História

Stalinismo

O stalinismo foi o regime totalitário que existiu na União Soviética (URSS) durante os anos em que Josef Stalin foi o governante do país. No decorrer do regime, a União Soviética passou por uma intensa industrialização, houve reformas significativas na área da agricultura, e os opositores do líder foram perseguidos implacavelmente. O saldo do stalinismo após quase três décadas de governo foram mais de 10 milhões de mortos.

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Como Stalin tornou-se governante da URSS?

Stalin tornou-se governante da União Soviética, em 1927, ano que expulsou seus opositores do partido, sua trajetória de ascensão ao poder, no entanto, durou pelo menos quatro anos. Tudo se iniciou em 1923, quando Lenin, então governante da URSS, teve um derrame e ficou com a saúde debilitada. A disputa pelo poder que começou ali envolveu diretamente quatro nomes, sendo os dois principais postulantes: Stalin e Leon Trotsky.

Leon Trotsky disputou o comando da União Soviética com Stalin, mas foi derrotado e expulso do partido.[1]

Ao longo desse período, Stalin usou de sua influência como político e burocrata do partido para impor-se sobre seus adversários. Em 1927, ele conseguiu expulsar seus opositores do partido, o que colocou fim na disputa pelo poder e consolidou-o na posição de governante soviético.

Quando assumiu o poder, Stalin realizou inúmeras transformações na União Soviética, tais como: reformas na economia, perseguição dos ricos e seus opositores, tomada das terras dos grandes camponeses, e estabelecimento de um regime de terror.

Economia stalinista

A economia stalinista era planificada, ou seja, era integralmente controlada pelo Estado. Essa inclusive foi uma grande mudança em relação a Lenin, pois o antigo governante realizou a abertura do país a uma economia de mercado por meio da Nova Política Econômica (NEP).

Stalin acabou de vez com a economia de mercado e estatizou a economia do país. Áreas importantes, como a indústria e a agricultura, passaram inteiramente para as mãos do Estado, e mudanças radicais foram feitas. Algumas dessas geraram insatisfação na população, e o Estado agiu violentamente para reprimir os que não concordavam com seu líder.

A primeira mudança sensível promovida por Stalin foi realizar um plano de industrialização maciça da União Soviética. Esse programa ficou conhecido como Plano Quinquenal e estabelecia metas a serem alcançadas num prazo de cinco anos, e então novas metas eram estabelecidas.

Essas eram elevadas, e aqueles que trabalhavam nas indústrias eram colocados sob grande pressão e obrigados a trabalharem até a exaustão. Só para termos uma ideia, o primeiro Plano Quinquenal, lançado em 1929, estabelecia que a produção industrial deveria aumentar cerca de 180%|1|.

O Plano Quinquenal também procurava aumentar a extração de carvão e outros recursos que seriam fundamentais para incentivar a industrialização soviética. O plano obteve certo sucesso e transformou a União Soviética em uma grande potência industrial, embora o custo humano tenha sido elevado. Referente à agricultura, as intervenções stalinistas não deram tão certo assim.

Nessa área, Stalin realizou a coletivização da terra. Nesse processo, ele ordenou que todas as terras produtivas passassem a pertencer ao Estado. Aboliu-se a propriedade privada, e tudo que tinha nela, como a produção, as ferramentas e os animais, era tomado pelo Estado. No lugar dessas propriedades, formavam-se as fazendas coletivas, locais em que os camponeses eram enviados para trabalhar.

Camponeses em uma fazenda coletiva construída na região do Uzbequistão durante a década de 1930.

Com a coletivização, Stalin tinha como grande foco os kulaks, a classe camponesa detentora de muitas terras. A resistência dos kulaks ao processo de coletivização foi enorme, sobretudo na Ucrânia. Em contrapartida, a resposta do Estado à resistência foi dura e milhões de camponeses foram enviados para campos de trabalho forçado, que ficavam localizados em regiões remotas do território soviético.

Nas fazendas coletivas, o Estado estabelecia metas que os camponeses deveriam cumprir. Esse sistema, porém, desorganizou a produção agrícola da União Soviética, e o resultado foi que a fome espalhou-se pelo país e causou a morte de milhões de pessoas. Na Ucrânia, por exemplo, os historiadores debatem que a fome nesse país foi uma política deliberada do stalinismo para enfraquecer a resistência que existia lá.

Na Ucrânia, a Grande Fome de 1932-33 recebeu o nome de Holodomor e foi responsável pela morte de cerca de 5,5 milhões de pessoas. A violência do Estado stalinista era tamanha que os camponeses que não cumprissem suas metas eram obrigados a entregar suas sementes e até mesmo seus animais. Os camponeses também eram proibidos de mudar-se e de ir às cidades à procura de alimento.

Terror stalinista

Outras ações marcantes do stalinismo estão relacionadas com o terror promovido pelo Estado nesse período. Opositores do regime foram perseguidos implacavelmente, o que resultou na morte de até 20 milhões de pessoas, segundo estimativas do historiador Eric Hobsbawm|2|.

O método stalinista de lidar com seus opositores resultava no fuzilamento desses ou então no seu envio para as gulags, os campos de trabalho forçado. O terror stalinista teve auge no período de 1936 a 1939 e ficou conhecido como Grande Terror. Nessa fase, o regime ordenou o fuzilamento de quase 700 mil pessoas.

