El Niño e La Niña são mudanças na temperatura das águas do Oceano Pacífico em função de variações na intensidade dos ventos alísios que se encontram na Linha do Equador.
El Niño e La Niña são duas fases distintas de um mesmo fenômeno natural, que é o El Niño Oscilação Sul (ENOS). Ele se instala quando há alteração na intensidade dos ventos alísios sobre o Oceano Pacífico em sua região equatorial, promovendo mudanças na temperatura superficial das suas águas. Por causa disso, a circulação atmosférica é modificada por intervalos variáveis, afetando o tempo em diversas partes do mundo. Chuvas muito volumosas, secas severas e mudanças bruscas de temperatura são alguns dos efeitos do El Niño e La Niña, os quais atingem, inclusive, o Brasil.
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El Niño e La Niña são fases diferentes de um fenômeno atmosférico e oceânico chamado El Niño Oscilação Sul, ou ENOS. O ENOS é o resultado da dinâmica dos ventos que sopram tanto do Hemisfério Norte quanto do Hemisfério Sul e se encontram na região equatorial do planeta Terra, próximo da Linha do Equador, e da sua interação com as águas superficiais do Oceano Pacífico.
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El Niño |
La Niña |
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O El Niño é o aquecimento anormal das águas superficiais do Oceano Pacífico na região equatorial. Ele acontece quando os ventos que sopram no sentido leste-oeste, chamados ventos alísios, estão enfraquecidos. Era dezembro quando o El Niño foi observado pela primeira vez, próximo da costa do Peru. Depois, constatou-se que ele, de fato, se inicia no final do ano. Por causa da proximidade com o feriado de Natal, o fenômeno recebeu o nome de O Menino, em espanhol, em alusão ao Menino Jesus. |
O La Niña é o resfriamento anormal das águas superficiais do Oceano Pacífico na região equatorial. Ao contrário do El Niño, o La Niña acontece quando os ventos alísios sopram com maior intensidade do que de costume. Por se tratar de um fenômeno que tem características opostas ao El Niño, ele foi chamado de La Niña, que significa A Menina. |
O El Niño e o La Niña são ocasionados por mudanças na dinâmica dos ventos de uma célula de circulação atmosférica que fica posicionada sobre o Oceano Pacífico e é conhecida como Célula de Walker. Essas alterações são naturais e acontecem por causa da variação da temperatura na superfície oceânica, como vimos até aqui. O aumento ou a diminuição das temperaturas é observado de tempos em tempos de maneira alternada, variando em intervalos de três a sete anos. A seguir, vamos conhecer em detalhes as características das diferentes fases do ENOS.
O El Niño tem como principal característica o aumento anormal da temperatura das águas superficiais do Oceano Pacífico, que é resultado do enfraquecimento dos ventos alísios. Por causa disso, as águas mais quentes avançam sobre a costa oeste da América do Sul, causando a diminuição da parcela de água fria que tende a emergir nessa região (ressurgência).
Nota-se, com isso, aumento de temperatura entre 1,5 e 3 ºC em média. Em anos com El Niño mais fraco, a variação fica em torno de 0,5 ºC. No entanto, há ocasiões em que esse fenômeno se instala com maior força, causando acréscimo de até 4,5 ºC na temperatura das águas oceânicas.
O El Niño não é previsível. Isso significa que não sabemos quando ele acontecerá novamente. Somente é possível dizer que ele se inicia no final do ano, mais precisamente em dezembro, e tende a vir intercalado com o La Niña. A duração do El Niño também não é fixa, podendo permanecer ativo por até um ano e meio.
O La Niña, como oposto do El Niño, tem como principal característica o resfriamento anormal das águas do Oceano Pacífico em razão da maior intensidade dos ventos alísios. Isso faz com que as águas frias que ressurgem na costa da América do Sul avancem para áreas mais centrais do oceano, o que diminui a sua temperatura média de forma temporária.
A redução das temperaturas é variável, apesar de não ultrapassarem 4 ºC de diferença com relação à temperatura considerada normal (que fica entre 25 e 27,5 ºC no Pacífico).
