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Tipos de narrador

Existem três tipos de narrador: narrador-personagem, narrador onisciente e narrador observador. Cada tipo de narrador possui um foco narrativo.

Cada tipo de narrador tem um ponto de vista diferente da história.

Existem três tipos de narrador e cada um deles apresenta um foco narrativo diferente. O narrador-personagem participa da história narrada. O narrador observador narra de fora da história, como simples observador dos fatos. Por fim, há também o narrador onisciente, o qual narra a partir de um ponto de vista privilegiado, já que ultrapassa a simples observação e possui conhecimento total acerca dos acontecimentos e dos personagens. O narrador é quem conta uma história.

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Resumo sobre tipos de narrador

  • O narrador é a voz literária que conta uma história.
  • Existem três tipos de narrador:
    • narrador-personagem;
    • narrador onisciente;
    • narrador observador.
  • O foco narrativo está relacionado ao ponto de vista do narrador.

Videoaula sobre tipos de narrador

O que é o narrador?

O narrador é um ser de ficção, criado pelo autor do livro. Você sabe o que é um autor, não sabe? O autor é a pessoa que escreve um livro. Por exemplo, o autor do livro O pequeno príncipe é o francês Antoine de Saint-Exupéry. Ele criou e escreveu essa história. Já a autora do famoso livro A bolsa amarela é a brasileira Lygia Bojunga. Foi ela quem criou e escreveu essa história.

Portanto, o narrador é o que conta a história. Ele pode ser uma mulher, um homem, um animal, uma planta ou até mesmo um cabo de vassoura. Já o autor é uma pessoa que existe ou existiu de verdade, ou seja, uma pessoa de carne e osso. Então, a partir de agora, não confunda aquela “voz” que conta a história do livro com a “voz” do autor do livro.

Afinal, se não existisse a figura do narrador, muitas histórias não existiriam, já que o autor seria obrigado a contar apenas fatos reais de sua própria vida. A existência de um narrador para contar as histórias permite que o autor possa dar asas à imaginação.

Quais são os tipos de narrador?

→ Narrador-personagem

Esse tipo de narrador conta a história e também participa dela, ou seja, é um personagem do livro que conta a história. Um exemplo de narrador-personagem é o narrador do livro Memórias de um cabo de vassoura, do escritor brasileiro Orígenes Lessa. A seguir, vamos ler um trecho desse livro. Observe que é o personagem cabo de vassoura que conta a história em primeira pessoa:

Quando o destino é de cabeça baixa, o melhor é pensar noutra coisa. Ninguém me tinha dito nada. Eu sabia que era vassoura. Ou cabo da... Mastro de navio, não era. Pau de bandeira também não. Nem era bandeira... Não era espada. Não era automóvel. Não era avião. Não morava em Niterói. Não tinha sido talhado pelo Aleijadinho ou por qualquer artista importante, para vir gente do mundo inteiro me conhecer. Não era colar em pescoço de madame. Não era aparelho de televisão. Não era taça de champanha. Não era joia. Era aquela coisa comprida e magrela. Apenas. Tinha aquela barba pobre lá embaixo... Ah! Sim! Agora a barba de piaçava estava lá embaixo e eu nem notara! Eu, de cabo, na quina da parede, ela de focinho no chão, nós dois emendados para o resto da vida, a um canto da cozinha, cheirando a alho e cebola, só podia ser aquilo...

→ Narrador onisciente

Esse tipo de narrador NÃO é personagem da história. Ele apenas conta a história, sem participar dela. Mas ele tem um poder especial: ele sabe de tudo sobre os fatos narrados e sobre os personagens. Ele conhece o passado, o presente e o futuro dos personagens. E sabe o que eles pensam e sentem.

Por exemplo, o narrador do livro Menino de Asas, do escritor brasileiro Homero Homem, é onisciente. Veja, no trecho a seguir, escrito em terceira pessoa, que o narrador sabe o que o Menino de Asas aprendeu quando foi ferido e seus pensamentos ou “cogitações” a caminho da escola:

Certa vez, ao voar sobre a mata, os caçadores despejaram-lhe vários tiros de espingarda, supondo tratar-se de alguma caça rara. Menino de Asas ficou muito ferido.

