História

Invasões francesas no Brasil

As invasões francesas no Brasil aconteceram em diferentes momentos dos séculos XVI e XVII e se deram por meio de colônias fundadas pelos franceses no Rio de Janeiro e Maranhão.

Mapa francês mostrando a localização da França Antártica na Baía de Guanabara.[1]

As invasões francesas no Brasil foram tentativas realizadas pela França de fundar colônias no território da América Portuguesa. Os franceses não concordavam com a divisão da América entre portugueses e espanhóis, assim, procuraram invadir as “terras portuguesas” e fundar duas colônias, que ficaram conhecidas como França Antártica e França Equinocial.

Saiba mais: Capitanias hereditárias a importante iniciativa portuguesa de colonização do Brasil

Resumo sobre as invasões francesas no Brasil

  • Os franceses não concordavam com a divisão da América entre espanhóis e portugueses, segundo os termos do Tratado de Tordesilhas.

  • Realizaram saques em embarcações que vinham para o Brasil e invadiram o território para extrair pau-brasil.

  • Em 1555, fundaram uma colônia na Baía de Guanabara chamada França Antártica, mas foram expulsos em 1560.

  • Em 1612, fundaram uma colônia no Maranhão chamada França Equinocial, mas foram expulsos em 1615.

  • Na década de 1620, estabeleceram-se na região da Guiana Francesa, fundando uma colônia.

Videoaula sobre as invasões francesas no Brasil

Contexto das invasões francesas no Brasil

As invasões francesas no Brasil são contextualizadas pelo momento em que os portugueses estavam começando a pensar em como realizar a colonização do Brasil. O desenvolvimento de uma ocupação sistemática do Brasil por parte de Portugal foi uma resposta dos lusos à ameaça que os franceses representavam.

Isso porque, segundo o Tratado de Tordesilhas, as terras relativas ao continente americano teriam sido divididas entre Portugal e Espanha, sendo que Portugal ficaria com as terras a leste do meridiano traçado na América. Acontece que o tratado não foi respeitado por diversas nações europeias, sendo a França uma delas.

O sinal de que a França não respeitaria a divisão realizada no Tratado de Tordesilhas foi dado por Francisco I, rei francês entre 1515 e 1547. O monarca da França teria dito a seguinte frase: “Gostaria de ver a cláusula do testamento de Adão que me afastou da partilha do mundo”.

Assim, desde a chegada dos portugueses ao Brasil, os franceses atuaram como invasores das “terras portuguesas”. A França aproveitou o fato de que o Brasil foi colocado em uma posição secundária por três décadas por Portugal. Com isso, foram muito comuns, sobretudo nas porções norte e sul da América Portuguesa, as invasões organizadas pelos franceses.

A atuação francesa na costa brasileira se deu, a princípio, de duas formas. Os franceses:

  • enviaram corsários à costa do Brasil para que eles atacassem embarcações carregadas de açúcar que saíam do território brasileiro;

  • autorizaram que expedições invadissem o Brasil e fechassem acordos com os nativos para conseguir toras de pau-brasil e levá-las para a Europa.

Posteriormente, além dos saques e das invasões, os franceses procuraram estabelecer colônias na América Portuguesa. Para saber mais sobre o contexto dessas invasões, acesse: Colonização francesa nas Américas.

Colônias fundadas com as invasões francesas no Brasil

  • França Antártica

A primeira iniciativa francesa de estabelecer uma colônia no Brasil se deu na década de 1550 e foi liderada por um nobre cavaleiro chamado Nicolas Durand de Villegagnon. Ele havia estado no Brasil em 1554, pois tinha feito parte de uma expedição que foi enviada para mapear a costa brasileira.

Villegagnon tinha passado pela região de Cabo Frio e lá teria conhecido lideranças indígenas por meio do padre André Thevet. Villegagnon retornou à França convicto da possibilidade de fundar uma colônia francesa na região do atual Rio de Janeiro. A missão de Villegagnon contou com o apoio do rei francês, Henrique II, de Gaspar de Coligny, almirante francês, e do Duque de Guise, um cardeal.

Além disso, Villegagnon era apoiado por comerciantes franceses interessados na possibilidade da colônia francesa abrir o mercado de especiarias para a França. Esse, inclusive, era o grande objetivo de Villegagnon. O nobre francês já conhecia a região e, como dito, tinha uma boa relação com os nativos.

Ilha de Villegagnon, local onde foi fundada a França Antártica em 1555, na Baía de Guanabara, região do Rio de Janeiro.[2]

Assim, em maio de 1555, cerca de 600 homens zarparam de Havre em direção ao Brasil. Chegando aqui, os franceses se estabeleceram na ilha de Villegagnon, localizada na Baía de Guanabara. Lá, fundaram a França Antártica e construíram o Forte Coligny, para garantir a segurança da colônia.

