra de Canudos?

Canudos irritou inicialmente os coronéis da região, que passaram a perder parte da mão de obra para o arraial. Muitos coronéis também viam Conselheiro como uma ameaça, pois ele sempre proferia discursos contra os “poderosos”, maneira como se referia aos coronéis e ao governo republicano.

As pregações de Conselheiro também incomodaram os membros da Igreja Católica, que afirmavam que ele exercia o sacerdócio sem ser um membro da Igreja. As igrejas da região também perderam fiéis, que passaram a frequentar a igreja em Canudos. Jornais nas grandes capitais do Brasil, sobretudo no Rio de Janeiro, passaram a noticiar sobre Canudos e Antônio Conselheiro, descrevendo-o como monarquista, fanático religioso e louco.

→ Primeiros conflitos contra Canudos

Em outubro de 1896, um boato de que uma tropa de Canudos invadiria a cidade de Juazeiro ganhou força e 100 soldados da polícia foram enviados para proteger a cidade. Depois de muitos dias de espera, os soldados marcharam para atacar Canudos. Quando os soldados estavam dormindo no acampamento na cidade de Uauá, foram atacados de surpresa pelos sertanejos de Canudos.

Depois de cinco horas de combate, as tropas do governo tiveram 10 mortos e cerca de duas dezenas de feridos, retirando-se do campo de batalha. Essa foi a primeira vitória de Canudos. O governo brasileiro, ao saber da derrota das tropas, enviou o major Febrônio de Brito, com 250 soldados, para enfrentar Canudos. As tropas de Canudos novamente atacaram o Exército, provocando mais de 100 mortes nas tropas e forçando nova retirada.

Uma terceira expedição foi organizada, dessa vez sob o comando de Moreira César, conhecido como Corta Cabeças por ter decapitado dezenas de inimigos em uma guerra anterior. Ele atacou Canudos com 1300 soldados e acabou sendo morto em combate, o comando das tropas foi passado para o major Tamarindo, que também acabou sendo morto.

Sem as lideranças, as tropas federais mais uma vez deixaram Canudos. Prudente de Morais enviou uma nova expedição, dessa vez com mais de 5000 soldados, além de contar com metralhadoras e poderosos canhões.

Principais objetivos da Guerra de Canudos

O governo federal brasileiro acreditava que vencer Canudos era uma forma de garantir a continuidade da república no Brasil. Desde a proclamação, em 1889, diversos movimentos monarquistas ocorreram no país, e Canudos foi classificado como um movimento desse tipo.

Antônio Conselheiro criticava a república por ela ter separado o Estado da Igreja Católica. Na época de dom Pedro II, era a Igreja Católica que emitia documentos como certidões de nascimento, casamento e óbito. Com a república, esses documentos passaram a ser emitidos pelo Estado, em cartórios.

Após as primeiras derrotas no campo de batalha, os militares brasileiros passaram a ter como uma questão de honra a vitória sobre Canudos. Após a morte de Moreira César e do major Tamarindo, o sentimento geral entre as tropas era de vingança contra a população de Canudos.

Quem participou da Guerra de Canudos?

De um lado do conflito, tivemos as tropas de Canudos, compostas, na sua maioria, por pessoas que não tinham treinamento militar. Inicialmente as tropas contavam com poucos armamentos, a maior parte deles era de armas de caça. No entanto, após as duas primeiras batalhas, diversas armas e munições foram capturadas das tropas governistas.

Uma grande vantagem dos defensores de Canudos era a de conhecer a região onde as batalhas ocorreram, além de possuírem uma rede de apoio em cidades da área, cujos habitantes passavam informações importantes, como o deslocamento das tropas federais.

Os habitantes de Canudos se renderam nos últimos dias da guerra. Crianças e mulheres faziam parte do grupo.

As tropas federais contavam com soldados experientes, bem treinados e com farto armamento. Também engrossavam as tropas federais pessoas da região, como membros da polícia baiana. Estes últimos conheciam bem a região e sabiam se locomover pela Caatinga.

A última tropa enviada para Canudos foi a mais bem equipada de todas, contando inclusive com um canhão Withworth 32, que pesava quase duas toneladas. Ele foi transportado por 40 bois e apelidado de Matadeira pelos habitantes de Canudos.

A destruição da comunidade de Canudos

A quarta expedição brasileira para combater Canudos foi liderada pelo general Artur Oscar de Andrade Guimarães. Ele chegou com suas tropas a Canudos em maio de 1897, impondo um cerco na cidade. O objetivo era enfraquecer os defensores com a fome e o constante bombardeio de artilharia.

Artur Oscar perdeu cerca de 1000 homens no caminho para Canudos e solicitou reforços. Em agosto ele recebeu reforços de mais cinco mil soldados. Em 22 de setembro, Antônio Conselheiro faleceu, provavelmente de disenteria. Ele foi enterrado próximo da igreja nova de Canudos.

O cerco foi eficiente contra Canudos e enfraqueceu os defensores. Em outubro o exército iniciou uma grande ofensiva. As tropas federais foram conquistando Canudos, nas palavras de Euclides da Cunha, “palmo a palmo”. No dia 5 de outubro, os últimos quatro defensores do arraial, dois homens, uma criança e um idoso, foram mortos em combate.

Após a vitória, o general Artur Oscar ordenou que o corpo de Antônio Conselheiro fosse desenterrado. Seu corpo foi fotografado, sua cabeça foi retirada e enviada para o Rio de Janeiro, onde seria estudada.

