A Guerra dos Cem Anos foi um conflito que envolveu a França e a Inglaterra, causado por disputas dinásticas e territoriais, entre os séculos XIV e XV, que durou 116 anos.
A Guerra dos Cem Anos foi um longo conflito travado entre França e Inglaterra entre os séculos XIV e XV, marcado por disputas dinásticas e territoriais. Ocorreu em meio ao declínio do feudalismo e a crises econômicas. A guerra teve início na reivindicação do trono francês por Eduardo III da Inglaterra e também envolveu disputas por regiões estratégicas como a Aquitânia e Flandres.
A Guerra dos Cem Anos durou, na verdade, 116 anos, e foi marcada por três fases: as vitórias iniciais inglesas, a recuperação francesa sob Carlos V e a expulsão definitiva dos ingleses, impulsionada pela liderança de Joana D’Arc.
Leia também: Absolutismo — forma de governo que se consolidou na Europa Ocidental durante a Idade Média
A Guerra dos Cem Anos ocorreu entre os séculos XIV e XV, e foi um dos conflitos mais importantes da Idade Média. Esse embate envolveu as monarquias da França e da Inglaterra, refletindo um longo período de rivalidades políticas e dinásticas. O contexto histórico é marcado pela ascensão de Estados centralizados na Europa, ao mesmo tempo que a sociedade ainda vivia sob as influências do feudalismo.
O início da guerra, em 1337, também coincide com uma fase de declínio demográfico e econômico, em grande parte devido à Peste Negra, que devastou a Europa no século XIV.
Além das questões dinásticas, o cenário internacional era marcado por disputas territoriais, principalmente relacionadas à posse de territórios no Sudoeste da França, como a Aquitânia, que estava sob controle dos ingleses. A guerra também envolveu o controle sobre Flandres, uma região rica e próspera que, embora estivesse sob influência da França, mantinha fortes laços econômicos com a Inglaterra devido ao comércio de lã. Essa conjuntura refletia os interesses estratégicos, econômicos e políticos das duas maiores potências da época.
As causas da Guerra dos Cem Anos envolvem tanto disputas dinásticas quanto rivalidades territoriais e comerciais. Uma das principais causas foi a reivindicação do trono francês pelo rei Eduardo III da Inglaterra. A dinastia capetiana, que governava a França, enfrentou uma crise sucessória após a morte do último rei capetiano direto, Carlos IV, em 1328.
Eduardo III, neto de Filipe IV da França, reivindicou o trono francês com base em sua ascendência materna. Contudo, a nobreza francesa preferiu coroar Filipe VI, um parente da linha colateral dos Capetos.
Outra causa importante foi a questão territorial. A Inglaterra possuía terras na França, principalmente a região da Aquitânia, que estava em disputa. Essas terras haviam sido herdadas desde o casamento de Henrique II da Inglaterra com Eleonora da Aquitânia no século XII, mas a França queria retomar o controle total sobre elas. Além disso, o controle de Flandres, uma região vital para o comércio de lã, também estava em jogo, o que aumentou as tensões entre os dois reinos.
Veja também: Crise do século XIV — série de eventos catastróficos que atingiram a Europa medieval
A Guerra dos Cem Anos, apesar do nome, não foi um conflito contínuo ao longo de 100 anos. Na verdade, ela durou 116 anos, de 1337 a 1453. Esse período foi marcado por vários momentos de trégua e retomada dos combates, o que torna o conflito uma série de guerras intercaladas por pausas, em vez de um conflito ininterrupto. As fases da guerra foram definidas por batalhas decisivas e tratados de paz temporários que não conseguiram resolver as tensões entre França e Inglaterra.
O nome “Guerra dos Cem Anos” foi cunhado posteriormente pelos historiadores, que viram no longo período de hostilidades uma sequência de eventos interligados, apesar das pausas entre as diferentes fases de conflito.
A Guerra dos Cem Anos pode ser dividida em três fases principais:
Essa fase inclui as vitórias iniciais da Inglaterra, como as batalhas de Crécy (1346) e Poitiers (1356), nas quais os ingleses, utilizando táticas inovadoras e arqueiros longos, derrotaram exércitos franceses superiores em número. Durante essa fase, Eduardo III conquistou várias regiões francesas, culminando no Tratado de Brétigny (1360), que garantiu à Inglaterra grandes concessões territoriais.
Essa fase marcou uma reação francesa sob a liderança de Carlos V, que, com a ajuda do estrategista Bertrand du Guesclin, recuperou parte dos territórios perdidos. O esforço de reconquista francês foi eficaz em minar o controle inglês, e a Inglaterra, envolvida em problemas internos, começou a perder o controle de seus territórios na França.
A fase final da guerra começou com a invasão da França por Henrique V da Inglaterra e sua vitória esmagadora na Batalha de Agincourt (1415). No entanto, a liderança de Joana D’Arc inspirou uma recuperação francesa, que culminou na expulsão dos ingleses em 1453, exceto por uma pequena área em Calais, encerrando o conflito.
Joana D’Arc é uma figura central na fase final da Guerra dos Cem Anos. Nascida em 1412, em uma aldeia na região da Lorena, Joana afirmou ter recebido visões divinas instruindo-a a ajudar o rei Carlos VII a retomar o trono da França e a libertar o país dos ingleses. Em 1429, com apenas 17 anos, ela liderou um exército francês para liberar a cidade de Orléans, um ponto estratégico crucial cercado pelos ingleses.