Os franceses tinham boa relação com os tamoios, indígenas que habitavam as proximidades, e contaram com a ajuda deles para obter a quantidade de comida e de água que necessitavam para sua sobrevivência. No entanto, a colônia francesa enfrentava problemas, pois a vida na França Antártica era dura, e Villegagnon era muito rígido com os colonos.

Isso criou insatisfação e motivou muitos colonos a abandonarem a França Antártica para residir junto dos índios na mata ou então para retornar à França. A perda de colonos tornava mais difícil ainda a sobrevivência na França Antártica, e a situação piorou porque as guerras religiosas que vigoravam na França fizeram o rei colocar a colônia em segundo plano.

As questões religiosas impactaram a rotina da colônia francesa também, pois, em 1557, alguns colonos calvinistas foram enviados da Europa para a França Antártica com o intuito de dar força à colônia. Acontece que o católico Villegagnon se desentendeu com os calvinistas (chamados de huguenotes pelos franceses) por questões teológicas.

O desentendimento fez com que alguns dos colonos calvinistas retornassem à França e, lá chegando, denunciaram os crimes cometidos por Villegagnon na França Antártica. O militar francês decidiu, em 1559, retornar para a França para se defender das acusações e trazer mais colonos, deixando o seu sobrinho, Bois-le-Compte, no comando da colônia.

Com a ausência de Villegagnon, uma expedição militar para conquistar a França Antártica foi organizada por Mem de Sá, governador-geral do Brasil. Em março de 1560, o ataque português teve início e resultou na destruição do Forte Coligny. Muitos franceses fugiram e passaram a viver na mata.

A presença francesa na região se estendeu até 1567, e foi necessário monitoramento do território para que os portugueses assegurassem o domínio da Baía de Guanabara. Uma vez expulsos os franceses, os portugueses fundaram a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, conhecida atualmente apenas como Rio de Janeiro.

Leia também: Invasões holandesas no Brasil qual era o objetivo?

  • França Equinocial

O fracasso do empreendimento francês na Baía de Guanabara não significou o fim das tentativas francesas de fundar colônias na América Portuguesa. No começo do século XVII, os franceses tentaram fundar uma colônia próximo à linha do Equador, ao norte da América Portuguesa. Essa colônia ficou conhecida como França Equinocial.

Essa região atualmente é a cidade de São Luís, capital do Maranhão. A presença francesa nessa região vinha de longa data, pois desde 1594 uma feitoria francesa havia sido construída no local pelo capitão Jacques Riffault. Nessa feitoria, os franceses estabeleceram relações comerciais e de amizade com os indígenas, além de explorarem o pau-brasil.

São Luís foi fundada pelos franceses quando foi criada a França Equinocial em 1612.

Essa feitoria francesa acabou se tornando uma colônia francesa em 1612, quando foi fundado o forte de São Luís. Esse nome foi escolhido em homenagem ao rei francês da época, Luís XIII. A construção dessa colônia na ilha de Upaon-Açu se deu por meio da permissão de Maria de Médici, rainha regente da França (Luís XIII, apesar de ser rei, era uma criança).

O comando da colônia de São Luís foi entregue para Daniel de la Touche, um general da marinha francesa, e ele recebeu da rainha regente ordens afirmando que a prioridade da colonização deveria ser a conversão dos indígenas ao catolicismo. Por conta disso, a expedição que partiu da França contou com a presença de alguns frades capuchinhos, da ordem de São Francisco.

Uma vez estabelecidos em São Luís, os franceses iniciaram a exploração das regiões que correspondem atualmente ao Norte do Brasil. Com isso, a presença francesa se espalhou por regiões que representam o atual leste do Pará, norte de Tocantins e parte do Amapá. A expansão francesa, por sua vez, não aconteceu sem problemas, pois a rainha regente não demonstrava muito interesse no empreendimento.

Os franceses contavam com o apoio dos índios tupinambás, mas esse apoio não foi suficiente para dar longa duração à empreitada francesa. Em 1614, os portugueses começaram a reunir esforços para destruir a colônia no norte da América Portuguesa. Jerônimo de Albuquerque foi nomeado para liderar a operação que partiu da capitania de Pernambuco.

A cidade de São Luís foi cercada e, em 4 de novembro de 1615, os franceses se renderam. A cidade de São Luís passou a ser ocupada pelos portugueses, que incentivaram o recebimento de colonos para impedir que os franceses retornassem. Com a derrota, Daniel de la Touche foi preso, e as tentativas francesas de colonização na América Portuguesa se encerraram.

Os portugueses aproveitaram a ocasião da expulsão dos franceses e iniciaram a ocupação da Amazônia, fundando em 1616 a cidade de Belém. Os franceses, por sua vez, continuaram tentando obter uma colônia na América do Sul e, em 1626, se estabeleceram no atual território da Guiana Francesa.

  • Videoaula sobre expansão marítima: imaginário e tratados

Créditos de imagem:

[1] Wikimedia Commons (reprodução)

[2] Antonio Salaverry / Shutterstock

Por Daniel Neves Silva

Versão completa