O polissíndeto é uma figura de linguagem que repete conjunções para gerar um efeito estilístico, geralmente de ênfase ou de intensificação. É muito usado em poemas e músicas.
O polissíndeto é uma figura de linguagem que usa a repetição de conjunções para gerar um efeito estilístico, geralmente de ênfase ou intensificação. Seu uso deve ser moderado para que o texto não fique repetitivo, principalmente em textos não literários.
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O polissíndeto é uma figura de linguagem que usa a repetição de conjunções para dar algum efeito estilístico. Geralmente, intensifica e enfatiza uma ideia. Ele já mostra seu significado no próprio nome: poli significa “muitos” e sindeto significa “ligação” ou, na gramática, “conjunção”. Assim, o polissíndeto faz parte das figuras de sintaxe (ou de construção), um subgrupo das figuras de linguagem que usam construções sintáticas incomuns.
No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!|1|
No trecho do poema “A um poeta”, de Olavo Bilac, o eu lírico usa o polissíndeto. A repetição da conjunção “e” reforça a ideia da dificuldade e do trabalho envolvidos em fazer um poema.
O mundo é grande e cabe
nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe
na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar|2|
No poema “O mundo é grande”, de Carlos Drummond de Andrade, o autor usa o polissíndeto de forma inovadora: a conjunção “e”, que costuma ser usada para reforçar, tem sentido adversativo, ou seja, de oposição. Nesse caso, ela opõe duas ideias: as coisas são grandes, mas cabem em espaços ou momentos pequenos. Pode-se entender esses versos desta forma:
O mundo é grande, mas cabe nesta janela sobre o mar.
O mar é grande, mas cabe na cama e no colchão de amar.
O amor é grande, mas cabe no breve espaço de beijar.
E por falar em beleza
Onde anda a canção?
Que se ouvia na noite
Dos bares de então
Onde a gente ficava
Onde a gente se amava
Em total solidão
Na música “Onde anda você”, de Toquinho e Vinicius de Moraes, a repetição da conjunção “onde” retoma e reforça a ideia de que o ambiente no qual os amantes se encontravam não está mais acessível.
De forma geral, o polissíndeto é usado artisticamente para reforçar uma ideia, que pode ser de proximidade ou, até, de oposição. Entretanto, o autor deve tomar cuidado para que a repetição não deixe o texto cansativo, principalmente em textos não literários. Abaixo, veremos exemplos do uso dessa figura com objetivos certeiros e adequados.
Na feira livre do arrebaldezinho
Um homem loquaz apregoa balõezinhos de cor:
— “O melhor divertimento para as crianças!”
Em redor dele há um ajuntamento de menininhos pobres,
Fitando com olhos muito redondos os grandes balõezinhos muito redondos.
No entanto a feira burburinha.
Vão chegando as burguesinhas pobres,
E as criadas das burguesinhas ricas,
E mulheres do povo, e as lavadeiras da redondeza.
Nas bancas de peixe,
Nas barraquinhas de cereais,
Junto às cestas de hortaliças
O tostão é regateado com acrimônia.
Os meninos pobres não veem as ervilhas tenras,
Os tomatinhos vermelhos,
Nem as frutas,
Nem nada.
Sente-se bem que para eles ali na feira os balõezinhos de cor são a única mercadoria útil e verdadeiramente indispensável.
O vendedor infatigável apregoa:
— “O melhor divertimento para as crianças!”
E em torno do homem loquaz os menininhos pobres fazem um círculo inamovível de desejo e espanto.|3|
No poema “Balõezinhos”, de Manuel Bandeira, o polissíndeto ocorreu em dois momentos. Na segunda estrofe, a repetição de “e” enumera, de acordo com a voz do poema, os grupos que estão chegando e ajuda a reforçar a diferença socioeconômica entre eles. Algo similar ocorre na quarta estrofe, na qual o uso de “nem” intensifica a ideia de que os meninos, mesmo pobres, só conseguem prestar atenção e encantar-se com os balões.
Nosso suor sagrado
É bem mais belo
Que esse sangue amargo
E tão sério
E selvagem! Selvagem!
No trecho da canção “Tempo perdido”, da banda Legião Urbana, o polissíndeto da conjunção “e” é usado no reforço das características do “sangue” e deixa-o mais intenso.
