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A Carta de Pero Vaz de Caminha é um texto literário?

Literatura Brasileira: Saiba por que a Carta de Pero Vaz de Caminha é considerada o primeiro texto literário do Brasil.

A Carta de Caminha pode ser considerada Literatura porque apresenta importantes elementos literários: ela não é apenas um simples relato de viagem

Você sabia que o Brasil também tem uma certidão de nascimento?

Pois bem, nosso país possui um documento histórico chamado “Carta de Pero Vaz de Caminha”. Esse documento não é só o primeiro documento da História Brasileira, ele também é considerado o primeiro texto literário do Brasil. A carta foi redigida pelo escrivão Pero Vaz de Caminha em forma de diário, com o propósito de contar ao rei D. Manuel as primeiras impressões dos portugueses recém-chegados sobre a terra descoberta e seus habitantes.

A Carta de Caminha só pode ser considerada um texto com valor literário porque Pero Vaz de Caminha não era um simples escrivão: Caminha era um “escritor-escrivão”, pois ele não se limitava a apenas registrar e contabilizar os fatos da viagem. Há passagens nas quais podemos notar o uso da forma literária, caracterizada por uma linguagem permeada por metáforas que desconstroem o real significado das palavras. Analisando alguns trechos da Carta, podemos comprovar que ela vai além de um simples registro burocrático dos fatos:

(...) Esta terra, Senhor, parece-me que, da ponta que mais contra o sul vimos, até à outra ponta que contra o norte vem, de que nós deste porto houvemos vista, será tamanha que haverá nela bem vinte ou vinte e cinco léguas de costa. Traz ao longo do mar em algumas partes grandes barreiras, umas vermelhas, e outras brancas; e a terra de cima toda chã e muito cheia de grandes arvoredos. De ponta a ponta é toda praia... muito chã e muito formosa. Pelo sertão nos pareceu, vista do mar, muito grande; porque a estender olhos, não podíamos ver senão terra e arvoredos -- terra que nos parecia muito extensa. 

Até agora não pudemos saber se há ouro ou prata nela, ou outra coisa de metal, ou ferro; nem lha vimos. Contudo a terra em si é de muito bons ares frescos e temperados como os de Entre-Douro-e-Minho, porque neste tempo d'agora assim os achávamos como os de lá. Águas são muitas; infinitas. Em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem! 

Contudo, o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar. E que não houvesse mais do que ter Vossa Alteza aqui esta pousada para essa navegação de Calicute bastava. Quanto mais, disposição para se nela cumprir e fazer o que Vossa Alteza tanto deseja, a saber, acrescentamento da nossa fé!  (...)”.

(Fragmento da Carta de Pero Vaz de Caminha)


A Carta de Pero Vaz de Caminha, escrivão do rei de Portugal, é considerada a certidão de nascimento do Brasil

A Carta, que também faz parte da Literatura Portuguesa, possui um considerável valor literário, isso porque Caminha, ao longo de seu texto, abandonou as formalidades, como os pronomes de tratamento e também a referência direta ao rei. Podemos observar que ele também dirigiu-se ao leitor mais geral, preocupando-se em descrever com detalhes a nova terra e seus nativos. Além da simples descrição objetiva, é possível notar momentos de subjetividade, provavelmente um resultado da emoção de quem vê algo novo pela primeira vez. A Carta de Caminha é considerada o relato mais confiável sobre a chegada dos portugueses no Brasil. É um diário diferente dos diários de viagem habituais, pois apresenta elementos de uma crônica e características estilísticas da Literatura de viagem do Quinhentismo, nome dado às manifestações literárias ocorridas no Brasil durante o século XVI.


Por Luana Castro
Graduada em Letras

Por Cláudio Fernandes

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