As invasões holandesas no Brasil aconteceram na primeira metade do século XVI, e, por meio delas, os holandeses conseguiram estabelecer uma colônia no Nordeste por 24 anos. As invasões holandesas foram motivadas pelo interesse holandês em tomar controle do negócio açucareiro e por conta da rivalidade entre Portugal e Holanda, e desta com a União Ibérica.
Durante os 24 anos da colonização holandesa, o grande destaque deu-se por meio da administração de Maurício de Nassau, nomeado governador-geral da colônia em 1637. O domínio teve fim em 1654, depois que Portugal e os colonos de Pernambuco mobilizaram-se para expulsar os holandeses de lá.
A invasão do Nordeste brasileiro pelos holandeses está relacionada com as relações diplomáticas que envolviam Portugal, Espanha e Holanda. Pode-se dizer que o acontecimento fundamental para isso foi a União Ibérica, unificação das coroas espanhola e portuguesa que se estendeu de 1580 a 1640. Essa união foi consequência da crise sucessória que atingiu a dinastia de Avis, no final do século XVI.
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Antes de entendermos a relação das invasões holandesas com a União Ibérica, é necessário compreendermos as relações diplomáticas que existiam entre Portugal, Espanha e Holanda. Primeiramente devemos pontuar que o negócio do açúcar era uma atividade econômica muito lucrativa e que envolvia uma parceria entre holandeses e portugueses.
O negócio do açúcar foi instalado no Brasil com auxílio de capital holandês, pois muitos senhores de engenho só conseguiram desenvolver seu negócio com dinheiro emprestado pelos holandeses. Além disso, a Holanda participava do refino do açúcar e de sua distribuição pela Europa. Dessa forma, os holandeses tinham uma participação relevante nessa atividade.
Os holandeses, no entanto, estavam em guerra contra os espanhóis desde 1568. O conflito era motivado pela busca daqueles por conquistarem sua independência dos Habsburgo, a família real que governava Holanda, Espanha e outros locais da Europa. Assim, percebemos que a Holanda tinha relações boas com Portugal e ruins com a Espanha.
Tudo isso mudou com a União Ibérica. Em 1578, d. Henrique, rei de Portugal, faleceu e não deixou herdeiros para o trono português. Assim, três postulantes que possuíam parentesco com ele solicitaram direito de ocupar o trono de Portugal. O vitorioso nesse cenário foi Filipe II da Espanha, o rei espanhol.
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Com a coroação de Filipe II, o trono de Portugal passou a ser ocupado pelo mesmo rei que governava a Espanha, resultando na unificação das duas coroas. Sendo assim, o território português e todas as suas colônias vinculavam-se à Espanha, e os inimigos dela passaram a ser os inimigos de Portugal.
Com essa reconfiguração (Portugal sob domínio da Espanha), a parceria entre portugueses e holandeses na comercialização do açúcar foi afetada, e estes foram excluídos da atividade. Filipe II chegou a ordenar o confisco de embarcações holandesas que estivessem em Lisboa, por diversos anos. Os holandeses, então, resolveram reagir para defender seus interesses econômicos.
Em 1595, embarcações holandesas saquearam o porto português em São Tomé e Príncipe, na costa africana. A partir do século XVII, eles, além de atacarem os portugueses na África, decidiram atacar a colônia portuguesa no Nordeste brasileiro, dando início às invasões holandesas no Brasil.
O primeiro ataque holandês deu-se contra a cidade de Salvador, primeira capital do Brasil, em 1604. O objetivo dos holandeses era conquistar a capital, mas fracassaram. Após isso, entre 1609 e 1621, Portugal e Holanda mantiveram trégua, mas, a partir de 1621, a hostilidade entre os dois países retornou.
Em 1621, os holandeses fundaram a Companhia das Índias Ocidentais (West-Indische Compagnie, em holandês), empresa responsável pelo desenvolvimento de um empreendimento colonial holandês nas Américas. O grande objetivo dessa empresa era controlar a produção de açúcar no Brasil e os postos de comércio de escravos na África.