A duração do La Niña pode ser de nove meses a um ano. Houve casos, no entanto, em que o fenômeno se prolongou por aproximadamente dois anos. Por isso, também podemos afirmar que o La Niña não é previsível. Ele se instala em intervalos muito amplos, que variam entre 2 e 7 anos, e comumente acontece na sequência de um El Niño.
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O El Niño e o La Niña alteram, de forma periódica e temporária, a circulação atmosférica em diversas regiões do planeta Terra, o que inclui o Brasil. Os efeitos desses fenômenos são previsíveis principalmente nas regiões Norte, Nordeste e Sul do país, que mantêm um padrão de chuvas e secas associados a cada uma das fases do ENOS. Nas demais regiões, as consequências variam de acordo com a intensidade do fenômeno e aspectos da circulação atmosférica local.
Em anos de El Niño, os estados das regiões Norte e Nordeste do Brasil experimentam períodos de precipitação abaixo da média comumente registrada ou, ainda, estiagem completa. Nos climas em que as secas acontecem naturalmente, elas podem ser intensificadas, como acontece na região do semiárido nordestino.
A região Sul, em contrapartida, recebe chuvas em excesso durante o El Niño. Aliás, as fortes chuvas que causaram enchentes sem precedentes no Rio Grande do Sul em 2024 foram resultantes da atuação do El Niño.
As regiões Sudeste e Centro-Oeste enfrentam condições imprevisíveis de mudança no tempo durante o El Niño. Entre 2023 e 2024, por exemplo, o El Niño causou forte estiagem nos estados de Minas Gerais, Mato Grosso, Espírito Santo e em parte de Goiás e Rio de Janeiro. São Paulo teve trechos com volumes baixos de chuva e outros trechos em que choveu mais do que o habitual.
Durante episódios de La Niña, as regiões Norte e Nordeste registram aumento da pluviosidade. Isso significa que as chuvas são mais volumosas nos estados dessa região. Até mesmo em épocas do ano que são normalmente chuvosas, como os meses de novembro a abril, nota-se intensificação das chuvas para o período, aumentando o risco de problemas no meio urbano como alagamentos, inundações e deslizamentos de terra.
A região Sul, ao contrário, passa por um intervalo de estiagem de chuvas, que pode ser marcado tanto pela redução do volume precipitado quanto pela ausência de precipitação. Nessa região acontece, ainda, a queda de temperaturas provocadas por frentes frias. Essas frentes, que são conhecidas por causarem chuvas, tendem a se deslocar rapidamente do Sul para o Sudeste, motivo pelo qual não chove no Sul durante o La Niña.
Os efeitos do La Niña no Sudeste e no Centro-Oeste não são previsíveis. Quando atingidos por frentes frias, estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais podem registrar chuvas intensas e volumosas.
O El Niño e o La Niña alteram as condições do tempo atmosférico em diferentes países e regiões do planeta Terra, e conhecê-las é importante para que possamos entender melhor as consequências de cada um deles. Muitas das transformações do El Niño e do La Niña são recorrentes e podem ser previstas, como as que descrevemos na tabela a seguir. Entretanto, existem áreas que, embora estejam sujeitas aos efeitos do ENOS, sofrem mudanças imprevisíveis e que não seguem um padrão.
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Efeitos do El Niño no mundo |
Efeitos do La Niña no mundo |
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Calor e tempo seco na América Central, no oeste da América do Sul e na Oceania |
Chuvas volumosas na América Central e na Oceania |
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Enfraquecimento das monções (ventos quentes e úmidos) e calor no sul e sudeste da Ásia |
Intensificação das monções no sul e sudeste da Ásia, causando chuvas volumosas |
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Calor e chuvas volumosas na América do Norte |
Frio no norte da América do Norte e calor nos países situados no sul dessa região |
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Chuvas volumosas nas ilhas do Oceano Pacífico |
Frio e tempo seco no oeste da América do Sul e nas ilhas do Oceano Pacífico |
Diante desses efeitos, a agricultura e a pesca são as duas atividades econômicas que mais sofrem com as flutuações causadas pelo El Niño e La Niña. Durante o El Niño, a diminuição da ressurgência prejudica os pescadores por causa da escassez de peixes na costa oeste da América do Sul.
