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Voto de cabresto

O voto de cabresto foi uma prática, muito comum no período da Primeira República, caracterizada pelas ações realizadas para manipular o voto dos eleitores brasileiros.

Imagem explicando o que foi o voto de cabresto. O voto de cabresto era uma prática utilizada para manipular o voto do eleitor. (Créditos: Isa Galvão | Escola Kids)

O voto de cabresto foi uma prática muito comum na política brasileira, sobretudo no período da Primeira República (ou República Velha). Nessa prática, os coronéis, figuras de grande poder regional, utilizavam de uma série de ações para manipular o voto dos eleitores a fim de garantir a eleição de determinado candidato. Essas ações poderiam ocorrer por meio da intimidação e do uso da violência, mas também poderia ocorrer por meio da troca de favores. O voto de cabresto foi fundamental para os arranjos políticos desse período.

Leia também: Primeira República (ou República Velha) — detalhes sobre esse período da história brasileira

Resumo sobre o voto de cabresto

  • O voto de cabresto foi uma prática utilizada para promover fraude eleitoral.
  • Foi muito utilizado para fraudar eleições durante a Primeira República (ou República Velha).
  • O voto de cabresto caracteriza-se pelas ações para comprar ou para coagir o eleitor a votar em determinado candidato.
  • Essa prática foi bastante utilizada pelas oligarquias brasileiras para eleger os seus políticos.
  • A intimidação por meio da violência foi uma das formas de manipular o voto dos eleitores no período.

O que foi o voto de cabresto?

O voto de cabresto é a forma pela qual conhecemos uma prática eleitoral que foi muito comum na história brasileira, sobretudo na Primeira República, vulgarmente conhecida como República Velha, período que se estendeu de 1889 a 1930. Essa prática é entendida como o conjunto de ações que eram realizadas para manipular o voto do eleitor.

Os coronéis, grandes proprietários de terra no interior do país, eram figuras que possuíam enormes poderes político e econômico, utilizando-os para coagir, para induzir ou para comprar os votos da população. Esses coronéis utilizavam diversos artifícios para garantir que aqueles que possuíam o direito de voto votassem nos candidatos apoiados por esses coronéis.

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O coronel poderia agir por meio da troca de favores, oferecendo pequenas vantagens em troca do voto de uma pessoa ou, então, oferecendo um emprego em uma prefeitura ou em outro local público. Claro que nem sempre a ação dos coronéis dava-se no sentido de oferecer algo, sendo mais frequente que os coronéis coagissem a população.

A coação e o uso da violência eram formas comuns de garantir que os eleitores votassem nos candidatos apoiados pelos coronéis. Essa intimidação ganhava uma importância maior porque o voto, durante a Primeira República, era aberto, deixando claro em quem cada pessoa votava. Assim, se uma pessoa não votasse no candidato indicado pelo coronel de sua região, ela sofreria com alguma represália.

O fato de o voto ser aberto reforçava o controle dos coronéis, tornando-se muito difícil para que a população fugisse dessas ações de controle. Sendo assim, o voto de cabresto é aquele voto controlado, induzido, guiado. Era amplamente utilizado para manipular as eleições e para manter os arranjos políticos daquele período. A população tornava-se refém e, muitas vezes, cúmplice dessas práticas eleitorais.

Relação do voto de cabresto com o coronelismo

O voto de cabresto era uma prática que estava diretamente ligada com o coronelismo. O conceito de coronelismo é usado para explicar o controle e o domínio que os coronéis brasileiros tinham na sociedade. Esses coronéis eram um grupo de grandes proprietários que herdaram o título de “coronel” porque eram membros ou herdeiros de membros da antiga Guarda Nacional, criada em 1831.

A riqueza desses coronéis, manifestada por meio de suas posses, era convertida em poder político. Os coronéis utilizavam esses poderes para controlar a população de diversas maneiras. Como eram as grandes lideranças políticas de suas regiões, acabavam utilizando a estrutura pública, indicando para cargos públicos pessoas de sua confiança, por exemplo.

