História

Guerra da Cisplatina

A Guerra da Cisplatina aconteceu entre o Brasil e as Províncias Unidas do Rio da Prata, atual Argentina. Esse foi o primeiro conflito do Brasil como nação independente e foi causado pela disputa entre as duas nações pelo controle da Cisplatina, província no extremo sul do Brasil. A guerra durou de 1825 a 1828 e teve duas grandes consequências para o Brasil: a perda do território da Cisplatina, que se tornou uma nação independente, e a perda de popularidade do imperador d. Pedro I.

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Antecedentes históricos

A Cisplatina, historicamente, foi uma região que motivou tensões e foi fortemente disputada, primeiro por portugueses e espanhóis e, depois, pelas nações que se tornaram independentes. A tensão a respeito dessa região remonta ao período colonial, quando Portugal oficializou a criação da Colônia de Sacramento, em 1680.

A existência de uma colônia portuguesa na região acendeu uma grande disputa entre portugueses e espanhóis. A solução encontrada foi redesenhar os limites territoriais das duas nações na América a partir de diversos tratados, como o Tratado de Madrid (1750) e o Tratado de Santo Ildefonso (1777).

A questão, no entanto, nunca foi resolvida de maneira plena e, no século XIX, a disputa pela região retornou com força. Em 1807, d. João (conhecido como d. João VI a partir de 1816) era o regente de Portugal e, no exercício da função, decidiu transferir a Corte portuguesa para o Brasil com o objetivo de fugir das tropas francesas que tinham invadido o território português.

Uma vez instalado aqui no Brasil, em 1808, o príncipe regente realizou profundas mudanças no Brasil, inclusive nas relações internacionais. Uma das medidas tomadas por d. João VI foi ordenar a invasão de Sacramento em represália ao fato de os espanhóis terem autorizado os franceses a cruzarem seu território para invadir Portugal. Caso queira saber mais sobre esse período, acesse nosso texto: Período Joanino.

  • Formação da Cisplatina

Após a decisão de d. João VI, foram realizadas duas invasões de tropas portuguesas na região, uma em 1811 e outra em 1816. A expedição de 1816 foi conduzida por Francisco Frederico Lecor, que, liderando 14 mil soldados, conquistou a região e anexou-a ao Reino de Portugal, Brasil e Algarves. Em 1817, estava oficializada a criação da Província Cisplatina. Em razão da presença de tropas portuguesas e da intervenção de Lecor, o clima de tensão aumentou consideravelmente.

Causas

Em abril de 1825, os 33 orientais declararam o fim do domínio brasileiro na Cisplatina, e esse acontecimento iniciou a Guerra da Cisplatina. [1]

A presença portuguesa na região foi mantida, mas o processo de independência gerou novas movimentações na região. Primeiramente, tropas leais a Portugal não aceitaram a declaração de independência. Foi preciso que elas fossem debeladas para que a região fosse garantida como uma província brasileira.

A Cisplatina, inclusive, chegou a eleger e mandar representantes para a Assembleia Constituinte que elaborou a primeira Constituição do Brasil em 1823 (rejeitada por D. Pedro I). A tensão existente entre Brasil e os habitantes da Cisplatina era permanente e agravada pela forma como os habitantes locais eram tratados pelas autoridades brasileiras.

O ápice da tensão ocorreu em abril 1825, quando Juan Antonio Lavalleja, liderando um grupo conhecido como 33 orientais, iniciou uma rebelião contra o domínio do Império do Brasil na Cisplatina. A ideia dos 33 orientais era, além de derrubar o poder brasileiro na região, anexar a Cisplatina às Províncias Unidas do Rio da Prata.

O início dessa rebelião foi o fator que deu início à Guerra da Cisplatina. Ao longo do restante de 1825, Lecor mostrou-se incapaz de combater a rebelião que se espalhava pelo interior da Cisplatina. Em 10 de dezembro de 1825, o imperador d. Pedro I acabou declarando guerra às Províncias Unidas, uma vez que os portenhos estavam apoiando o movimento rebelde na Cisplatina.

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Motivações

A Guerra da Cisplatina estendeu-se por três anos e, nesse período, os objetivos das nações envolvidas nessa luta eram os seguintes:

  • Brasil: o objetivo do Império era pôr fim à rebelião que acontecia na Cisplatina e recuperar o território rebelde.

  • Cisplatina: o objetivo de Lavalleja, na liderança dos 33 orientais, era anular o domínio brasileiro na região, para, em seguida, anexar-se às Províncias Unidas. Também existiam uruguaios que defendiam a independência da região.

  • Províncias Unidas: anexar a Cisplatina ao seu território.

Principais acontecimentos

A Guerra da Cisplatina, ao longo de seus três anos, foi um conflito extremamente impopular, principalmente por não ser identificada como uma causa legitimamente brasileira e por conta de seu impacto na economia do país. O desejo das elites nacionais, na década de 1820, era a manutenção da paz para garantir o desenvolvimento do país.

A guerra ficou marcada como um grande erro de d. Pedro I, que se envolveu em um conflito que não tinha condições de ganhar e que só prejudicou a economia do país, humilhou internacionalmente o Brasil e fez despencar a popularidade – já abalada – do imperador.

O imperador ordenou o fechamento dos portos na região platina e anunciou uma recompensa pela captura de Lavalleja e Frutuoso Rivera (outro líder militar dos uruguaios). Essas decisões só contribuíram para acirrar mais os ânimos. A falta de preparo para o conflito custou caro ao país, que foi derrotado em inúmeras batalhas, tais como a Batalha de Ituzaingó, em fevereiro de 1827.

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Fim da guerra

Após ser derrotado em Ituzaingó, o governo imperial aceitou negociar termos para o fim da guerra. Após muita negociação, ficou decidido na Convenção Preliminar de Paz que o Brasil aceitava abrir mão da Cisplatina e concordava com a derrota militar sofrida nesse conflito. A historiadora Isabel Lustosa fala que, ao longo dessa guerra, o Brasil gastou cerca de 30 milhões de dólares e cerca de 8 mil soldados morreram|1|.

Como parte desse acordo de paz, houve a independência da Cisplatina e, assim, em 27 de agosto de 1828, surgia a República Oriental do Uruguai. Esse acordo realizado entre brasileiros e argentinos contou com a mediação de representantes do Reino Unido e da França. A Guerra da Cisplatina só endividou o Brasil e abalou grandemente a popularidade de d. Pedro I.

Nota

|1| LUSTOSA, Isabel. D. Pedro I. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p. 277

Crédito da imagem:

[1] Commons

Por Daniel Neves Silva

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