Olga Benário foi uma militante e revolucionária comunista, judia e alemã. Ela veio ao Brasil na década de 1930 para ajudar Luís Carlos Prestes em um levante comunista.
Olga Benário Prestes foi uma revolucionária comunista, judia e alemã que esteve presente no Brasil na década de 1930. Ela entrou na militância comunista bastante cedo, mudando-se para a União Soviética e tornando-se uma importante revolucionária. Foi enviada ao Brasil para garantir a segurança de Luís Carlos Prestes, um militante brasileiro.
Ela se apaixonou, casou-se e engravidou de Prestes. Juntos atuaram na Intentona Comunista, em 1935, mas o fracasso do levante fez com que eles fossem presos no ano seguinte. Olga Benário foi deportada pelo governo brasileiro grávida e foi enviada para campos de concentração na Alemanha, onde faleceu, em 1942.
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Olga Gutmann Benário Prestes nasceu na cidade de Munique, no dia 12 de fevereiro de 1908. Ela era filha de Leo Benário, um famoso e bem-sucedido advogado, que era membro do Partido Social-Democrata e que era conhecido por ajudar famílias necessitadas. Sua mãe, chamada Eugenia Guttman Benário, era conhecida por ter origem em uma rica família judia.
Olga Benário cresceu em uma família bem-sucedida, mas a boa vida não fechou os olhos dela para os problemas do mundo. Fortemente influenciada pelos ideais progressistas que seu pai defendia, Olga Benário demonstrou já na sua adolescência o seu interesse por ideais que envolviam a defesa da igualdade e da justiça social. Em contrapeso às ideias que seu pai defendia, sua mãe, Eugene, era conhecida por ser uma mulher conservadora e religiosa que defendia valores tidos como burgueses para sua família.
Ao longo de sua vida, Olga Benário manteve dois relacionamentos, embora nenhum deles tenha sido de fato casamentos convencionais. O primeiro relacionamento dela foi com um militante comunista chamado Otto Braun. O namoro de Olga Benário com Otto Braun se estendeu de 1926 a 1931.
Já o relacionamento de Olga Benário com Luís Carlos Prestes se iniciou no meio de uma missão na qual ambos foram escalados para participar juntos. Na década de 1930, Olga Benário e Prestes residiam na União Soviética, onde recebiam treinamento militar e ideológico. Olga Benário foi escolhida para escoltar Prestes em segurança ao Brasil.
Prestes conduziria a organização de uma revolução comunista no Brasil e a viagem de volta dele seria realizada com Olga Benário. Ambos assumiriam o disfarce de serem um casal português recém-casado. No meio da viagem, os dois iniciaram um relacionamento amoroso, que se tornou um casamento.
Olga Benário e Luís Carlos Prestes mantiveram o seu relacionamento entre 1934 e 1942, ano em que Olga Benário foi executada. Entretanto, por conta da prisão de ambos, a última vez que eles se viram foi no começo de 1936.
Olga Benário teve uma filha, fruto de seu relacionamento com Luís Carlos Prestes. A filha do casal ficou conhecida como Anita Leocádia Benário Prestes, tendo nascido em Berlim, em 27 de novembro de 1936, quando sua mãe estava sob posse do governo nazista.
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Desde a sua adolescência, Olga Benário demonstrou interesse por ideais progressistas e quando tinha 15 anos de idade aderiu ao comunismo. Essa ideologia defende a transformação da sociedade pela derrubada da ordem capitalista e o estabelecimento de um regime socialista, que faria a transição até o comunismo ser integralmente instalado.
A ideologia comunista é marcada por defender o estabelecimento de uma sociedade que seja pautada pela igualdade. Além disso, Olga Benário, enquanto militante comunista, acreditava na revolução como o caminho para a derrubada do capitalismo, além de defender a importância da luta organizada contra o fascismo.
Com 15 anos de idade, Olga Benário ingressou no Grupo Schwabing, um grupo clandestino de orientação comunista. Com 16 anos ela se mudou para Berlim com seu namorado, Otto Braun, e lá começou a se destacar no interior da militância comunista. Ele se tornou uma figura importante da base operária localizada em um bairro de Berlim chamado Neukölln.
Lá ela foi secretária de Agitação e Propaganda e seu sucesso foi tamanho que ela foi promovida para assumir a posição em toda a cidade de Berlim. O foco de Olga Benário era o combate contra o crescimento das milícias de extrema-direita, sobretudo as nazistas. Olga Benário tornou-se foragida da Justiça quando liderou um ataque que resgatou seu namorado da prisão, em 1928.
Isso fez com que ela fosse acusada de alta traição, obrigando Olga a fugir da Alemanha. No mesmo ano ela se refugiou em Moscou, capital da União Soviética. Lá ela recebeu treinamento militar e, em 1934, recebeu a missão de vir ao Brasil escoltar Luís Carlos Prestes.