Consequências da Guerra de Canudos

A primeira consequência da Guerra de Canudos foi a tragédia humana, em que aproximadamente 20 mil brasileiros perderam a vida. O arraial, após o fim da batalha, foi incendiado e, anos depois, o lugar se transformou em um açude.

Outra consequência da guerra foi a perda de popularidade do governo Prudente de Morais e do Exército Brasileiro. Inicialmente a maior parte da população brasileira apoiou a guerra, mas, com a chegada das notícias sobre as batalhas e sobre os excessos cometidos pelas tropas brasileiras, a opinião púbica mudou.

A santificação popular de Antônio Conselheiro é outra consequência do conflito. Ainda hoje na região, pessoas rezam para o Bom Conselheiro, algumas possuem imagens dele ao lado de imagens de santos católicos e acreditam que as águas do lugar onde existiu Canudos são santas.

Saiba mais: Balaiada — rebelião popular motivada pela pobreza na província do Maranhão

Guerra de Canudos na cultura popular

→ Literatura sobre a Guerra de Canudos

A obra Os Sertões, escrita por Euclides da Cunha e publicada em 1902, é considerada a principal obra relacionada ao conflito. Euclides da Cunha foi testemunha da guerra, relatando o que via como correspondente. Euclides dividiu sua obra em três partes: “A terra”, “O homem” e “A guerra”.

Em “A terra”, ele descreve o relevo da região, sua hidrografia, vegetação e clima. Em “O homem”, ele analisa o sertanejo, que é, nas suas palavras, “antes de tudo, um forte”. Na última parte, “A luta”, ele narra como foram os combates durante a quarta expedição.

Euclides denunciou os excessos cometidos pelas tropas brasileiras, como a execução de pessoas que haviam se rendido, entre elas mulheres e crianças. Ele afirma ainda que os defensores de Canudos eram pessoas simples, que lutavam por um pedaço de terra e para manter suas famílias.

→ Filmes sobre a Guerra de Canudos

  • Guerra de Canudos: lançado em 1997, o filme é considerado uma das melhores produções do cinema brasileiro. Foi dirigido por Sérgio Rezende e contou com grande elenco, com José Wilker, Cláudia Abreu, Paulo Betti, Marieta Severo, Selton Melo, José de Abreu e Tuca Andrada. O filme conta a história de uma família sertaneja que abandona a casa onde vive para acompanhar Antônio Conselheiro em suas peregrinações. A obra conta toda a história de Canudos, da sua fundação à destruição.
  • Sobreviventes – os filhos da Guerra de Canudos: é um documentário lançado em 2004, baseado em depoimentos de filhos de pessoas que sobreviveram à Guerra de Canudos. O documentário foi dirigido por Paulo Fontenelle e tem produção de Cleyde Afonso.

Exercícios resolvidos sobre a Guerra de Canudos

1. (UFRN) Entre os movimentos sociais que marcaram o período da República Velha no Brasil, destaca-se aquele liderado por Antônio Conselheiro, no sertão da Bahia. Sobre o movimento de Canudos, é correto afirmar:

a) A hierarquia católica se opôs às medidas repressivas adotadas pelo governo republicano, pois reconhecia o fundamento cristão daquela sociedade liderada pelo beato.

b) Os latifundiários mantiveram-se alheios ao movimento, uma vez que, radicado nas regiões áridas do interior, o arraial não representava nenhuma ameaça econômica ao sistema agroexportador.

c) O arraial de Canudos era visto pelos grupos miseráveis da região como uma possibilidade de vida melhor, em razão da propriedade comum da terra e dos rebanhos.

d) As expedições governamentais receberam o apoio dos grandes proprietários, porque eles eram vítimas dos ataques, saques e pilhagens dos grupos fixados em Canudos.

GABARITO. Alternativa C. A região de Canudos era extremamente pobre e a posse da terra ficava majoritariamente nas mãos dos coronéis. Canudos era um oásis em meio ao deserto, pois era onde a posse da terra era assegurada aos que chegavam.

2. (Mackenzie) É necessário que se sustente a fé de sua Igreja. A religião santifica tudo e não destrói coisa alguma, exceto o pecado. [...]. Estas verdades demonstram que casamento é puramente competência da santa Igreja, que só seus ministros têm poder de celebrá-lo [...].

Nesse trecho, Antônio Conselheiro, líder do movimento que levou à Guerra de Canudos (1896-1897):

a) Preparou as bases de uma sociedade religiosa, implantada após sua vitória na referida Guerra.

b) Considerou o protestantismo a única saída para o bem-estar das populações e resolução de seus problemas.

c) Expôs sua insatisfação com uma das medidas implantadas pela recém proclamada república.

d) Criticou o Estado laico, que proibia práticas religiosas — públicas e privadas — como o casamento católico.

e) Resgatou as discussões entre Estado e religião, resolvidas com a oficialização do cristianismo evangélico enquanto religião do Estado brasileiro.

GABARITO. Alternativa C. No trecho, Antônio Conselheiro critica o casamento civil, criado pela república em substituição ao casamento religioso, que ocorria na Igreja Católica.

Fontes

CUNHA, Euclides da. Os sertões. Ateliê Editorial, Cotia, 2022.

MELLO, Frederico Pernambucano de. A guerra total de Canudos. Global Editora, São Paulo, 2023.

Por Jair Messias Ferreira Junior

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