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História

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Tancredo Neves

Tancredo Neves foi um político brasileiro que teve uma trajetória muito conhecida na segunda metade do século XX. Nascido em Minas Gerais, Tancredo Neves iniciou sua carreira profissional como advogado e envolveu-se com a política na década de 1930. A partir da Quarta República (1946-1964), Tancredo consolidou-se como uma das figuras centrais da política brasileira.

Participou dos governos de Getúlio Vargas e João Goulart e fez oposição aos militares durante a Ditadura Militar. Esteve diretamente envolvido com o movimento político de redemocratização do país e venceu o Colégio Militar que elegeu o primeiro civil como presidente desde a década de 1960. Problemas de saúde acabaram impedindo o político mineiro de tomar posse da presidência.

Leia mais: Governo Costa e Silva - segundo presidente militar durante a Ditadura

Primeiros anos de Tancredo Neves

Tancredo Neves foi um grande nome da política brasileira, trabalhando com Vargas, JK, Jango. Foi também um dos grandes nomes de redemocratização.[1]

Tancredo de Almeida Neves nasceu em São João del-Rei, tradicional cidade do interior de Minas Gerais, no dia 4 de março de 1910. Era filho de Francisco de Paulo Neves e de Antonina de Almeida Neves, sendo o quinto de doze filhos do casal. A condição financeira da família de Tancredo era boa, uma vez que seu pai era dono de um comércio e de algumas propriedades.

O pai de Tancredo faleceu em 1922, deixando o comércio e as propriedades para sua esposa e filhos. O negócio, no entanto, faliu depois que “Seu Chiquito” (apelido do pai de Tancredo) faleceu. Assim, a criação de Tancredo e seus irmãos foi realizada pelo esforço de sua mãe, carinhosamente chamada de Dona Sinhá.

Durante a fase escolar, Tancredo estudou em dois colégios: Grupo Escolar João dos Santos, entre 1917-1920, e no Colégio Santo Antônio, entre 1921-1927. Depois de concluído o ensino básico, Tancredo ingressou no curso de Engenharia, mas desistiu e fracassou em ingressar na Escola Naval e na Faculdade de Medicina.

Passou para Direito e mudou-se para Belo Horizonte para estudar. Para conseguir sobreviver, precisou trabalhar em empregos como escriturário, depois trabalhou na secretaria de Educação e trabalhou como jornalista.

Tancredo ingressa na política

Tancredo Neves afirmava que desde a sua juventude possuía certo interesse pela política e isso se manifestou quando ele se envolveu com a candidatura de Getúlio Vargas, na eleição de 1930. Depois que o político gaúcho perdeu, Tancredo engajou-se na Revolução de 1930. Dois anos depois, ele demonstrou publicamente seu apoio à Revolução Constitucionalista de 1932, chegando a ser preso por isso.

Em 1932, terminou seu curso e começou a atuar como advogado ao abrir um escritório de advocacia em sua cidade natal. Em 1933, por influência de Augusto Viegas, ingressou no Partido Progressista e, dois anos depois, em 1935, conseguiu ser eleito vereador pela cidade de São João del-Rei. Esse foi o primeiro cargo político ocupado por Tancredo.

Essa experiência política de Tancredo durou apenas dois anos, pois o golpe do Estado Novo realizado por Vargas em 1937, colocou fim no Legislativo no Brasil. Entre 1937 e 1946, Tancredo Neves dedicou-se à advocacia e só retornou para a política com a redemocratização do Brasil após a Segunda Guerra Mundial.

Leia também: Golpe preventivo de 1955 - a crise política que se instalou após a morte de Vargas

Tancredo como aliado de Vargas

A redemocratização do Brasil deu-se com a destituição de Vargas, em outubro de 1945, e a construção da primeira experiência democrática de nossa história. Com isso, Tancredo filiou-se a um dos partidos políticos mais tradicionais do período 1946-1964, o Partido Social Democrático (PSD). Elegeu-se a deputado estadual em 1947 com 5.226 votos.

Na política mineira, Tancredo Neves aproximou-se de Juscelino Kubitschek e participou da campanha dele na disputa pelo governo de Minas Gerais, em 1950. Nesse ano, foi eleito deputado federal com 11.515 votos. A aproximação de Tancredo com JK e a aliança entre PTB e PSD fez com que Tancredo se aproximasse de Getúlio Vargas.

No segundo governo de Getúlio Vargas (1951-1954), Tancredo foi nomeado para o Ministério da Justiça, após Vargas e JK estudarem nomes para o cargo. Era seu papel fortalecer a futura candidatura de JK para a presidência e barrar a onda golpista que crescia contra Vargas no Brasil, impulsionada pelo partido da oposição, a União Democrática Nacional (UDN).

No exercício da sua função, enfrentou uma das maiores crises políticas da história da república no Brasil. A tentativa de assassinato de Carlos Lacerda, maior adversário político de Vargas, resultou no assassinato do major Rubens Vaz. Tancredo Neves teve que atuar para comprovar a inocência de Vargas e de seu filho Lutero nesse caso.