Era missão de Olga Benário garantir que Luís Carlos Prestes chegasse ao Brasil em segurança. Prestes havia um longo histórico em nosso país, pois havia sido um dos líderes da Coluna Prestes, que lutou, especialmente, contra o governo de Artur Bernardes, na década de 1920. A Coluna Prestes abaixou suas armas em 1927, fugindo para a Bolívia.
Prestes também se refugiu na União Soviética, recebendo a missão de liderar um levante comunista no Brasil. Para o sucesso da sua missão, Olga Benário e Luís Carlos Prestes viajariam como um casal de portugueses que havia acabado de se casar. Prestes deveria entrar no Brasil de maneira clandestina, pois ele também era um foragido da Justiça.
Aqui no Brasil, Luís Carlos Prestes era presidente de honra da Aliança Nacional Libertadora (ANL), grupo político de esquerda que defendia a tomada do poder no Brasil por meio de um levante revolucionário, além de se colocar na frente de resistência contra o fascismo no Brasil. Ele também era membro do Partido Comunista do Brasil (PCB), sendo aceito nos quadros desse partido por pressão do governo soviético.
Aqui no Brasil, Prestes e Olga Benário se uniram com uma rede de espiões e outros revolucionários que foram enviados pela União Soviética para garantir o sucesso de um levante comunista no Brasil. Os preparativos começaram a ocorrer secretamente sob a liderança de Prestes, mas o governo de Vargas estava à espreita, procurando deter Prestes e sua célula revolucionária.
A Intentona Comunista foi iniciada de maneira precipitada quando um levante se iniciou em Natal, estendendo-se para Recife e para o Rio de Janeiro. O governo de Vargas controlou rapidamente a situação, partindo a partir daí para a caçada dos envolvidos no levante comunista.
O fracasso da Intentona Comunista fez com que Olga Benário e Luís Carlos Prestes se tornassem alvos prioritários do governo brasileiro, vivendo na clandestinidade para não serem capturados. Os dois estavam escondidos em uma residência no Méier, na cidade do Rio de Janeiro, mas foram capturados no dia 5 de março de 1936.
Outros colegas de Olga Benário e Prestes também foram presos e colocados sob pesada tortura pelas agências policiais brasileiras sob o comando de Filinto Müller. Luís Carlos Prestes foi mantido na prisão até o ano de 1945, nunca mais vendo sua esposa. Já Olga Benário, pouco tempo depois de ser presa, descobriu estar grávida.
Enquanto estava presa, Olga Benário foi informada dos riscos de deportação para a Alemanha. Isso representava um risco real para a vida da militante comunista, uma vez que, além de comunista, ela era judia e a Alemanha estava sob o domínio dos nazistas. O governo alemão formalizou o pedido de extradição de Olga Benário, dando início a um grande movimento internacional por sua libertação.
O advogado de Olga Benário alegou que a extradição da alemã era ilegal porque ela estava grávida e sua filha era de um brasileiro. Ainda em 1936, a Suprema Corte do Brasil autorizou a deportação de Olga Benário para a Alemanha. Em 27 de agosto, Getúlio Vargas assinou o documento de expulsão de Olga Benário.
A alemã foi colocada em um navio que navegou na direção da Alemanha e, no dia 18 de outubro de 1936, Olga chegou à Alemanha. Ela estava grávida de sete meses quando embarcou forçadamente no navio alemão. Olga Benário deu à luz a sua filha em Barnimstrasse, uma prisão alemã localizada em Berlim.
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Olga foi mantida com sua filha durante a fase de amamentação, mas depois teve sua filha retirada pelas autoridades nazistas. Uma campanha internacional fez com que a criança, chamada Anita, fosse entregue a Leocádia Prestes, mãe de Luís Carlos Prestes. Em 1938, Olga Benário foi enviada para o campo de concentração de Lichtenburg.
Em 1939, Olga Benário foi enviada para Ravensbrück, onde foi submetida a um regime de escravidão pelos nazistas. Em 1942, ela foi transferida para o campo de extermínio de Bernburg e lá foi executada em uma câmara de gás no dia 23 de abril de 1942. A família de Olga só recebeu notícias de sua morte com o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945.
Créditos da imagem
[1] Bundesarchiv, Bild 183-P0220-303 / CC-BY-SA 3.0 / Wikimedia Commons
Fontes
MORAIS, Fernando. Olga. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
JAKOBSKIND, Mário Augusto. Olga Benário: mentiras históricas repetidas até virarem verdades absolutas. Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2017/11/21/coluna-or-olga-benario-mentiras-historicas-repetidas-ate-virarem-verdades-absolutas