Leia este artigo e saiba mais a respeito da paródia, um texto criado a partir de outro texto com o objetivo de provocar a reflexão no leitor.
A paródia consiste na recriação de um texto conservando a ideia central do hipertexto (texto de referência), mas atribuindo a ele efeitos mais sarcásticos, humorísticos e críticos. Podemos dizer que a paródia é um exercício de intertextualidade cujo objetivo é levar o leitor a fazer uma reflexão crítica a respeito do que acontece na sociedade.
De modo irreverente, a paródia contribui para a formação de leitores/sujeitos mais reflexivos e politizados. É possível observarmos de que maneira isso ocorre a partir, por exemplo, da Paródia do poema “Canção do Exílio” (do poeta romântico Gonçalves Dias) escrita pelo apresentador de programa televisivo de entrevistas, Jô Soares, e intitulada “Canção do Exílio às avessas”.
A partir da leitura do poema de Gonçalves Dias e da paródia de Jô Soares, é possível observar que tanto Gonçalves Dias quanto Jô Soares procuraram apresentar o seu ponto de vista e deixar as suas impressões da realidade, dos acontecimentos de suas épocas, dos seus dias, do contexto político, social, cultural e filosófico.
Leia o Poema e a Paródia:
Canção do Exílio Minha terra tem palmeiras, Nosso céu tem mais estrelas, Em cismar, sozinho, à noite, Minha terra tem primores, Não permita Deus que eu morra, |
Canção do Exílio às avessas Minha Dinda tem cascatas [..] O meu céu tem mais estrelas [...] Minha Dinda tem piscina, [...] Minha Dinda tem primores [...] Finalmente, aqui na Dinda, |
O poema de Gonçalves Dias reflete a respeito da saudade que sente de sua terra natal, destacando suas características ambientais, naturais, e revelando seu desejo de retornar a ela. Nesse poema, Gonçalves Dias, que se encontrava em Coimbra, Portugal, cursando a Faculdade de Direito, reflete sobre as belezas de sua terra, no momento da recém-adquirida independência do Brasil em relação a Portugal.
A Paródia de Jô Soares, entretanto, faz exatamente o contrário: por meio da ironia (figura de pensamento bastante recorrente em paródias), o eu lírico enaltece a região em que se encontra no presente e não deseja retornar à sua terra natal, Maceió. Jô Soares transforma a poesia de Gonçalves Dias em uma paródia na qual denuncia os escândalos políticos do ex-presidente da República, Fernando Collor de Melo, entre os anos de 1990 a 1992, o qual sofreu um processo de impeachment.
Como você pôde observar, de modo crítico e bem-humorado, a paródia de Jô Soares reflete sobre os confortos, regalias e modernidades desfrutados devido ao cargo que Collor ocupava e sobre o horror que o eu lírico (Collor) sentia sobre voltar à sua terra natal.
Por Ma. Luciana Kuchenbecker Araújo