A lembrança da dor e a presença das cicatrizes ensinaram-lhe, a partir desse dia, que era perigoso lidar com gente que não usasse asas. À exceção dos pais, as outras pessoas não passavam de caçadores.

Fez-se assim muito amigo dos passarinhos e das aves do quintal.

Mesmo o urubu, se não tivesse aquele cheiro ruim, seria um ótimo camarada.

Eram essas as cogitações de Menino de Asas naquele dia em que, levado pelo pai, entrou no povoado rumo à escola. Era seu primeiro dia de aula. 

→ Narrador observador

Esse tipo de narrador também NÃO é personagem da história. Assim como o narrador onisciente, ele não participa da história. Mas ele não tem o superpoder do narrador onisciente. Isso porque o narrador observador não sabe de tudo, ele apenas narra os acontecimentos, como se estivesse vendo as coisas acontecerem diante dos seus olhos.

Veja, a seguir, um trecho do livro O gênio do crime, do escritor brasileiro João Carlos Marinho. Note que o narrador em terceira pessoa parece estar observando o que acontece e narrando a história. Até a raiva dos meninos é percebida por meio da observação, já que ela estava visível “como uma nuvem”:

Um pequenininho sentado na grama pingava lágrimas em cima do álbum, um grandão descabelado ia de rodinha em rodinha, para discutir e gesticular muito, e a raiva deles era tão grande que quase que se enxergava ela parada no ar, como uma nuvem. A raiva estava no ponto de estourar, e estourou, na hora que o descabelado pegou uma pedra e atirou na vidraça do prédio; foi uma corrida que parecia formigueiro cutucado, a molecada se espalhou elétrica no jardim procurando onde tinha pedras e começaram o bombardeio em cima da fábrica. Não sobrou vidraça nenhuma, xingavam o dono de ladrão, arrancavam as plantas das raízes e jogaram a lata do lixo no meio da rua.

Saiba mais: O que é um conto?

O que é foco narrativo?

Cada história depende do ponto de vista do narrador.

O foco narrativo é o ponto de vista do narrador. Você sabe o que é um ponto de vista? Explico. Imagine que você está jogando vôlei. Como você está participando do jogo, o seu ponto de vista, ou seja, o lugar de onde você observa a partida é limitado. Você não pode dizer como as jogadoras ou jogadores que estão atrás de você estão se comportando.

Agora imagine que você não está jogando, mas está apenas sentado ou sentada na arquibancada. Como você está fora do jogo, o seu ponto de vista, ou melhor, o lugar de onde você observa a partida permite ver todos os lances do jogo. Assim, você tem uma visão ampla da partida.

  • Foco narrativo do narrador-personagem: o narrador-personagem é como você participando do jogo de vôlei, já que tem um foco narrativo mais limitado.
  • Foco narrativo do narrador observador: o narrador observador é como você assistindo ao jogo de vôlei, pois tem um foco narrativo mais amplo.
  • Foco narrativo do narrador onisciente: já o narrador onisciente é uma espécie de super-herói, pois seu foco narrativo é completo, vai além da simples observação, é como se ele estivesse em todos os lugares ao mesmo tempo.

Fontes

ABAURRE, M. L. M.; PONTARA, M. Literatura: tempos, leitores e leituras. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2021.

GOULART, A. T.; SILVA, O. V. da. Introdução ao estudo da literatura. Belo Horizonte: Lê, 1994.

HOMEM, H. Menino de asas. 29. ed. São Paulo: Ática, 2016.

LESSA, O. Memórias de um cabo de vassoura. 44. ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002.

MARINHO, J. C. O gênio do crime. 33. ed. São Paulo: Global, 1989.

PINHEIRO, M. M. F. Estrutura narrativa. In: PINHEIRO, M. M. F. A TV como objeto de leitura da imagem no contexto escolar: uma pesquisa-ação com alunos do ensino médio. 2012. Tese (Doutorado em Letras) – Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2012.

PINNA, D. M. de S. Elementos da narrativa. In: PINNA, D. M. de S. Animadas personagens brasileiras: a linguagem visual das personagens do cinema de animação contemporâneo brasileiro. 2006. Dissertação (Mestrado em Artes e Design) – Departamento de Artes e Design, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006.

Por Warley Souza

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