Milhões de pessoas foram enviadas para campos de trabalho forçado. Na imagem estão ruínas de uma antiga gulag.

Esse terror também era consequência da paranoia de Stalin, que acreditava a tempo momento que uma conspiração contra ele estava em curso. O Grande Terror fez com que expurgos fossem realizados em todo o país, inclusive no interior do partido e do Exército Vermelho. Minorias também foram perseguidas, sobretudo os poloneses.

Para justificar as milhares execuções realizadas, o Estado soviético encenava julgamentos que acusavam os réus de estarem conspirando contra o país. Em uma dessas encenações, Kamenev e Zinoviev, membros do partido que disputaram o poder com Stalin na década de 1920, foram condenados e executados.

Esses julgamentos encenados davam um ar de legalidade à violência que o Estado cometia. A propaganda política e o culto ao líder também eram ferramentas utilizadas para normalizar toda essa violência.

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Stalinismo na Segunda Guerra

Civis soviéticos sendo executados pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.[2]

A Segunda Guerra Mundial foi um dos grandes acontecimentos que marcaram a história do stalinismo. A ação de Stalin à frente da União Soviética foi fundamental para que o país conseguisse derrotar os nazistas na guerra. Novamente, como tudo no stalinismo, a ação do Estado foi violenta e demandou grandes sacrifícios da população soviética.

A guerra entre alemães e soviéticos era algo que, em 1939, parecia ser inevitável, pois os dois regimes eram ideologicamente opostos. O Pacto Molotov-Ribbentrop acabou sendo um grande balde de água fria para todos que esperavam esse conflito entre as duas nações. Por meio desse pacto, alemães e soviéticos estabeleceram um acordo de paz (embora ambos os lados soubessem que esse era de fachada).

Stalin esperava que seu país estivesse pronto em 1942 para lutar contra os alemães e, por isso, embarcou em outras aventuras militares, primeiro na Mongólia e depois na Finlândia e Polônia. A experiência na Finlândia (os soviéticos foram derrotados) mostrou que o exército soviético ainda estava despreparado (fruto dos expurgos de Stalin) para uma guerra contra os alemães.

Em 1941, as notícias de que os alemães realizariam um ataque vinham de todos os lados. Até mesmo alemães haviam denunciado a Stalin a possibilidade real de invasão da URSS pelos nazistas. Stalin ignorou os avisos, não preparou suas fronteiras, e, quando os alemães invadiram o país em junho de 1941, encontraram grande facilidade para conquistar o oeste soviético.

A insatisfação de certas regiões com as ações de Stalin era tão grande que houve comemorações quando os nazistas chegaram, mas a comemoração logo converteu-se em medo. A reação soviética veio, mas acumulou derrotas e perdas humanas e materiais para os alemães nos primeiros meses. Stalin instituiu uma lei que proibia soldados do Exército Vermelho de recuarem e liderou uma grande força de resistência.

Indústrias foram desmontadas e levadas para o leste soviético, homens de todas as regiões do país foram trazidos para o front, e mais de um milhão de prisioneiros das gulags foram libertados para lutar pelo país. A resistência soviética esteve a um triz de ser derrotada — Moscou quase foi conquistada.

A enorme quantidade de soldados e o aumento na capacidade industrial do país garantiram a vitória. Em abril de 1945, as tropas soviéticas atacaram Berlim e derrotaram o nazismo após quase quatro anos de guerra contra os alemães. Stalin transformou-se em herói soviético, mas o saldo foi duro: cerca de 25 milhões de mortos, dos quais cerca de oito milhões eram soldados.

Fim do stalinismo

Stalin governou a União Soviética de 1927 a 1953.[3]

O stalinismo, enquanto regime, acabou com a morte de seu líder, Josef Stalin, em março de 1953. Não obstante, algumas práticas permaneceram em vigor na União Soviética, como o Plano Quinquenal. Quando Stalin morreu, ele gozava de grande prestígio, consequência da vitória na guerra.

O culto a Stalin perdeu força em meados da década de 1950, quando o governante soviético chamado Nikita Kruschev denunciou os crimes cometidos pelo stalinismo ao longo das décadas em que o regime esteve no poder.

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Características

A respeito do stalinismo, o consenso que existe entre os historiadores define esse regime como totalitário. Ao longo de 30 anos de governo, algumas características podem ser bem delineadas, como:

  • Centralização do poder na figura do líder;

  • Culto à personalidade do líder;

  • Economia inteiramente planejada pela ação do Estado;

  • Uso do terror como arma para enfraquecer as oposições ao regime;

  • Uso da propaganda política para alinhar/doutrinar a opinião pública;

  • Perseguição da religião.

Notas

|1| SIEGELBAUM, Lewis. A construção do Estalinismo. In.: FREEZE, Gregory L. (org.). História da Rússia. Lisboa: Edições 70, 2017, p. 366.

|2| HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: o breve século XX 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p. 383.

Créditos das imagens

[1] Olga Popova e Shutterstock

[2] Everett Historical e Shutterstock

[3] bissig e Shutterstock

Por Daniel Neves Silva

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