O polissíndeto e a anáfora são duas figuras de linguagem. A anáfora faz referência a algo já dito no texto, substituindo-o por sinônimos, pronomes ou apenas repetindo a palavra. Já o polissíndeto usa a repetição de conjunções para criar um efeito estilístico. A repetição é que pode causar a confusão entre as duas figuras, mas a anáfora trata de todas as classes gramaticais, não só de conjunções. Veja:
Mariana comprou frutas. Ela comeu banana e maçã e morango.
No exemplo, “Ela” é uma anáfora, pois retoma “Mariana”, enquanto a repetição de “e” é um polissíndeto.
Polissíndeto e assíndeto são duas figuras de linguagem opostas. Como sindeto significa “ligação” ou, na gramática, “conjunção”, sabemos que o polissíndeto é uma figura de linguagem que usa a repetição de conjunções (poli = muito), enquanto o assíndeto (a = não) é uma figura de linguagem que não usa nenhuma conjunção.
Hoje, fomos ao parque. Não comemos, mas pulamos, mas brincamos, mas giramos! (polissíndeto)
Hoje, fomos ao parque. Não comemos; pulamos, brincamos, giramos! (assíndeto)
As figuras de linguagem são maneiras de modificar o discurso tradicional, o que pode ocorrer manipulando o significado, os sons, a construção sintática, as ideias. É nesse contexto que as figuras de linguagem são divididas em: figuras de palavras (ou semânticas), de sintaxe (ou construção), de pensamento e de som.
Alguns exemplos de figuras de linguagem são:
Veja também: Metáfora — a figura de linguagem usada para fazer comparações de maneira implícita
Questão 1
(UFBA)
O período “A rua continuava indefinidamente, e o dedo apontado, e eu sem saber, e ela pedindo urgência, dizendo que o fogo lavrava sempre.” (l. 14-16) apresenta, predominantemente, orações independentes, coordenadas, e a figura de sintaxe polissíndeto.
( ) Certo
( ) Errado
Resolução:
Certo
Há o polissíndeto pela repetição da conjunção “e”, e as relações são coordenadas porque funcionam independentemente umas das outras (Eu sem saber. Ela pedindo urgência.).
Questão 2
(IFPA)
Rios sem discurso
Quando um rio corta, corta-se de vez
o discurso-rio que ele fazia;
cortado, a água se quebra em pedaços,
em poços de água, em água paralítica.
Em situação de poço, a água equivale
a uma palavra em situação dicionária:
isolada, estanque no poço dela mesma,
e porque assim estanque, estancada;
e mais: porque assim estancada, muda,
e muda porque com nenhuma se comunica,
porque cortou-se a sintaxe desse rio,
o fio de água por que ele discorria.
[...]
(MELO NETO, João Cabral de. A educação pela pedra, p. 350-351)
O texto “Rios sem discurso” é metafórico, e mais detalhadamente podemos identificar outras figuras de linguagem. Marque a alternativa cujo trecho retirado do referido texto apresenta um polissíndeto:
o discurso-rio que ele fazia;”
a uma palavra em situação dicionária:”
o fio de água por que ele discorria.”
em poços de água, em água paralítica.”
e mais: porque assim estancada, muda,
e muda porque com nenhuma se comunica”
Resolução:
Alternativa E
Há polissíndeto pela repetição da conjunção “e”, que reforça o sentido de causa e consequência no poema.
Notas
|1| ROCHA LIMA. Gramática normativa da língua portuguesa: edição revista segundo o novo Acordo Ortográfico. Rio De Janeiro: Editora José Olympio, 2017.
|2| CHAVES, C. C. Os aspectos estilísticos no uso das conjunções. Palimpsesto, v. 10, n. 13, p. 1-12, 2011. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/palimpsesto/article/view/35355.
|3| BANDEIRA, M. Balõezinhos. In: O ritmo dissoluto. São Paulo: Editora Global, 2014.
Fontes
BANDEIRA, M. Balõezinhos. In: O ritmo dissoluto. São Paulo: Editora Global, 2014.
CHAVES, C. C. Os aspectos estilísticos no uso das conjunções. Palimpsesto, v. 10, n. 13, p. 1-12, 2011. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/palimpsesto/article/view/35355.
ROCHA LIMA. Gramática normativa da língua portuguesa: edição revista segundo o novo Acordo Ortográfico. Rio De Janeiro: Editora José Olympio, 2017.