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Paródia

Leia este artigo e saiba mais a respeito da paródia, um texto criado a partir de outro texto com o objetivo de provocar a reflexão no leitor.

Paródia é um texto criado a partir de outro texto com o objetivo de fazer com que o leitor reflita criticamente a respeito das práticas sociais Paródia é um texto criado a partir de outro texto com o objetivo de fazer com que o leitor reflita criticamente a respeito das práticas sociais

A paródia consiste na recriação de um texto conservando a ideia central do hipertexto (texto de referência), mas atribuindo a ele efeitos mais sarcásticos, humorísticos e críticos. Podemos dizer que a paródia é um exercício de intertextualidade cujo objetivo é levar o leitor a fazer uma reflexão crítica a respeito do que acontece na sociedade.

De modo irreverente, a paródia contribui para a formação de leitores/sujeitos mais reflexivos e politizados. É possível observarmos de que maneira isso ocorre a partir, por exemplo, da Paródia do poema “Canção do Exílio” (do poeta romântico Gonçalves Dias) escrita pelo apresentador de programa televisivo de entrevistas, Jô Soares, e intitulada “Canção do Exílio às avessas”.

A partir da leitura do poema de Gonçalves Dias e da paródia de Jô Soares, é possível observar que tanto Gonçalves Dias quanto Jô Soares procuraram apresentar o seu ponto de vista e deixar as suas impressões da realidade, dos acontecimentos de suas épocas, dos seus dias, do contexto político, social, cultural e filosófico.

Leia o Poema e a Paródia:

Canção do Exílio
Gonçalves Dias

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Canção do Exílio às avessas
Jô Soares

Minha Dinda tem cascatas
Onde canta o curió
Não permita Deus que eu tenha
De voltar pra Maceió.

[..]

O meu céu tem mais estrelas
Minha várzea tem mais cores.
Este bosque reduzido
deve ter custado horrores.

[...]

Minha Dinda tem piscina,
Heliporto e tem jardim
feito pela Brasil's Garden:
Não foram pagos por mim.
Em cismar sozinho à noite
sem gravata e paletó
Olho aquelas cachoeiras
Onde canta o curió.

[...]

Minha Dinda tem primores
De floresta tropical.
Tudo ali foi transplantado,
Nem parece natural.
Olho a jabuticabeira
dos tempos da minha avó.
Não permita Deus que eu tenha
De voltar pra Maceió.

[...]

Finalmente, aqui na Dinda,
Sou tratado a pão-de-ló.
Só faltava envolver tudo
Numa nuvem de ouro em pó.
E depois de ser cuidado
Pelo PC, com xodó,
Não permita Deus que eu tenha
De acabar no xilindró.

O poema de Gonçalves Dias reflete a respeito da saudade que sente de sua terra natal, destacando suas características ambientais, naturais, e revelando seu desejo de retornar a ela. Nesse poema, Gonçalves Dias, que se encontrava em Coimbra, Portugal, cursando a Faculdade de Direito, reflete sobre as belezas de sua terra, no momento da recém-adquirida independência do Brasil em relação a Portugal.

A Paródia de Jô Soares, entretanto, faz exatamente o contrário: por meio da ironia (figura de pensamento bastante recorrente em paródias), o eu lírico enaltece a região em que se encontra no presente e não deseja retornar à sua terra natal, Maceió. Jô Soares transforma a poesia de Gonçalves Dias em uma paródia na qual denuncia os escândalos políticos do ex-presidente da República, Fernando Collor de Melo, entre os anos de 1990 a 1992, o qual sofreu um processo de impeachment.

Como você pôde observar, de modo crítico e bem-humorado, a paródia de Jô Soares reflete sobre os confortos, regalias e modernidades desfrutados devido ao cargo que Collor ocupava e sobre o horror que o eu lírico (Collor) sentia sobre voltar à sua terra natal.

 

Por Ma. Luciana Kuchenbecker Araújo

Por Luciana Kuchenbecker Araújo

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