Lobisomem
O lobisomem é um homem amaldiçoado com a condição de se transformar em um ser violento, que é metade homem e metade lobo, todas as noites de Lua cheia.
O lobisomem é uma das lendas mais conhecidas em todo o mundo e está presente também no folclore brasileiro. De acordo com a lenda, que teve origem na Grécia, o lobisomem é metade homem, metade lobo. Ele se transforma nas noites de Lua cheia e parte à procura de vítimas para matar. No Brasil, a lenda foi trazida pelos portugueses e possui diferentes versões de acordo com cada região do país.
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Quem é o lobisomem?
O lobisomem é um ser mítico que faz parte do folclore de vários países. A versão mais conhecida dessa lenda fala que o lobisomem é um ser – parte homem, parte lobo – que foi amaldiçoado com a licantropia, isto é, a ação de transformar-se em um lobo. A transformação ocorre durante as noites de Lua cheia.
Alguns dizem que o poder de se transformar em lobo não foi resultado de uma maldição, mas de um pacto com o diabo. Aquele que se transforma em lobisomem parte à procura de pessoas para matar e, depois que a Lua cheia desaparece, ele se transforma em homem novamente.
Como combater o lobisomem?
A lenda fala que só tem uma forma de parar o lobisomem: uma bala de prata no coração. Outras pessoas acreditam que qualquer objeto cortante – desde que feito de prata – pode matá-lo, mas a versão mais conhecida da lenda diz que apenas uma bala de prata no coração pode pará-lo.
A maldição do lobisomem pode ser transferida de pai para filho e aqueles que forem mordidos pelo lobisomem também se transformarão tempos depois. O lobisomem é conhecido por ter o corpo peludo, enorme força física, olhos vermelhos e longas garras.
De onde veio o lobisomem?
Poucos sabem, mas o lobisomem é originário da Grécia, pois a lenda surgiu no período da Grécia Antiga. Os gregos contavam que o lobisomem era um antigo rei, chamado Licaon, que tinha sido punido por Zeus, o principal deus da mitologia grega. Licaon era o deus de uma região da Grécia conhecida como Arcádia.
Os gregos contavam que Licaon era um rei cruel que assassinava todos os visitantes que se hospedavam em sua casa. Zeus, disfarçado de viajante, foi ao palácio de Licaon verificar se isso era verdade e, durante o jantar, Zeus percebeu que Licaon tentou servir-lhe carne humana. Zeus ficou furioso e, então, destruiu o palácio de Licaon, amaldiçoou-o e transformou o rei em lobo.
O ato de transformar-se em lobo – licantropia – acabou sendo chamado assim por conta da maldição de Licaon. A palavra é, portanto, originária do idioma grego. A influência da lenda grega acabou sendo transferida para Roma Antiga em algum momento da Antiguidade.
O lobisomem era conhecido na Grécia como licantropo e, em Roma, ficou conhecido como versipélio – embora esse nome fosse usado para o homem que era capaz de transformar-se em qualquer animal. Apesar dessa lenda ter surgido na Grécia, o estudioso de folclore Luís da Câmara Cascudo fala que existiam gregos que acreditavam que os lobisomens eram originários da região da Romênia|1|.
Por meio dos romanos, a lenda do lobisomem espalhou-se pelo continente europeu – os romanos conquistaram um vasto território naquele continente. Essa lenda, por sua vez, acabou modificando-se à medida que o cristianismo foi ganhando força na Europa. De maldição de Zeus, o lobisomem tornou-se uma punição para aqueles que cometiam pecados.
Na Irlanda medieval, acreditava-se que o lobisomem era uma punição de Deus àqueles que tinham zombado de São Patrício enquanto realizava suas pregações na região. Com a expansão da lenda, o antigo licantropo dos gregos começou a ser chamado de outras formas:
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Era chamado pelos germanos de wahrwolf;
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Era chamado pelos nórdicos de hamrammr;
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Era chamado pelos franceses de loup-garou;
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Era chamado pelos portugueses de várias formas, como lubiszon e lobohomem.
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Lobisomem em Portugal
A lenda do lobisomem chegou ao Brasil por meio dos portugueses e, por isso, é importante termos uma noção de como é essa lenda em Portugal. Os portugueses possuem diferentes versões para explicar a origem do lobisomem.
Em uma versão, acredita-se que o lobisomem seja um homem pálido, alto e magro. Em outra versão, os portugueses falam que o lobisomem é o primeiro filho homem nascido de um casal que teve sete filhas. Nesse caso, o homem se transformaria em lobisomem em uma terça ou sexta quando tivesse a idade de treze anos desde que passasse por um cruzamento no qual um jumento rolou no chão.
A transformação aconteceria todas as terças ou sextas, e o lobisomem sairia de meia-noite até as 2 horas passando por cemitérios, amedrontando vilas, apagando as luzes etc. Quem ferir o lobisomem consegue colocar fim À maldição, mas se ficar sujo com o sangue do lobisomem, herdará a maldição.
Uma informação importante e que muitos desconhecem é que os portugueses acreditavam na existência de lobisomens do sexo feminino – esse traço o folclore brasileiro não herdou.
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Lobisomem no Brasil
O interior do Brasil era, e ainda é, cheio de histórias que falam sobre a existência do lobisomem. Essa lenda, trazida pelos portugueses, tornou-se extremamente popular e, por causa de sua difusão pelo território brasileiro, assumiu características diferentes de acordo com cada região do país.
Em algumas regiões do Brasil, a crença de que o lobisomem era o primeiro filho homem de um casal que teve sete filhas permaneceu. Além disso, no Sul e no Norte do país, existem diferentes crenças a respeito do surgimento do lobisomem.
No Norte, acredita-se muito que o lobisomem é um homem anêmico que, quando se transforma em lobisomem, vai atrás de vítimas para beber o sangue dela e suprir a carência de vitaminas de seu próprio organismo. Já no Sul do Brasil, acredita-se que o lobisomem é resultado de uma relação afetiva considerada impura.
Os sertanejos do interior paulista acreditavam que o lobisomem invadia as vilas e fazendas para comer as crianças. Outros acreditavam que o alvo era apenas as crianças não batizadas – o que fazia os pais batizarem suas crianças rapidamente depois que elas nasciam. A solução para lidar com o lobisomem era encontrada na fé.
Alguns acreditam que o lobisomem poderia ser curado por meio de um ferimento grave, mas, em geral, a cultura popular fala que a forma de parar o lobisomem é utilizar uma bala banhada em cera de vela do altar de uma igreja que tivesse celebrado três missas do galo.
Como identificar o lobisomem segundo a cultura popular?
Para saber se um homem é lobisomem, basta reparar em suas ações: se for um homem irritadiço, que come pouco, mas gosta de comidas salgadas e apimentadas, for preguiçoso, viver cansado e tiver muita sede, a chance de ser o lobisomem é grande|2|.
Notas
|1| CÂMARA CASCUDO, Luís da. Geografia dos mitos brasileiros. São Paulo: Global, 2012, p. 153.
|2| Idem, p. 161.