A violência é um problema complexo originado a partir de causas sistêmicas, como a profunda desigualdade socioeconômica vigente, cuja solução depende da ação do poder público.
Violência é um fenômeno social complexo considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um problema de saúde pública. A violência é definida como todo ato intencional cometido contra si mesmo ou contra outro(s) indivíduos(s) através da força física ou da imposição de poder, o que gera consequências como problemas de saúde física e mental, prejuízos financeiros e perda da qualidade de vida. Em larga escala, a violência afeta até mesmo os índices de desenvolvimento de um território.
As causas da violência estão atreladas com questões sistêmicas, como as desigualdades socioeconômicas e a marginalização de uma parte da sociedade. Solucionar esse problema demanda a ação pública na implementação de melhorias na vida da população, como mediante a ampliação do acesso aos sistemas de educação e saúde, na garantia de moradia digna e na sua inserção no mercado de trabalho, além de assegurar maior equidade no sistema judiciário.
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Violência é um ato intencional cometido contra si próprio (autoinfligida) ou contra outro indivíduo, ou grupo de indivíduos, que pode envolver tanto a força física quanto a imposição de poder sobre alguém vulnerável. Os atos de violência física ou psicológica têm como resultado um conjunto de sequelas físicas e/ou psicológicas, além de danos econômicos, deficiências, problemas de desenvolvimento, privação de diferentes tipos e, em casos mais graves, causa a morte.
Essa definição é usada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para descrever a violência, que, além de uma questão de saúde pública, também é compreendida como um problema social que apresenta suas raízes na estrutura socioeconômica desigual do atual sistema econômico vigente.
A violência é um fenômeno multidimensional e, como tal, seu entendimento se torna bastante complexo. Para a melhor compreensão do que é e de como acontece esse fenômeno, a OMS classificou a violência em diferentes tipos de acordo com o principal fator causador.
A violência apresenta diversas facetas, o que a torna um problema de elevada complexidade. Nesse sentido, a sua origem pode ser compreendida a partir de um conjunto de fatores que são descritos como as causas da violência. A maioria desses fatores, entretanto, são estruturais (ou sistêmicos), que apresentam relação com a organização da sociedade e com o sistema econômico vigente. Nesse caso, os motivos por trás da violência podem não ser tão explícitos. Diante dessa análise, apontamos como as causas da violência:
As consequências da violência afetam principalmente as camadas mais vulneráveis da população, como as minorias sociais. Atos de violência refletem na vida cotidiana das vítimas e do seu grupo social, gerando complicações que podem se perpetuar por um longo período de tempo.
Considerando uma escala mais ampla de análise, a violência afeta a dinâmica socioespacial de cidades e interfere no desenvolvimento social e econômico de territórios, o que é expresso em indicadores como o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Inclusive, a diminuição da violência, ou a sua erradicação, é uma das metas do desenvolvimento sustentável estabelecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU), o que nos dá a dimensão dos impactos desse fenômeno.
Confira abaixo algumas das principais consequências da violência a nível pessoal:
Levando em consideração os reflexos da violência para um grupo social e para o território, suas consequências incluem:
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O fenômeno da violência é observado em todos os países, tanto em cidades grandes quanto cidades pequenas. Por ser tão diverso e apresentar múltiplas causas, a solução para esse problema demanda ações de médio e longo prazo que levem em consideração as particularidades sociais, econômicas e territoriais de cada localidade.
A partir de uma análise cuidadosa das causas da violência, é importante a adoção de medidas direcionadas que viabilizem uma melhoria na qualidade de vida da população. A ampliação do acesso à educação, à cultura, à infraestrutura urbana e ao sistema de saúde, projetos habitacionais e incentivos econômico para aumentar as ofertas de emprego são políticas que podem atuar sobre os índices de violência de uma cidade e de um país.
Pensando no setor educacional, a conscientização da população mais jovem juntamente com a oferta de oportunidades de trabalho e de ressocialização, no caso de pessoas que já foram presas por causa de delitos cometidos, é muito importante para reverter o quadro de violência que se agrava nessa faixa etária.
Lembremos, todavia, que o problema da violência tem raízes muito mais profundas que demandam ações em diversos setores da sociedade para que ele possa ser solucionado ou, ao menos, amenizado. São necessárias alterações profundas no sistema judiciário e na estrutura econômica para que mudanças efetivas sejam observadas, tendo em vista que a violência é, sobretudo, um fenômeno sistêmico.