Com isso no horizonte, a primeira invasão holandesa foi realizada em 1624. Nessa ocasião, os holandeses voltaram-se novamente contra Salvador, conseguindo conquistar a cidade após 24 horas de batalha. Os holandeses permaneceram na capital por um ano e nunca conseguiram estender seus domínios para além dela.
Os homens-bons (que possuíam proeminência social e poder econômico) juntaram-se, nos arredores de Salvador, e impediram a expansão holandesa. Reforços foram enviados dos diferentes domínios espanhóis e expulsaram os holandeses de Salvador em 1625. Eles retornaram em 1627, mas só para saquearem a cidade.
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Em 1630, os holandeses decidiram focar-se contra Pernambuco, outra importante região açucareira do Brasil. Esse ataque foi, em grande parte, financiado pelos saques dos holandeses contra espanhóis e portugueses, destacando-se o roubo de uma frota espanhola em 1628, que rendeu uma grande fortuna para a WIC (sigla da companhia, em holandês).
Em 1630, os holandeses levaram mais de sete mil homens para atacar Olinda, cidade conquistada em 14 de fevereiro daquele mesmo ano. Depois da conquista, eles derrotaram a resistência local, que ainda procurava repelir os invasores, e transferiram a capital para Recife, por nela ser mais fácil sua defesa.
A fase de 1630 a 1637 é entendida pelos historiadores como a conquista do Nordeste. Nesse período, os holandeses lutaram continuamente contra os portugueses e conseguiram estender o seu domínio do Ceará até o Rio São Francisco. Um nome importante para a vitória holandesa foi o de Domingo Fernandes Calabar, português que passou para o lado holandês.
A partir de 1637, João Maurício de Nassau (Johann Maurits van Nassau-Siegen, em alemão) foi nomeado governador-geral da colônia holandesa no Brasil. Maurício de Nassau era um alemão que prosperou como militar na Holanda, sendo convidado pela sua atuação como militar e por possuir parentes influentes.
Nassau, que permaneceu aqui até 1643, realizou inúmeras ações importantes para o desenvolvimento da colônia holandesa. Ele vendeu engenhos abandonados como forma de recuperar a economia local, e ordenou que donos de escravos plantassem mandioca como forma de aumentar a oferta de alimento na colônia.
Nassau também tinha grande interesse pelas ciências e artes, e, por isso, incentivou a vinda de artistas e cientistas holandeses e alemães para a colônia. Vários estudos foram conduzidos, e retratos realizados por artistas marcaram a visão dos holandeses sobre o Brasil do século XVII.
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A partir da década de 1940, a Companhia das Índias Ocidentais entrou em processo de falência e a economia em Pernambuco enfrentou grave crise. A WIC passou a reforçar a cobrança das dívidas que donos de engenhos possuíam, desagradando a classe senhorial, que passou a fortalecer a ideia de restauração dos portugueses.
Os problemas financeiros contribuíram para que a relação da WIC com Maurício de Nassau fosse estremecida, e isso resultou na ordem de retorno de Nassau à Holanda, em 1643. Em maio de 1644, Nassau finalmente retornou a Haia, cidade em que morava antes de ser enviado ao Brasil. Seu retorno coincidiu com o fortalecimento dos portugueses, fruto da Restauração de 1640.
A partir dessa data, a coroa portuguesa foi restaurada sob o domínio dos Bragança, e a ideia de reconquistar o Nordeste começou a ser ventilada. As forças militares dos portugueses começaram a ser fortalecidas, e a resistência aos holandeses internamente começou a ser formada. Isso resultou nas Guerras Brasílicas, iniciadas em 1645.
Os holandeses no Nordeste perderam muita força ao serem derrotados nas Batalhas dos Guararapes, travadas em 1648 e 1649, e viram sua situação piorar quando uma guerra entre Holanda e Inglaterra estourou na Europa. Isso reduziu ainda mais os recursos disponibilizados à colônia holandesa. Por fim, em 1654, os portugueses cercaram Recife e expulsaram os holandeses em definitivo. Eles também restituíram seu domínio das colônias na África.
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