O Golpe da Maioridade foi uma manobra política para antecipar a coroação de Dom Pedro II e encerrar a crise que atingia o Brasil.
O Golpe da Maioridade foi uma manobra política que antecipou a maioridade de Dom Pedro II, permitindo sua coroação aos 14 anos e buscando estabilizar o Brasil em meio a uma crise política e social durante o Período Regencial, marcado por instabilidade e revoltas regionais.
Com o objetivo de restaurar a autoridade central, pacificar as províncias rebeladas e assegurar a continuidade da monarquia, o golpe marcou o início de um longo reinado, caracterizado pela centralização do poder, modernização do país e manutenção da integridade territorial. No entanto, apesar da estabilização inicial, persistiram tensões sociais e regionais que continuariam a influenciar a história do Brasil.
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O Golpe da Maioridade, ocorrido em 23 de julho de 1840, foi um evento político marcante na história do Brasil que acelerou a ascensão de Dom Pedro II ao trono, antes que ele atingisse a maioridade legal estabelecida pela Constituição de 1824. Esse golpe foi uma manobra do grupo político conhecido como “liberais exaltados” ou “farroupilhas”, que buscava estabilizar o país após uma série de crises políticas e sociais que marcaram o Período Regencial.
A Constituição de 1824 estipulava que a maioridade do monarca ocorreria aos 18 anos, mas, em meio a um contexto de instabilidade, com revoltas regionais e disputas entre facções políticas, os liberais pressionaram para que Dom Pedro II, então com apenas 14 anos, fosse declarado maior de idade e coroado imperador.
Esse ato foi realizado com o intuito de trazer um fim às turbulências políticas que ameaçavam a unidade do império; e de assegurar a manutenção do poder nas mãos de uma monarquia constitucional.
O Golpe da Maioridade ocorreu em um período de grande instabilidade no Brasil, o Período Regencial (1831-1840). Após a abdicação de Dom Pedro I, em 1831, o país foi governado por regências, uma forma de governo provisório, até que o herdeiro do trono, Dom Pedro II, atingisse a maioridade.
Durante esse período, o Brasil vivenciou uma série de revoltas e conflitos regionais, como a Cabanagem, no Pará; a Balaiada, no Maranhão; e a Revolução Farroupilha, no Rio Grande do Sul. Essas insurreições foram motivadas por questões locais e insatisfações com o governo central, exacerbadas pela ausência de um monarca forte e pela falta de consenso entre as diferentes facções políticas.
A divisão política entre liberais e conservadores também contribuiu para o clima de instabilidade. Os liberais, especialmente aqueles mais radicais, defendiam uma maior descentralização do poder e eram favoráveis a reformas que pudessem garantir mais autonomia às províncias. Por outro lado, os conservadores defendiam a manutenção da ordem e a centralização do poder, acreditando que a estabilidade do império dependia de um governo forte e centralizado.
Diante desse cenário de crise e para evitar o risco de desintegração do império, a ideia de antecipar a maioridade de Dom Pedro II começou a ganhar força entre os liberais. Eles acreditavam que a coroação do jovem imperador poderia unificar o país e estabilizar o governo, finalizando o Período Regencial e as revoltas.
O principal objetivo do Golpe da Maioridade estava relacionado à necessidade de estabilizar o Brasil e garantir a continuidade da monarquia constitucional em um momento de grave crise política. A antecipação da maioridade de Dom Pedro II foi vista como uma solução para o Período Regencial, marcado por instabilidade e conflitos internos.
Os liberais exaltados, que lideraram o movimento pelo golpe, ansiavam por colocar um ponto-final nas disputas entre facções políticas e acalmar as províncias rebeladas. Eles acreditavam que a presença de um imperador no trono traria a autoridade e a legitimidade necessárias para restabelecer a ordem e a unidade do império.
Além disso, esperavam que, com a ascensão de Pedro II, os interesses dos liberais seriam mais bem representados no governo, uma vez que muitos viam a regência como um período em que os conservadores haviam mantido controle excessivo sobre o poder.
Outro objetivo do golpe era evitar o risco de fragmentação do Brasil. Naquele momento, havia um temor real de que as províncias mais distantes do centro de poder, como o Rio Grande do Sul e o Pará, pudessem se separar do império, inspiradas por movimentos separatistas que estavam ocorrendo em outras partes da América Latina. A coroação de Dom Pedro II foi, portanto, uma estratégia para reafirmar a integridade territorial do Brasil e garantir a continuidade da monarquia.
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A coroação de Dom Pedro II ocorreu em 18 de julho de 1841, quase um ano após o Golpe da Maioridade. A cerimônia foi realizada na Capela Imperial, no Rio de Janeiro, com grande pompa e circunstância, refletindo a importância do momento para a história do Brasil. O jovem imperador, então com apenas 15 anos, foi aclamado por diversos segmentos da sociedade, que viam nele a esperança de um futuro mais estável e próspero para o país.
De acordo com a historiografia, Pedro II, desde jovem, demonstrou grande inteligência e dedicação ao estudo, características que foram amplamente reconhecidas e admiradas. Sua coroação marcou o início de um longo reinado que duraria até 1889, quando a monarquia foi abolida e o Brasil se tornou uma república.
Durante seu reinado, Pedro II se destacou por seu comprometimento com o progresso do Brasil, promovendo a modernização do país e incentivando o desenvolvimento da educação, das artes e das ciências.
A coroação também simbolizou a restauração da autoridade central no Brasil, após um período de regência marcado por divisões e conflitos. A partir de sua ascensão, Pedro II trabalhou para consolidar o poder imperial e pacificar as províncias rebeladas, o que foi crucial para a manutenção da unidade do país.
O Golpe da Maioridade teve várias consequências importantes para a história do Brasil. A principal delas foi a estabilização política do país, que conseguiu, sob o reinado de Pedro II, evitar a fragmentação e manter a integridade territorial.
O fim do Período Regencial e o início do Segundo Reinado trouxeram um período de relativa paz e prosperidade, durante o qual o Brasil experimentou um processo de modernização e crescimento econômico.
Além disso, o golpe marcou o início do reinado de um dos monarcas mais importantes da história brasileira. Dom Pedro II governou com grande habilidade política, conseguindo manter a ordem e promover o desenvolvimento do Brasil em meio a um cenário global de mudanças.
Seu reinado foi caracterizado por uma série de reformas, incluindo a gradual abolição da escravidão, que culminou com a assinatura da Lei Áurea em 1888, e a promoção da imigração europeia para o Brasil, que contribuiu para o crescimento populacional e econômico do país.
No entanto, o golpe também teve suas limitações e desdobramentos negativos. A decisão de antecipar a maioridade de Pedro II foi criticada por alguns como uma manobra política que, embora eficaz no curto prazo, não resolveria as profundas divisões sociais e regionais, que continuariam a marcar a história do Brasil.
Além disso, o poder centralizado na figura do imperador gerou tensões com as elites provinciais, que eventualmente contribuíram para o enfraquecimento da monarquia e o advento da república, em 1889.
Fontes
FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: EDUSP, 2009
SCHARCZ, Lilia. Brasil: uma Biografia. São Paulo: Cia das Letras, 2012