Entenda a importância das corporações de ofício na Europa medieval e de que forma elas estavam associadas à religião católica.
Com o advento do Renascimento Comercial e Urbano na Baixa Idade Média, os centros urbanos, naquela época denominados de “burgos”, começaram a ter um destaque maior, sobretudo por causa da eferverscência econômica. Entre os séculos XI e XV, o processo gradual de migração das zonas rurais para as cidades acabou proporcionando uma mudança também na concepção de trabalho dos medievais. A posição das corporações de ofício teve total participação nessa mudança.
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Antes, as atividades do homem medieval estavam ligadas a uma concepção trinitária: os oradores, pessoas destinadas ao clero, à vida monástica e à vida religiosa de forma geral; os guerreiros, que formavam a aristocracia de combatentes em defesa do cristianismo; e os lavradores, que tinham a função de produzir os alimentos nas terras agricultáveis, nos feudos. O florescer dos burgos desgastou essa concepção antiga, bem como destruiu aos poucos a velha ordem feudal.
Nas cidades, profissões como as de artesão, ferreiro, carpinteiro, pedreiro, moleiro e outras tantas passavam a ser praticadas por associações de homens interessados também na vida religiosa. A maior parte desses homens engajava-se na construção de obras religiosas, como as grandes catedrais góticas, que eram encaradas como “casas do povo”, pertencentes à toda a população cristã.
Esses profissionais passaram a se organizar em sociedades, que tinham por objetivo guardar e transmitir o saber profissional, mas que também continha premissas religiosas. Essas sociedades eram corporações profissionais, isto é, corporações que agremiavam os praticantes de um determinado ofício.
As corporações de ofício tiveram um peso muito grande na valorização das novas formas de trabalho, identificadas como o modo de vida nas cidades. Essa valorização dos ofícios foi incorporada pela Igreja Católica, que viu no exercício do ofício uma possibilidade de se exercer virtudes necessárias aos fiéis.
Os artesãos e demais profissionais urbanos prefiguraram o valor burguês do trabalho, que foi amplamente desenvolvido na modernidade, começando nos mesmos centros urbanos em que tiveram origem as corporações de ofício, isto é, nas cidades abertas ao fluxo comercial do mediterrâneo e dos mares do norte: Veneza, Gênova, Amsterdã, entre outras.