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Revolta da Vacina

A Revolta da Vacina aconteceu em 1904, no Rio de Janeiro, na época capital do Brasil, e teve como motivação a insatisfação da população com a campanha de vacinação obrigatória proposta por Oswaldo Cruz, líder da Diretoria Geral de Saúde Pública. Durante uma semana, a população carioca promoveu protestos, mas a repressão policial colocou fim na revolta popular.

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Rio de Janeiro e problemas sanitários

No começo do século XX, o Rio de Janeiro era a maior cidade brasileira e tinha passado por um crescimento populacional vertiginoso a partir do final do século XIX. Esse crescimento populacional deu-se de maneira desorganizada, e a questão sanitária logo se tornou um problema importante para a capital.

O Rio de Janeiro tinha fama nacional e internacional de ser uma cidade onde se proliferavam as pestes. Diferentes doenças espalhavam-se pela população carioca e causavam epidemias frequentemente, resultando na morte de milhares de pessoas. Na década de 1850, por exemplo, cerca de 1/3 da cidade contraiu febre amarela e quase cinco mil pessoas morreram.

Muitos médicos acreditavam nas teorias miasmáticas e falavam que eram os miasmas, gases pútridos que circulavam pela cidade, que causavam tantas doenças. Para solucionar isso, eles  propunham o aterramento dos pântanos e reformas urbanas para eliminar-se as residências mais pobres do centro da cidade e criar-se avenidas mais largas. Isso permitiria maior circulação de ventos, e os miasmas seriam dissipados.

Apesar de as teorias miasmáticas não terem sido comprovadas, pois logo se descobriu que as doenças eram causadas por micróbios, a proposta de reforma e modernização da cidade ganhou força, impulsionada ainda pelo projeto de modernização que tinha sido realizado em Paris, na França, ainda no século XIX.

Reforma Pereira Passos

Os projetos de reforma ganharam força com Rodrigues Alves, eleito presidente do Brasil em 1902. Ele defendeu a reforma da cidade durante a campanha e reforçou esse desejo na sua posse. Depois de assumir, o projeto virou realidade, e o executor da reforma do Rio de Janeiro foi o prefeito da cidade, o arquiteto Pereira Passos.

A reforma tinha como objetivo modernizar o Rio de Janeiro, embelezando a cidade ao estilo da reforma de Paris. Avenidas largas e novos prédios foram construídos na região central, até então ocupada por cortiços — moradias coletivas onde moravam os pobres, sobretudo negros ex-escravizados ou descendentes de escravizados.

As novas obras só foram possíveis por meio do desalojamento dessa população em um processo violento e autoritário. Centenas de prédios foram destruídos, e grande parte da população desalojada não tinha condições de morar nos subúrbios. A solução encontrada por muitos foi mudar-se para residências em condições piores ou para os morros da cidade.

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Oswaldo Cruz e o projeto sanitário

O presidente Rodrigues Alves convocou polícia e exército para reprimir a população que se rebelou no Rio de Janeiro, em 1904.[1]

Com a reforma do centro do Rio de Janeiro, estava o combate contra as doenças que afetavam a cidade. Esperava-se que, com o embelezamento da capital e o combate das doenças, a cidade tornar-se-ia mais atrativa para os estrangeiros. Para combater as doenças, Oswaldo Cruz foi nomeado como chefe da Diretoria Geral de Saúde Pública (DGSP).

Oswaldo Cruz decidiu apostar em três frentes de combate: febre amarela, varíola e peste bubônica. Para combater a febre amarela, formaram-se equipes para destruir os focos que permitiam a proliferação do mosquito que disseminava a doença. No caso da peste bubônica, foi criada uma verdadeira operação para exterminar os ratos da cidade.

  • Vacinação obrigatória

No caso da varíola, a forma encontrada de combater-se a doença foi pela vacinação obrigatória da população. Essa medida foi apresentada como projeto de lei em junho de 1904 e aprovada e transformada em lei em 31 de outubro do mesmo ano. A proposta não agradou à população do Rio de Janeiro.

Isso porque a campanha de vacinação, como acontecia com a reforma da cidade, deu-se de maneira autoritária, o que gerou irritação na população. Além disso, a população não teve acesso a informações sobre a importância da vacinação, o que deu espaço para que uma série de boatos espalhassem-se. Temia-se, por exemplo, que as mulheres fossem vacinadas nas coxas, o que seria uma desonra para elas, dentro dos padrões de moral da época.

Foi formada uma liga de moradores contra a vacinação no começo de novembro, e, no dia 9 do mesmo mês, uma notícia saiu informando que a prefeitura pretendia aprovar uma lei que estabeleceria restrições públicas a todos que não se vacinassem. Nessa lei, a população seria obrigada a ter um comprovante de vacina para conseguir casar-se, arranjar um emprego, viajar etc.

Revolta da Vacina

A revolta popular foi imediata e iniciou-se em dois lugares do Rio de Janeiro: primeiro no Largo do São Francisco, depois na Praça Tiradentes. No dia 10 de novembro, os primeiros protestos aconteceram e as primeiras vozes contra a vacina levantaram-se. Os protestos seguiram-se, e, no dia 12 de novembro, cerca de quatro mil pessoas já protestavam.

O presidente convocou a polícia e o exército para intervir na situação, e até soldados de outros estados foram enviados para o Rio de Janeiro. Os protestos ganharam volume e força no dia 13 de novembro, o que fez com que a violência se espalhasse pelas ruas do Rio de Janeiro. Prédios públicos foram invadidos, houve vandalismo nas ruas, bondes foram incendiados, e barricadas foram formadas em diferentes bairros da cidade.

Alguns dos manifestantes estavam com armas de fogo e houve troca de tiros contra a polícia. Muitos arrancaram os paralelepípedos do chão e lançavam-nos contra as forças de polícia. Muitas ruas ficaram no escuro durante a noite porque os lampiões que as iluminavam foram destruídos pela população rebelada.

Os trabalhadores organizaram-se durante os dias de revolta, e militares insatisfeitos com o presidente aproveitaram-se da situação e tentaram um golpe militar em meio ao caos. Esse golpe foi conduzido pelo marechal Hermes da Fonseca, presidente do Brasil de 1910 a 1914. O golpe falhou depois de confrontos nas ruas da capital.

Leia mais: Revolta da Chibata - uma das revoltas populares da Primeira República

Desfecho

Em 16 de novembro, Rodrigues Alves conseguiu dos parlamentares a aprovação do pedido de estado de sítio. Isso deu novos poderes ao presidente, permitindo que ele pudesse atuar de maneira mais repressiva. Nos dias seguintes, a revolta foi controlada, mas uma semana dela deixou um saldo de 31 mortos. Apesar de tudo, a campanha de vacinação teve sucesso em erradicar a varíola do Rio de Janeiro.

Crédito da imagem

[1] Galeria dos Presidentes

Por Daniel Neves Silva

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