Sua liderança inspirou os soldados e reverteu o curso da guerra em favor da França. Após a vitória em Orléans, Joana conduziu o rei Carlos VII a Reims, onde ele foi coroado como rei da França. Sua figura se tornou um símbolo de resistência e nacionalismo francês.
No entanto, em 1430, Joana foi capturada pelas forças borgonhesas, aliadas dos ingleses, e entregue aos ingleses. Ela foi julgada por heresia e bruxaria, condenada e queimada na fogueira em 1431. Décadas mais tarde, em 1456, foi reabilitada pela Igreja Católica, tornando-se uma das maiores heroínas da história francesa e, eventualmente, canonizada como santa.
A Guerra dos Cem Anos teve profundas consequências para ambos os países. Na França, o conflito provocou grandes destruições econômicas e sociais, mas também ajudou a consolidar o poder monárquico centralizado. A guerra trouxe o fim do sistema feudal francês, com a nobreza enfraquecida e o poder do rei fortalecido, marcando o início da transição para um Estado-nação moderno.
Para a Inglaterra, a guerra resultou na perda de quase todos os territórios franceses, exceto Calais, o que diminuiu seu papel no continente europeu. A derrota inglesa também contribuiu para as tensões internas que culminariam na Guerra das Rosas, um conflito dinástico entre as casas de Lancaster e York.
A Guerra dos Cem Anos foi um marco na formação dos Estados modernos de França e Inglaterra. O conflito ajudou a fortalecer o sentimento de identidade nacional em ambos os países. Na França, a guerra consolidou o poder da monarquia e foi um passo importante na criação de um Estado centralizado. O surgimento de figuras como Joana D'Arc também alimentou o nacionalismo francês.
Militarmente, a guerra trouxe mudanças importantes, como a substituição dos cavaleiros feudais por exércitos profissionais e o uso mais eficaz de armas como os arcos longos e canhões. O conflito também acelerou o declínio do feudalismo, com o aumento da importância dos exércitos permanentes e a introdução de novas táticas e tecnologias bélicas
Saiba mais: Revolução Francesa — ciclo revolucionário que marcou o início da queda do absolutismo na Europa
1. Durante a Idade Média, as disputas entre reinos europeus não se limitavam a questões territoriais, mas envolviam também questões dinásticas e políticas que influenciavam diretamente a estrutura das sociedades. A Guerra dos Cem Anos (1337-1453) foi um dos maiores e mais longos conflitos da época, colocando a França e a Inglaterra em campos opostos. Com base no contexto da Guerra dos Cem Anos, qual das alternativas explica corretamente o impacto desse conflito na estrutura política da França?
a) A guerra reforçou o poder das classes feudais sobre o rei, diminuindo a centralização monárquica.
b) A guerra acelerou o declínio do feudalismo e contribuiu para o fortalecimento da monarquia centralizada na França.
c) A guerra teve pouco impacto na estrutura política da França, mantendo a mesma relação entre nobreza e monarquia.
d) A intervenção inglesa garantiu a manutenção do feudalismo francês até o século XVII.
e) O conflito permitiu que a nobreza francesa se fortalecesse e controlasse todas as decisões políticas do reino.
Resposta correta: b) A Guerra dos Cem Anos foi crucial para o declínio do feudalismo na França e o fortalecimento da monarquia. O longo conflito enfraqueceu a nobreza feudal, que perdeu poder e influência, permitindo que o rei francês consolidasse o controle sobre o território e promovesse a centralização política.
2. A liderança de Joana D'Arc na Guerra dos Cem Anos é um dos episódios mais icônicos da história francesa. Nascida em 1412, em uma época de grande crise para a França, Joana afirmava ter visões divinas que a instruíam a libertar seu país do domínio inglês. Com apenas 17 anos, ela liderou tropas francesas para reverter o cerco de Orléans, inspirando o exército e consolidando a coroação de Carlos VII como rei da França em Reims. Qual foi o impacto da participação de Joana D'Arc na Guerra dos Cem Anos para a França?
a) Sua liderança foi decisiva para a vitória francesa e a expulsão definitiva dos ingleses em 1453.
b) Joana D'Arc garantiu a vitória francesa em todas as batalhas da guerra, transformando-a em uma heroína imbatível.
c) Embora sua presença tenha sido simbólica, a influência de Joana D'Arc não teve impacto significativo no curso da guerra.
d) Sua liderança garantiu a vitória francesa na Batalha de Crécy, a mais importante da guerra.
e) Joana D'Arc fracassou em todas as suas campanhas militares, mas ainda assim foi lembrada como uma heroína por ter sido capturada pelos ingleses.
Resposta correta: a) A participação de Joana D'Arc foi fundamental para reverter o curso da guerra a favor dos franceses. Sua liderança no cerco de Orléans e sua influência sobre Carlos VII foram decisivas para o fortalecimento moral das tropas e para a vitória final da França, consolidando o poder da monarquia.
Créditos da imagem
[1] Wikimedia Commons (reprodução)
Fontes
LE GOFF, J. História da Idade Média: esplendores e misérias de uma sociedade. 1. ed. São Paulo: Bonnier, 2023.
MINOIS, G. A Guerra dos Cem Anos: o nascimento da Europa ocidental. 1. ed. São Paulo: Bonnier, 2023.