Além disso, esse poder dos coronéis manifestava-se durante as eleições com cargos e outros benefícios sendo oferecidos para garantir o voto da população. Isso sem falar no uso da violência, que era algo rotineiro para essas figuras. O coronelismo era, portanto, fundamental para que a prática do voto de cabresto ocorresse, e essa prática ocorria porque os coronéis eram mobilizados para garantir que os candidatos apoiados pela oligarquia dominante, do qual esses coronéis faziam parte, fossem eleitos.

Acesse também: Coronelismo — mais detalhes sobre essa prática política ligada ao voto de cabresto

Voto de cabresto e as fraudes nas eleições

O voto de cabresto garantia que as eleições realizadas durante a Primeira República (ou República Velha) fossem inteiramente ou parcialmente manipuladas. As fraudes eram parte dos arranjos políticos existentes nesse período, sendo realizadas para eleger os candidatos desejados pelas oligarquias dominantes. Entre algumas das práticas que caracterizavam as fraudes eleitorais, temos:

  • pessoas que votavam duas vezes;
  • pessoas que votavam utilizando a identidade de pessoas falecidas;
  • pessoas que votavam passando-se por outras pessoas;
  • manipulação ou fraude expressa das atas eleitorais, modificando o total dos votos.

Evidentemente, forçar os eleitores a votarem em determinado candidato, seja por meio da coação, seja por meio da troca de favores, também enquadra-se como uma forma de fraude eleitoral.

Por que o nome “voto de cabresto”?

O termo “voto de cabresto” é utilizado porque se refere ao controle do eleitor que vota não de acordo com suas preferências e com seus interesses, mas de acordo com os interesses e com as preferências do coronel. É um voto guiado, controlado, assim como o cabresto é utilizado para controlar e para guiar um cavalo. O eleitor guiado pelo cabresto do coronel é levado para o curral eleitoral, isto é, a seção de votação.

Exercícios resolvidos sobre voto de cabresto

Questão 1

O voto de cabresto está ligado a toda uma série de arranjos políticos de sustentação das oligarquias no poder. Selecione a alternativa que apresenta outro arranjo político do período da Primeira República.

A) Parlamentarismo às avessas.

B) Poder Moderador.

C) Política dos governadores.

D) Escambo político.

E) Nenhuma das alternativas acima.

Resolução:

Alternativa C.

A política dos governadores foi um arranjo político do período da Primeira República, sendo, inclusive, um arranjo que reforçou consideravelmente o uso do voto de cabresto. Na política dos governadores, um acordo era realizado entre o governo federal e as oligarquias dominantes em cada estado para garantir que fossem eleitos os deputados aliados da presidência.

Questão 2

O coronelismo era fundamental para que o voto de cabresto fosse possível de acontecer. Quais outros conceitos estão relacionados com o coronelismo e são fundamentais para entender a política brasileira na Primeira República?

A) Positivismo e existencialismo.

B) Clientelismo e mandonismo.

C) Socialismo e anarquismo.

D) Fascismo e nazismo.

E) Iluminismo e feminismo.

Resolução:

Alternativa B.

O coronelismo, o mandonismo e clientelismo são conceitos muito importantes na história brasileira e que se relacionam diretamente com a Primeira República e com a organização social e política desse período. O coronelismo refere-se ao poder exercido pelos coronéis, o mandonismo refere-se ao poder de determinados grupos econômicos sobre o país, e o clientelismo refere-se às práticas de troca de favores comuns aos locais dominados pelos coronéis.

Fontes

CARVALHO, José Murilo de. Mandonismo, coronelismo, clientelismo: uma discussão conceitual. Disponível em: https://www.scielo.br/j/dados/a/bTjFzwWgV9cxV8YWnYtMvrz/.

FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 2013.

LESSA, Renato. A invenção republicana: Campos Sales, as bases e a decadência da Primeira República brasileira. Rio de Janeiro: Topbooks, 2015.

RESENDE, Maria Efigênia Lage de. O processo político na Primeira República e o liberalismo oligárquico. In.: FERREIRA, Jorge e DELGADO, Lucilia de Almeida Neves. Brasil republicano: o tempo do liberalismo oligárquico: da Proclamação da República à Revolução de 1930. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2018.

SCHWARCZ, Lilia Moritz; STARLING, Heloisa Murgel. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

Por Daniel Neves Silva

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