As águas frias favorecem a redistribuição de nutrientes que estavam nas profundezas para camadas superficiais, atraindo peixes e frutos do mar. No entanto, como a ressurgência é menor durante o El Niño, essa dinâmica não acontece. Os pescados podem se tornar mais caros em mercados dessas regiões, já que a sua oferta diminui. Em anos de La Niña, em contrapartida, os pescadores que atuam naquela região são beneficiados e conseguem obter bons resultados em sua atividade.
No setor agrícola, as mudanças nos ciclos de chuvas podem ser positivas ou negativas. As secas causadas pelo El Niño ou pelo La Niña têm potencial para destruir plantações inteiras, o que afeta a disponibilidade de alimentos e matérias-primas e causam prejuízos econômicos aos agricultores e setores industriais que dependem diretamente da produção agrícola.
As chuvas, quando moderadas, ajudam no desenvolvimento das lavouras. No entanto, chuvas muito fortes e volumosas, como observadas no Sul do Brasil durante o El Niño, por exemplo, também destroem plantações, desestabilizam os solos e impactam negativamente o setor e as cadeias produtivas associadas a ele.
Mudanças bruscas na temperatura pioram a sensação térmica e o bem-estar da população. Além disso, chuvas severas ou secas prolongadas transformam a vida cotidiana das pessoas por meio de inundações, enchentes, deslizamentos de terra ou mesmo alterações no fornecimento de serviços básicos e essenciais, em especial energia elétrica.
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Questão 1
(Fapec) Os fenômenos atmosféricos El Niño e La Niña representam uma série de alterações no sistema formado pelos oceanos e pelo clima, envolvendo principalmente o Oceano Pacífico nas proximidades do oeste da América do Sul. Ambos produzem alterações no clima de todo o planeta. A principal diferença entre o El Niño e o La Niña é:
a) o El Niño promove secas em todos os continentes, e o La Niña é responsável pelo aumento das chuvas.
b) o El Niño surge do aquecimento das águas oceânicas, enquanto o La Niña surge de seu resfriamento anômalo.
c) o El Niño atua no hemisfério sul, ao passo em que o La Niña atua no hemisfério norte.
d) o El Niño provoca uma onda de umidade excessiva em todos os lugares, enquanto o La Niña é responsável pela seca extrema.
e) o El Niño é um fenômeno natural cíclico, e o La Niña é de responsabilidade das atividades humanas.
Resposta: Alternativa B. O El Niño e o La Niña são fases distintas de um mesmo fenômeno: enquanto o primeiro aquece as águas oceânicas, o segundo é caracterizado pelo seu resfriamento anormal.
Questão 2
(Uenp) Sobre os fenômenos El Niño e La Niña, considere as afirmativas a seguir.
I. São fenômenos atmosféricos que afetam os regimes de chuva em regiões tropicais e de latitudes médias.
II. El Niño é um fenômeno atmosférico-oceânico caracterizado por um aquecimento anômalo das águas superficiais no oceano Pacífico Tropical.
III. La Niña caracteriza-se por um esfriamento anormal nas águas superficiais do oceano Pacífico Tropical.
IV. São eventos climáticos associados a fatores endógenos do planeta e à reflexão e absorção dos raios solares pela atmosfera.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.
Resposta: Alternativa D. Todas as afirmativas são corretas, exceto a afirmativa número IV. Os eventos do El Niño e do La Niña não estão associados com nenhum dos fatores internos do planeta Terra (endógenos), mas, sim, com os fatores exógenos, ou externos, que são os ventos alísios.
Créditos da imagem
[1] Tarcisio Schnaider | Shutterstock
Fontes
CPTEC/INPE. ENOS: El Niño. Disponível em: http://enos.cptec.inpe.br/elnino/pt.
NOAA. El Niño & La Niña (El Niño-Southern Oscillation). Disponível em: https://www.climate.gov/enso.
WMO. El Niño / La Niña. World Meteorological Organization (WMO), [s.d.]. Disponível em: https://wmo.int/topics/el-nino-la-nina.