O suicídio de Vargas foi um choque para todo o Brasil, inclusive para Tancredo. Depois desse acontecido, ele foi contra a gestão de Café Filho, o vice de Vargas, que aderiu ao golpismo. Seguiu apoiando os herdeiros políticos de Vargas e, em 1955, trabalhou ativamente na campanha que elegeu Juscelino Kubitschek como presidente do Brasil. Interesses políticos fizeram com que Tancredo não tivesse cargos no governo JK.

Na crise de sucessão da presidência, causada pela renúncia de Jânio Quadros, Tancredo Neves foi contra o golpismo que tentava impedir a posse garantida pela Constituição de 1946 ao vice, João Goulart (Jango). Tancredo foi um dos defensores da adoção do parlamentarismo como forma de arrefecer os ânimos e garantir a posse de Jango.

Pessoalmente, Tancredo havia acumulado cargos administrativos de 1955 a 1960. Em 1960, disputou e perdeu a eleição para governador do estado de Minas Gerais. Em 1961, foi nomeado o primeiro-ministro do Brasil, assumindo a função um dia depois da posse de Jango. Permaneceu no cargo cerca de dez meses e renunciou para disputar eleição para deputado federal, sendo eleito com 58.090 votos.

Tancredo na oposição

Tancredo Neves era um parlamentar durante toda a crise política que levou ao golpe que derrubou o presidente João Goulart. Durante toda a crise ele permaneceu apoiando o presidente, foi contra o golpe e não votou em Humberto Castello Branco, na eleição presidencial indireta de 1964. Tancredo não foi cassado pelos militares.

Fez parte de uma oposição moderada contra os militares e atuou durante boa parte da Ditadura no Movimento Democrático Brasileiro (MDB), o partido da oposição. Permaneceu como deputado federal até 1978, quando foi eleito para senador. Em 1982, elegeu-se para governador de Minas Gerais.

Leia mais: Constituição de 1988 – um dos marcos da redemocratização do Brasil

Redemocratização do Brasil

Com a década de 1980, o movimento de redemocratização ganhava força e Tancredo Neves estava entre os políticos brasileiros envolvidos. Era um político tradicional da oposição e, por isso, foi indicado para o Colégio Eleitoral de 1985. Nesse mesmo ano, nasceu a proposta pelas Diretas Já e Tancredo a apoiou publicamente.

Os historiadores, no entanto, sabem que politicamente Tancredo desejava que a eleição de 1985 acontecesse pela via indireta, pois suas chances de vitória eram muitos maiores. A derrota das Diretas Já definiu o cenário do Colégio Eleitoral de 1985: Paulo Maluf (PDS), era o candidato dos militares e Tancredo Neves (PMDB) era o partido da oposição.

Tancredo Neves conseguiu o apoio de muitos políticos do PDS, o sucessor do partido dos militares. Tancredo negociou diretamente a adesão desse grupo de dissidentes conhecidos como Frente Liberal e foi vitorioso. Sua chapa, que era formada com José Sarney como vice-presidente, foi eleita com 480 votos.

Falecimento de Tancredo Neves

Tancredo Neves em viagem à Itália, em janeiro de 1985, poucas semanas antes de seu falecimento.[1]

A eleição de Tancredo havia deixado o país todo em festa, afinal, 21 anos de Ditadura Militar chegariam ao fim com a posse do político mineiro. Sua posse estava marcada para 15 de março e Tancredo fazia todos os preparativos para a composição de seu governo. Um desastre, no entanto, aconteceu.

Tancredo Neves estava por semanas escondendo uma dor no abdômen. Ele recusava buscar tratamento médico, porque temia que os militares fossem utilizar isso para impedir a sua posse. Com o tempo as dores foram aumentando e Tancredo buscou atendimento privado. Médicos o examinaram e consultaram que ele tinha um quadro de infecção supostamente causado por uma apendicite.

Tancredo foi orientado a ser operado, mas só aceitou fazê-lo depois da posse. Um dia antes de assumir a presidência, dia 14 de março, Tancredo Neves passou mal e precisou ser levado ao Hospital de Base do Distrito Federal. Lá teve um atendimento precário, sem as devidas condições de assepsia e foi operado às pressas.

O historiador Jorge Ferreira chega a afirmar que cerca de trinta pessoas chegaram a entrar no quarto de Tancredo – algo impensável para os padrões médicos atuais para uma pessoa com quadro infeccioso grave|1|. Os informes realizados pelos familiares de Tancredo eram otimistas, mas os médicos sabiam que o quadro de Tancredo era grave.

Tancredo Neves passou por sete cirurgias e ficou internado em Brasília e em São Paulo. O quadro infeccioso dele só se agravou e alegou-se que a sua morte foi causada por complicações causadas pela infecção de um tumor benigno. Na época, os médicos afirmaram que a causa dos problemas de saúde de Tancredo era uma diverticulite, hipótese descartada anos depois.

Com a morte de Tancredo, o vice-presidente José Sarney, um antigo aliado dos militares, assumiu a presidência, governando o Brasil até 1990, ano em que a presidência foi passada para Fernando Collor de Mello.

Nota

|1| FERREIRA, Jorge. O presidente acidental: José Sarney e a transição democrática. In.: Brasil Republicano: da transição democrática à crise política de 2016. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2018, p. 37.

Crédito das imagens

[1] FGV/CPDOC

Por Daniel Neves Silva

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