A violência é um dos maiores problemas sociais do Brasil, e suas causas podem ser mapeadas ainda no século XVI, quando os colonizadores portugueses aportaram em terras brasileiras e impuseram a sua cultura (língua, religião) e o seu modo de vida aos indígenas, que são os povos nativos do país. No decorrer do tempo, além da violência referente ao apagamento de sua identidade cultural, confrontos diretos entre portugueses e indígenas ocasionaram um grande número de mortes, causando o declínio da população nativa do país.
Ainda durante o período colonial, milhões de africanos foram trazidos de maneira forçada de seus países para trabalharem como escravos nas lavouras, sofrendo todos os tipos de agressões e violações nesse processo. Com a abolição da escravatura no final do século XIX, os agora ex-escravizados passaram a enfrentar uma nova forma de violência, que era a exclusão social e a sua marginalização, visto que não havia nenhum plano estratégico para alocar essas pessoas em moradias adequadas e com fontes de renda que lhe proporcionasse uma vida de qualidade.
Os problemas como a violência e as desigualdades sociais e econômicas observados hoje no Brasil remontam a esse período, motivo pelo qual se diz que se tratam de problemas sistêmicos.
A respeito da violência, constatou-se recentemente a queda de mortes violentas no país. Entre 2022 e 2023, o declínio foi de 3,4%. Hoje o Brasil registra 22,8 mortes violentas para cada mil habitantes, segundo dados do Anuário de Segurança Pública. Como veremos adiante, os estados do Amapá, da Bahia e de Pernambuco são os que apresentam maior número desse tipo de ocorrência, superando em quase três vezes a média nacional. Distrito Federal, Santa Catarina e São Paulo são as unidades da federação com menor taxa de homicídios.
Enquanto os crimes praticados nas ruas têm diminuído, como roubo de celulares, veículos e cargas, o estelionato cresceu 8,2% entre 2022 e 2023.
A violência doméstica, sobretudo a violência contra a mulher, aumentou em 9,8%, com destaque para o feminicídio, que cresceu 0,8%. As principais vítimas desse crime são mulheres negras entre 18 e 44 anos. Ainda no tema, a violência contra crianças e adolescentes cresceu significativamente no mesmo período, sobretudo dentro de casa, em ambiente familiar.
Estados mais violentos do Brasil |
Amapá |
Bahia |
Pernambuco |
Alagoas |
Amazonas |
Ceará |
Pará |
Mato Grosso |
Rio Grande do Norte |
Sergipe |
Cidades mais violentas do Brasil |
|
Cidade |
Estado |
Santana |
Amapá |
Camaçari |
Bahia |
Jequié |
Bahia |
Sorriso |
Mato Grosso |
Simões Filho |
Bahia |
Feira de Santana |
Bahia |
Juazeiro |
Bahia |
Maranguape |
Ceará |
Macapá |
Amapá |
Eunápolis |
Bahia |
Países mais violentos do mundo de acordo com o Índice Global da Paz (2023) |
|
País |
Localização |
Afeganistão |
Oriente Médio (Ásia) |
Iêmen |
Oriente Médio (Ásia) |
Síria |
Oriente Médio (Ásia) |
Sudão do Sul |
África |
República Democrática do Congo |
África |
Rússia |
Europa / Ásia |
Ucrânia |
Europa |
Somália |
África |
Sudão |
África |
Iraque |
Oriente Médio (Ásia) |
Países mais violentos do mundo de acordo com a ONU (2022)* |
|
País |
Localização |
Jamaica |
América Central |
África do Sul |
África |
Trinidade e Tobago |
América Central |
Santa Lúcia |
América Central |
Honduras |
América Central |
Bahamas |
América Central |
Belize |
América Central |
Equador |
América do Sul |
México |
América do Norte |
Colômbia |
América do Sul |
*A tabela foi construída de acordo com a taxa de homicídio em cada país segundo dados da UNODC (Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime) para 2022. Os dados para 2023 não aparecem completos.
Fontes
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United Nations Office on Drugs and Crime (UNODC) – Data. Disponível em: https://dataunodc.un.org/.