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Cícero e a história como mestra da vida

Que tal conhecer um pouco sobre o orador romano Cícero e a história como mestra da vida, isto é, como um saber que poder instruir a vida prática?

Estátua de Marco Túlio Cícero (106 a.C. - 43 a.C.), orador, político e pretor romano Estátua de Marco Túlio Cícero (106 a.C. - 43 a.C.), orador, político e pretor romano

Você já deve ter ouvido falar que o ser humano aprende com a experiência ou que as rugas de um homem ou de uma mulher ou ainda os seus cabelos brancos denunciam uma singular sabedoria. Pois bem, essas frases exprimem a ideia de que o passado pode nos ensinar a agir de forma mais prudente; de que os exemplos de experiências passadas, sejam nossas próprias experiências ou as de pessoas ilustres ou próximas a nós, podem nos fazer traçar um caminho que evite sofrimentos e desgastes desnecessários.

Essa ideia não é nova. Pelo contrário, ela estava mais presente no mundo antigo do que no mundo moderno, no qual estamos inseridos. Um pensador que se dedicou a refletir sobre isso foi Marco Túlio Cícero, orador e político da antiga Roma. Cícero identificava uma relação íntima entre a ação virtuosa, isto é, uma ação guiada pela ponderação e reflexão, e os exemplos do passado. Desse modo, para Cícero, a história – que cuidava de gerir a memória dos acontecimentos passados – poderia ser considerada a “mestra da vida”, isto é, por meio dos exemplos do passado, a história ensina aos homens do presente a agirem de forma melhor e com mais prudência.

Vê-se que Cícero possuía uma intuição moral da história. A história, na época da Roma antiga, ainda não era considerada uma disciplina com artefatos metodológicos e aspiração científica, tal como era no século XIX. A história no mundo antigo desempenhava uma função de exemplaridade e de preservação dos grandes feitos da humanidade. A história, em Cícero, estava associada também à tradição da retórica, da arte do bem falar, de convencer e de argumentar. As técnicas da retórica serviam à história, no sentido de a auxiliarem em seu papel de instrução moral e de exemplaridade.

A raiz dessa perspectiva sobre a retórica pode ser buscada em Aristóteles, que, em suas obras, sobretudo na Ética a Nicômaco e na Retórica, deus as bases reflexivas sobre a relação entre retórica e ética ou entre técnica de argumentação e virtudes. Aristóteles, por sua vez, recorreu à tradição da tragédia grega para fundamentar suas reflexões. Desse modo, a função moral da história, defendida por Cícero, precisava estar assentada nas bases de uma boa exposição, isto é, em formas de expressão dessas funções. O historiador Felipe Charbel Teixeira deixou isso claro no trecho apresentado abaixo:

“Cícero, no De Oratore (55 a. C.), alude a utilidade do relato histórico em sentença memorável e exaustivamente repetida até os nossos dias: "a história é testemunha dos séculos, luz da verdade, vida da memória, mestra da vida, mensageira do passado". Menor atenção, porém, foi dedicada pela posteridade à pergunta que fecha a ilustre passagem: "que voz, se não a do orador, pode torná-la imortal?" (TEIXEIRA, Felipe Charbel. Uma construção de fatos e palavras: Cícero e a concepção retórica da história. Varia hist., Belo Horizonte , v. 24,n. 40, Dec. 2008. pp. 557-558).


Por Me. Cláudio Fernandes

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