Viajando nos sotaques e variações linguísticas do português brasileiro: Saiba um pouco mais sobre o Atlas Linguístico do Brasil.
Você já sabe o que é o ALIB? Não? Então fique por dentro da novidade que vai explicar para os brasileiros um fenômeno muito interessante, conhecido como variação linguística!
ALIB é a sigla para Atlas Linguístico do Brasil. Esse atlas foi desenvolvido por diversos linguistas brasileiros e tem como objetivo desvendar os diversos falares e sotaques de nosso povo, contemplando todo território nacional. Você já deve ter notado que, de acordo com a região do país, o sotaque muda, não é mesmo? Mas não é só o sotaque, conhecido como a melodia da fala, que muda. Algumas expressões também podem denunciar a origem de quem as fala, já que existem diferenças significativas na comunicação de estado para estado.
Somos todos falantes da língua portuguesa, mas quando o assunto é Brasil, um país tão grande e com tantas diferenças em sua colonização, seria impossível pensar em uma fala padronizada, na qual todos os brasileiros seguissem a mesma prosódia e o mesmo vocabulário. Enquanto em alguns lugares as pessoas referem-se a um interlocutor com um sonoro “tu”, em outros, o “você” é via de regra. Mas a diferença não é percebida apenas com as palavras: os fonemas, que são os sons das letras, também podem variar bastante. É o que a acontece com a consoante “R”: pesquisadores rodaram o Brasil e descobriram que existem pelo menos quatro “erres” soando diferentes por aí: existe o “R” retroflexo, encontrado na região Centro-Oeste, sul da Bahia, em algumas cidades de São Paulo e do Paraná; o “R” tepe, aquele que apresenta uma certa vibração, encontrado no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, na capital paulista e outras cidades desse estado; o “R” carioca, muito peculiar dos nascidos no estado do Rio de Janeiro, e o “R” gutural, que apresenta um som mais suave, encontrado em Belo Horizonte e nas capitais do Norte e do Nordeste.
Também foram encontradas diferenças de pronúncias de outros fonemas, como é o caso da consoante “S”. Você sabia que o “S” chiado foi encontrado em três capitais brasileiras? Segundo o mapeamento do Atlas Linguístico do Brasil, o maior número de pessoas falando o “S” chiado está no Rio de Janeiro. Em Belém, capital do Pará, esse “S” tão característico também foi encontrado, colocando os paraenses em segundo lugar na lista de quem mais chia a letrinha. Em terceiro lugar ficou Florianópolis, capital de Santa Catarina, onde os “manezinhos da ilha” também adoram puxar o som do “S”.
Mais do que fazer um mapeamento dos sotaques e diferenças fonéticas presentes nos diversos falares, o Atlas Linguístico do Brasil é muito importante porque tem uma função social e cultural: desmistificar a ideia de que determinado sotaque ou maneira de expressar-se é superior à outra. Somos muitos e, ao mesmo tempo, singulares, pois muitos fatores, entre eles históricos, contribuíram para a formação de nossa identidade cultural e linguística. Seria injusto afirmar que São Luís do Maranhão é o lugar em que a língua portuguesa é melhor falada, isso porque não podemos dizer que exista erro na fala. Os erros concentram-se, sobretudo, na escrita, pois na fala é impossível definir o que está correto, visto que somos seres históricos, imbuídos de muitas particularidades.
As variações linguísticas devem ser respeitadas e compreendidas. Só assim acabaremos com o mito de que em alguns estados o português é mais bem falado do que em outros. Somos múltiplos, e nossas diferenças, inclusive as linguísticas, são parte dos elementos que nos tornam um povo tão interessante!
Por Luana Castro
Graduada em Letras